ESTA SEMANA NA
"VIDA ECONÓMICA"
Produtores durienses que formam os
Douro Boys deixam o aviso
Aumento de IVA no vinho criará "onda de choque"
sobre produtores
Um eventual aumento da taxa do IVA, refletido diretamente ou não, sobre o setor nacional dos vinhos, terá um efeito de choque brutal, com repercussão em várias atividades. Este foi o principal alerta deixado pelo conjunto de cinco produtores durienses que formam os chamados Douro Boys: Niepoort, Quinta do Crasto, Quinta do Vallado, Quinta do Vale Meão e Quinte do Vale D. Maria.
Para Dirk Nieeport, o aumento da taxa do IVA terá um efeito de "forte pressão sobre os produtores", uma vez que toda a cadeia de valor tenderá a rechaçar este custo acrescido sobre a base da fileira.
Em conferência de imprensa que teve lugar antes da apresentação dos novos vinhos, os cinco produtores revelaram a sua opinião sobre o setor. Nesse sentido, Tomás Roquette, da Quinta do Crasto, apelou a uma revisão da taxa de IRC para as empresas exportadoras. Mais do que isso, João Álvares Ribeiro, da Quinta do Vallado, lamentou à VE as taxas de exportação sobre os vinhos portugueses para mercados determinantes, como Brasil ou China, mostrando a importância da sua revisão para que os vinhos lusos possam ser mais competitivos.
Segundo Cristiano Vanzeller, da Quinta do Vale de D. Maria, no seu conjunto, os Douro Boys tiveram em 2009 vendas de "sete milhões de euros em exportações" de vinhos DOC Douro, passando de 200 mil garrafas vendidas ao exterior em 2002 para 1,45 milhões em 2009. Isto apesar de o preço médio por garrafa vendida ter decrescido de 6,42 euros em 2002 para 4,68 euros em 2009.
Já no que se refere ao mercado interno, o preço médio por garrafa produzida pelos Douro Boys ronda os 6,91 euros, 2,2 vezes mais que a média da região. Face à conjuntura, estes produtores optaram por não fazer reposicionamento de preços, tendo vários até subido os preços.
Por seu lado, João Álvares Ribeiro destacou "as dificuldades de financiamento" que as empresas do setor sentem particularmente, pois entre a produção e a comercialização dos vinhos distam dois anos, o que obriga à manutenção de stocks elevados. Assim, "as dificuldades de tesouraria" e os custos inerentes à "internacionalização" são os aspetos mais relevantes. Porém, aquele responsável destacou pela positiva a decisão de estender por um ano os créditos concedidos ao abrigo do programa PME Investe, que se revelou "um novo financiamento" às empresas.
Parceria informal mas segura
Nascida como associação informal de produtores de vinho há cerca de 10 anos, ligados entre si por laços familiares e de amizade, os Douro Boys viram na demarcação DOC Douro, em 1986, uma oportunidade para reforçar a produção de vinhos de mesa numa região que era sobretudo conhecida pelo vinho do Porto.
Nesse sentido, a criação de uma entidade capaz de projetar a notoriedade e visibilidade dos vinhos destes cinco produtores e, ao mesmo tempo, de toda a região, permitiu alavancar uma estratégia comercial em que os produtores são, simultaneamente, parceiros, mas também concorrentes entre si. Tomás Roquette frisou que "nunca houve concertação comercial entre nós". O sucesso do modelo, que resultou numa forte visibilidade da região, fez até com que "importadores com quem trabalhamos já vão agora ao Douro, à procura de outras coisas", disse Dirk Niepoort.
O impacto que estes produtores têm na região vai mais além. Segundo João Álvares Ribeiro, da Quinta do Vallado, "empregamos entre todos cerca de 100 pessoas e pagamos as uvas que compramos a cerca de três vezes mais o preço médio". Tarefa mais difícil quanto, refere Tomás Roquette, "os custos de produção no Douro são três vezes superiores aos do Alentejo", uma vez que se trata de "viticultura de montanha".
Vinho e enoturismo
Aqueles produtores pedem ainda "gestores menos administrativos e mais criativos e comerciais" à frente dos organismos públicos do setor. A Marca Portugal tem "um longo percurso pela frente", onde falta "uma estratégia mais concertada" e "melhor comunicação". Nesse sentido, Tomás Roquette disse que "os Douro Boys são um exemplo do que se poderia fazer" para melhorar a estratégia de promoção dos vinhos portugueses.
João Álvares Ribeiro destacou o enoturismo como uma fonte de promoção nacional e, sobretudo, dos seus vinhos. "Para além dos fatores tradicionais, como o sol, a praia e outros, o enoturismo, a gastronomia e outros associados fazem com que os visitantes vão eles próprios comunicar nos seus países de origem".
No que toca à região, Dirk Nieeport estima que o futuro do Douro passa por uma estratégia de "sinergia" entre os vinhos produzidos, tendo "o vinho do Porto como base" e "DOC Douro paralelamente". A esta pode juntar-se a produção de azeite, em complementaridade e dirigida para a excelência que queremos transmitir", afirmou Cristiano Vanzeller.
* O I.V.A. é um imposto cego e por isso afecta mais os cidadãos com menor rendimento. No entanto nenhum sector da economia pode estar isento ao aumento do imposto conforme tem sido anunciado na comunicação social. A designação de "Douro Boys" cria desconfiança. Indica uma elite de produtores que se sentem intocáveis ou estão próximos das cúpulas partidárias?
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