25/03/2012

SANDRA CARDOSO



Pais

Este artigo vem com uns dias de atraso; ou talvez não. Li muita coisa ternurenta sobre os pais deste Mundo esta semana. Mensagens de amor, de saudade, de gratidão aos progenitores no âmbito da comemoração do Dia do Pai.Umas verdadeiramente enternecedoras; outras claramente para marcar o ponto na agenda das redes sociais.

Mas a que fixei e a que mexeu mais comigo foi a de uma professora do ensino básico no seu blogue pessoal*, que defendia que “faz cada vez menos sentido comemorar o Dia do Pai nas escolas”. E dava uma explicação crua, mas bastante racional: “É que acaba por ser um dia triste para a maior parte das crianças”. E porquê?. “Uns porque não conhecem o pai, outros porque não o vêem há não sei quanto tempo; outros que não sabem quando vão estar com ele e ainda outros porque o pais arranjou nova família, novos filhos e já não têm tempo para os filhos do primeiro casamento”, explicou.

A sociedade mudou, é certo. O modelo de família que todos conhecíamos como normal é hoje uma raridade, todos sabemos. Há muitas famílias monoparentais, há famílias que se separaram e renascem outras, entretanto. Há guardas partilhadas, fins-de-semana divididos, processos de divórcios complicados, separações por mútuo acordo. Há amores que acabam e vidas que recomeçam.

Mas há uma coisa que nunca se interrompe. Um pai não se pode, ou não deveria poder, se demitir da única profissão que é para a vida. A maternidade e a paternidade não são coisas que façam pausa para férias, folgas ou por cansaço. Um filho nunca substitui o outro. E não deveria haver filhos de primeira (os de segundos casamentos) e de segunda (os de primeiros casamentos). Parece-me contra-natura esta ideia.

Na mesma semana, outra amiga professora deixava um alerta na sua página do Facebook: "A ver se nos etendemos: os pais educam, os professores ensinam".

O desabafo fez-me pensar que há cada vez mais pais (e mães) que acham que isto de ter filhos dá muito trabalho. Mas é de uma irresponsabilidade deixar para terceiros [que não substituem] uma função que é a mais gratificante de todas. As pessoas têm todo o direito de prosseguir, de mudar de vida; mas não têm o direito de tornar infeliz o Dia do Pai para uma criança.

Mas infelizmente também existem Pais (e mães) de primeira, segunda e outros sem categoria nenhuma.



IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
23/03/12

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