Argumentos e hormonas
Seja ou não o vencedor das próximas eleições gregas, Alexis Tsipras, o líder da coligação Syriza, já ajudou a mudar o enfoque sobre a crise europeia. Ao contrário do PASOK e da Nova Democracia, que permanecem reféns da leitura moralista sobre a origem da crise europeia - a única que justifica uma impiedosa austeridade sobre povos inteiros -, Tsipras tem chamado a atenção para três aspetos essenciais: a) esta crise tem responsabilidades partilhadas, que derivam do mau desenho inicial da União Económica e Monetária;
b) O "risco moral" tanto pode ser atribuído aos países que acumularam dívida, como aos que impuseram "programas de ajustamento", que agravaram os problemas que pretendiam solucionar;
c) Os custos da saída da Grécia da Zona Euro serão sistémicos. Pavorosos para o povo grego, mas dolorosos para a Zona Euro no seu conjunto, em particular para os países periféricos. O interlocutor de Tsipras é Merkel. À sua maneira, o político grego tenta fazer compreender à chanceler alemã que também Berlim tem mais a ganhar do que a perder com uma reestruturação temporal da dívida grega e da dos outros países intervencionados.
Atenas fora do euro seria a prova definitiva da mortalidade irreversível do projeto europeu, condenando a Alemanha à tradicional insegurança estratégica do "país do meio". O único risco da postura de Tsipras, é a de apostar tudo na existência de uma superioridade da racionalidade argumentativa do lado alemão. Contudo, ao ler e escutar pessoas como o presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, parece-me existir mais arrogância da vontade do que lógica e capacidade silogística. Tsipras pede aos alemães que façam contas, mas talvez ele não esteja a incluir a testosterona como fator irracional decisivo nos sucessos e catástrofes políticas.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
15/06/12
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