29/05/2012

ALMORRÓIDA MATA-HARI



Caso dos espiões 
Como Silva Carvalho dominava os serviços

Por António José Vilela 

 No Verão do ano passado, o Governo mandou inspeccionar os serviços secretos, mas a audição de Jorge Silva Carvalho decorreu de forma bastante peculiar: o seu amigo e auditor principal, José Luciano Amaral, que fora nomeado recentemente director adjunto do SIS, ouviu-o a sós, não gravou o testemunho ou sequer foi feito um auto de declarações formal. 
SAPATO ESPIÃO

A revelação foi feita pelo próprio Luciano Amaral nas declarações que prestou no inquérito judicial, onde disse também que se limitara a escrever notas à mão num encontro que decorreu nas proximidades da residência de Lisboa de Jorge Silva Carvalho. José Luciano Amaral fez questão de frisar aos investigadores da PJ e do MP que “não era amigo de casa” de Jorge Silva Carvalho, mas no processo estão três mensagens, enviadas ao director do SIED, que revelam uma grande proximidade entre os dois. 

Numa delas, quando Luciano está prestes a tomar pose como director adjunto do SIS em Abril de 2001, é usado até vocabulário maçónico. Mas as duas mensagens mais relevantes são seguramente as que Luciano Amaral enviou no próprio dia da audição parlamentar de Silva Carvalho, a 7 de Setembro de 2011. A primeira seguiu às 6h 44m e 20, com o auditor da inspecção a desejar-lhe sorte e a revelar-lhe não ter dúvidas de que Silva Carvalho irá portar-se com dignidade.

 Na mensagem, o auditor das secretas invoca ainda a defesa da Pátria e a prevalência da verdade. Depois, já ao final da tarde, às 19h 26, volta à carga e recomenda paciência a Jorge Silva Carvalho e aconselha-o a não tomar nenhuma atitude sem antes os dois falarem com alguém que Luciano Amaral apenas identifica com uma alcunha. 

As mensagens que a PJ apreendeu nos telemóveis e computadores de Jorge Silva Carvalho revelam que o ex-espião conseguiu rodear-se de operacionais dos serviços secretos que tinham por ele uma verdadeira adoração. Alguns, como João Alfaro, que estava também na Ongoing, ou J.L, o chefe das Operações do SIED, ou ainda Paulo Félix, um ex-SIS e PJ contratado pelo grupo de Nuno Vasconcellos, chegaram a jurar-lhe fidelidade. Mesmo o seu ex-número dois no Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), João Bicho, que foi demitido após conhecer-se a acusação do MP, prenunciou-lhe um lugar na História se conseguisse concretizar a fusão do SIS e do SIED num único serviço. 
Durante a auditoria que corria nos serviços para investigar as vigilâncias ilegais e a ligação à empresa Ongoing, J.L disse a Jorge Silva Carvalho, a 20 de Julho de 2011, que as perguntas que estavam a ser feitas pelos auditores não o incluíam ou sequer à empresa – segundo lhe terá dito, a averiguação centrava-se genericamente nas ligações dos espiões com empresas, grupos de media e jornalistas. 

Na opinião dos investigadores do Ministério Público (MP), os sms apreendidos no processo revelam que seriam estes (ex) espiões que forneciam informação interna dos serviços secretos a Silva Carvalho, mesmo depois de ter sido contratado, em Novembro de 2011, pelo grupo Ongoing – João Bicho chegou até a enviar-lhe pessoalmente, e através de e-mail, notícias escolhidas pelo Serviço de Prevenção do SIED e cujas fontes eram os órgãos de comunicação social nacionais e internacionais. 
NUNO VASCONCELOS

Uma informação que o ex-espião remetia directamente, por exemplo, para Nuno Vasconcellos e outros administradores do grupo Ongoing. As mensagens que estão no processo, e que legalmente não podem ser transcritas de forma literal pela SÁBADO, revelam igualmente que é aos amigos espiões que Jorge Carvalho terá recorrido quando estavam a decorrer as auditorias aos serviços secretos. 

A 2 de Agosto, o ex-director do SIED enviou uma mensagem a F.R (na sequência da acusação do MP deixou também o cargo de director de Segurança do SIS e do SIED) a pedir-lhe ajuda. Cinco minutos depois, F.R. (Irmão de Silva Carvalho na loja Mozart) diz-lhe que pode contar com ele. O processo crime confirma ainda que havia relações muito próximas entre Jorge Silva Carvalho e outro elemento das secretas destacado para as auditorias internas ordenadas no ano passado pelo secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), Júlio Pereira. Em causa está a espia F.T, que “secretariou” o trabalho numa das auditorias e foi “inquiridora” em outra. 

No testemunho que prestou no inquérito judicial, a espia negou que a “empatia” que tinha com Jorge Silva Carvalho – fora também promovida no SIED e mais tarde indicada a Miguel Relvas para ser a número dois dos serviços que actuam no estrangeiro – lhe tivesse afectado o trabalho.


IN "SÁBADO"
25/05/12

NR: Absolutamente tenebroso, felizmente existem jornalistas temerários.

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