Quando as palavras
lhes caem em cima
Já o disse: o novo carro de Mota Soares não teria sido notícia para tanto destaque se o ministro não tivesse feito gala em mostrar-se de Vespa. Agora repito-o para os casos mais recentes: foi o que os protagonistas disseram,em gritos de moralismo, que lhe deu ainda maior projeção (e alguns já eram escandalosos q. b.).
O patriotismo de Soares dos Santos.
A mudança da Jerónimo Martins para a Holanda também seria apenas mais uma, totalmente defensável numa empresa privada que serve os interesses dos acionistas, se Soares dos Santos não tivesse passado o verão a desdobrar-se em apelos ao patriotismo e críticas à falta dele.
Os p... ormenores de Catroga
Eduardo Catroga até podia alegar ter o melhor currículo do mundo para estar à frente do Conselho Geral de Supervisão da EDP e merecer todos os euros dos 45 mil que vai ganhar por mês se não tivesse adiado as suas férias para redigir o programa eleitoral do PSD e as negociações com a troika, em que defendeu, sem p..., cortes nos salários para fazer face à dívida e dar competitividade à nossa economia.
As águas turvas de Frexes
Passos Coelho não se veria obrigado a ter de explicar aos portugueses, com números e listas pormenorizadas, todas as últimas nomeações contestadas se não se tivesse gritado a alta voz que os seus boys não iriam ao pote, quando se veem casos como o de Manuel Frexes, a trocar a câmara, onde não podia renovar o mandato, por um ordenado triplicado de gestor numa empresa que pôs em tribunal.
As vendas da maçonaria
Todos os maçons estariam em condições de elogiar a transparência e valores da sua organização se não tivessem começado por negar fazer parte dela, escondendo o seu envolvimento em ligações suspeitas e caindo no ridículo de dizer que só foram a sete ou oito reuniões ou que apenas têm afinidades matrimoniais.
As exceções do Banco de Portugal
E até Cavaco Silva podia beneficiar, em silêncio e sem nenhum gesto ético de que estamos à espera, do regime extraordinário e perfeitamente legítimo que vai deixar os pensionistas do Banco de Portugal (BdP) com subsídio de Natal e de férias se não tivesse andado a alardear à necessidade de equidade e justiça social em todos os seus últimos discursos. E claro que o governador do BdP até podia abrir para o Presidente e muitos outros esta exceção legal, se ainda há mês não andasse a clamar por contenção salarial para salvar o País.
Um "se" com características românticas e utópicas só se aplica aos poemas, como o do Nobel Rudyard Kipling. Na política, os "ses" são, no mínimo, suspeitos e obrigam sempre alguém a justificá-los.
A máxima de que "palavras leva-as o vento" morreu há muito tempo, às mãos de uma globalização que encerra muitos perigos, mas também tornou o mundo mais justo. Agora, as palavras são como as promessas eleitorais: para cobrar. Estão gravadas, publicadas e à distância de um clique. Mudaram muitos chavões - já não basta parecer, é preciso ser, e já não chega dizer, é preciso fazer -, e há um que se mantém atualíssimo: quem cospe para o ar arrisca sempre.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
14/01/12
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