Centros de emprego empurram
mais jovens para a emigração
Cartas enviadas a desempregados têm como assunto:
. “Ofertas de emprego noutros países da Europa”
Os centros de emprego estão a propor aos desempregados que emigrem. O Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) começou a enviar, nas últimas semanas, cartas a jovens desempregados onde indica como assunto “ofertas de emprego noutros países da Europa”.
Os desempregados são, desta forma, convocados para uma reunião em que são desafiados a procurar trabalho fora do país. No centro de Emprego de Montemor-o-Novo realizou-se no dia 11 um encontro em que, segundo o relato feito ao i por um dos presentes no encontro, uma técnica explicou que “a situação está muito difícil em Portugal e o melhor é procurar trabalho em outro país da Europa”.
Nesta reunião, para a qual foram convocados duas dezenas de desempregados jovens, os técnicos não apresentaram nenhuma proposta concreta de emprego, apostando, sobretudo, em incentivar os utentes a procurarem alternativas fora do país. E o i apurou, junto de técnicos de outros centros de emprego, que a estratégia de incentivar os jovens a emigrar estará mesmo a ser colocada em prática a nível nacional, já que é cada vez mais visível a falta de soluções no país.
A posição do governo não tem andado longe desta linha, basta recordar as declarações recentes do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Alexandre Miguel Mestre, que aconselhou os jovens desempregados a emigrar em vez de ficarem na sua “zona de conforto”. Uma posição que o ministro da tutela, Miguel Relvas, também vê com naturalidade e que até defendeu esta semana, numa audição parlamentar: “Quem entende que tem condições para encontrar [oportunidades] fora do seu país, num prazo mais ou menos curto, sempre com a perspectiva de poder voltar, pode conhecer outras realidades culturais, [isso] é extraordinariamente positivo”.
O PCP denunciou ontem, na Assembleia da República, que “cerca de meia centena de jovens foram aconselhados a emigrar por técnicos de um centro de emprego do IEFP” e enviou uma pergunta ao ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, a pedir esclarecimentos sobre se “é esta a política oficial para combater o desemprego entre os jovens”. Os comunistas dizem ser “indispensável esclarecer se a política oficial do governo é empurrar os jovens para a emigração, utilizando ironicamente os serviços dos centros de emprego para concretizar tal desígnio”.
Marçal Mendes, do Sindicato Nacional dos Técnicos de Emprego, diz não ter conhecimento de casos concretos, mas lamenta estas práticas. “É natural que esteja a fazer escola este tipo de recomendações. Se é assim, é grave. Como foi grave haver um secretário de Estado a recomendar o mesmo”, diz.
Na altura das declarações do secretário de Estado da Juventude, a oposição criticou e o PCP chegou mesmo a pedir a ida do ministro Miguel Relvas ao parlamento para explicar o apelo feito. A audição foi rejeitada pela maioria PSD/CDS.
* Uma jogada menor de Mestre
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