Afirma Lagarde
A presidente do FMI, Christine Lagarde, numa entrevista ao Guardian, afirmou que, no que respeita à Grécia, pensa nas pessoas que estão constantemente a tentar fugir aos impostos.
Segundo Lagarde, as crianças gregas não têm os problemas graves que têm as crianças na África Subsaariana, e é fácil perceber porquê. Na Grécia, apesar de tudo o que é mau e péssimo, há saídas. O que Lagarde diz é que a Grécia tem soluções ao seu alcance que os países mais pobres do mundo não têm. Lembremos que a presidente do FMI não é eleita pelo povo e que as suas declarações valem o que valem. Lagarde disse a verdade. Vivi três anos em Atenas e sou fã da Grécia caótica.
Como o amor a sério não vive de mentiras, tenho a dizer que nunca vi uma factura. Claro que há gregos que pagam impostos, mas não são nem foram durante anos a maioria. Se acrescentarmos a realidade da evasão fiscal quotidiana à corrupção nas classes dirigentes e aos gastos absurdos do Estado, percebemos o que se passa na pátria de Platão. Ou será Camilo?
Por si
No fim-de-semana passado, em mais uma campanha de recolha de alimentos levada a cabo pelo Banco Alimentar contra a Fome, várias pessoas solidárias nos supermercados foram entrevistadas a respeito dos motivos que as levavam a contribuir para esta nobre causa. Muitas responderam que hoje estavam a dar comida e outros bens essenciais porque amanhã podiam ser elas a precisar de ajuda. A exortação «não faças aos outros aquilo que não gostas que te façam a ti» parece deste modo adaptada de uma forma positiva, mas que me causa desconforto. O que me incomoda neste modo de pensar é o medo do futuro que aí vemos manifestado. O medo nunca foi bom conselheiro, porque ao contrário de ajudar à prudência, intimida e fragiliza as pessoas. A solidariedade é importante, diria mesmo que essencial nos nossos tempos. Não há nenhum país evoluído que viva sem ela. Mas ninguém quer viver da bondade alheia. Se tivesse sido entrevistada naquele dia, diria que sou solidária sem mais explicações. Só porque sim.
Deus não dorme
O caso é um clássico da infidelidade amorosa, mas só há pouco foi objecto de estudo na Universidade de Florença: os homens infiéis no casamento têm uma disposição maior para sofrer um ataque cardíaco do que aqueles que se mantêm fiéis e sossegados. Li o artigo no Telegraph que anunciava os resultados do estudo, mas não estou bem certa da veracidade das causas. Sentimentos de culpa e a preocupação de a mulher não descobrir o caso extraconjugal foram os principais motivos apontados para o sobressalto cardiovascular e a subida repentina da tensão arterial. Fiquei a pensar no que levaria ao ponto da insuficiência cardíaca. Imaginemos uma realidade conjugal muitíssimo chata e silenciosa, daquelas que leva à desistência do prazer e da diversão. Um dia aparece uma rapariga divertida e o rapaz fica encantado. A novidade é tão excitante que o coração pede mais oxigénio para acompanhar o ritmo. É nessa altura que acontece o previsível ataque cardíaco. Moral da história: não deixe de se divertir com a sua mulher.
Terá sido o mordomo?
Com a detenção de Paolo Gabriele, o mordomo do Papa Bento XVI, o Vaticano recupera o estilo de intriga na corte e até de novela policial à maneira de Umberto Eco. O detective não é Sean Connery, mas o cardeal Julián Herranz, que descobriu a garganta funda, mas ainda não esclareceu a trama urdida pelos intriguistas. Gabriele será um ganancioso? Um guerreiro solitário que combate a corrupção no papado? Ou um mero instrumento das forças ocultas que lutam pelo lugar de Ratzinger? Enquanto se espera que Gabriele denuncie os cúmplices ou aqueles que lucraram com esta falta de lealdade, vamos observando pequenas pistas. Para mim, a mais estimulante foi a declaração do confessor do mordomo que, com uma indiscrição inesperada, afirmou não acreditar que Paolo Gabriele fosse capaz de cometer tal traição. Talvez o padre tenha aberto a porta para desvendar o caso. Perguntem aos confessores dessa legião de bispos que opinião têm dos seus confessados. Aquele que nada disser sabe de certeza quem é o culpado.
Lisboa no NYT
O crítico gastronómico do The New York Times escreveu um artigo comovente sobre Lisboa e aconselhou quatro restaurantes, dois deles da responsabilidade do chef José Avillez. A paixão começou há dois anos, quando numa paragem de 24 horas na cidade Frank Bruni se apaixonou pelo castelo, o azul do Tejo, o encarnado dos telhados, os azulejos de cores e as calçadas de pedra azul e branca. No seu mais recente regresso, em Abril, o crítico consolidou o amor por Lisboa e andou pela cidade como um autóctone. Não é por uma pessoa ser turista numa cidade que não conhece bem que é incapaz de compreender a vida que ali se respira. E Bruni percebeu bem a mistura de melancolia dos mais velhos com a criatividade do sangue novo, que sobrevive graças às suas ideias e à sua capacidade de as concretizar em pequenos negócios. Fala do futuro com uma esperança que nos escapa, de tal modo estamos invadidos por sentimentos negativos. O crítico do NYT recomenda uma visita a Lisboa. A recomendação é bem-vinda.
IN "SOL
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08/06/12
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