14/02/2012

ASSUNÇÃO CABRAL



Os perdigotos do chefe


O que posso fazer com um chefe que fala sempre demasiado em cima de mim, cuspindo milhões de perdigotos? - Sandra Pereira da Silva.

O ideal seria o seu chefe ler este género de crónicas. Mas vou sugerir-lhe outros truques para superar esse autêntico drama profissional.

Haveria sempre a solução de adverti-lo para não cuspir ou não perdigotar. Suponho que não vai resultar, por duas razões: primeiro, pelo que percebo, a leitora não tem ‘lata’ para o advertir; depois, porque, tratando-se de um tique enraizado, não passa assim às boas.

A si, leitora, só me resta aconselhar a desviar-se da proximidade do chefe – apesar de saber, por casos semelhantes, que quanto mais nos afastamos de um perdigoteiro, mais ele se aproxima, chegando ao ponto de nos agarrar! Mas marque quanto possível o seu terreno. Pode usar algum jogo de ombros, ou a defesa da cara por detrás do braço em cotovelo – o que, feito de forma enfática, sensibilizá-lo-á para a inconveniência.

Outra hipótese – mais ou menos amável, mais ou menos crítica – seria a leitora dar de presente ao seu chefe o Dicionário de Bons Costumes das princesas Alessandra Borghese e Gloria von Thurn und Taxis (ed. Estampa), marcado na pág. 93, na letra F (de ‘falar’), onde se especifica que as pessoas não devem falar com os outros «muito próximo, ou respirar-lhes em cima da cara». A elegância mínima, a falar, exige que não se atirem perdigotos para cima do interlocutor, nem se cuspa no chão. Claro que o que apetecia mesmo era devolver os ditos perdigotos. Mas seria deselegante e geraria um caos no trato.

Envie as suas dúvidas para: assuncao.cabral@sol.pt



IN "JORNAL SOL"
13/02/12


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