27/05/2011

HELENA GARRIDO



Mais razão 
     e menos emoção

Um qualquer extraterrestre que chegasse a Portugal e só andasse nas caravanas dos partidos que prometem formar Governo diria que vivemos num país sem problemas.
A situação do País nunca foi tão grave. 
A campanha eleitoral nunca foi tão primária.

O euro vive o tempo mais ameaçador e perigoso da sua curta vida. Portugal está em ruptura financeira e a contar os dias em que vão chegar os primeiros milhões da ajuda externa. O plano de políticas para obter essa assistência financeira é de uma exigência extraordinária, quer em termos de calendário como quanto às medidas que é necessário adoptar. Portugal corre o sério risco de se ver na situação da Grécia caso falhe os primeiros objectivos. Há líderes dos países do euro cada vez mais enervados com as dificuldades e incapacidades de alguns países periféricos, mesmo que se possa, justamente, considerar que a incapacidade está na classe política da Zona Euro em encontrar uma solução com resultados para a crise da dívida - que não é apenas dos países do euro. E porque a realidade é esta, Portugal não tem outra solução que não seja apresentar-se como um excelente aluno naquilo que lhe exigem. A alternativa é... Imagine-se o mais aterrador filme de horror, o pior pesadelo - e será esse o futuro de Portugal.

O risco de Portugal fazer parte do grupo arrastado para fora do euro não é pequeno. É preciso tomar consciência disso.

É no meio desta realidade que ver, ouvir e ler o que se vai passando na campanha eleitoral se transforma no filme de terror. Sim, é verdade que temos de compreender que "campanha é campanha". Mas será que os cidadãos são assim tão desprovidos de inteligência?

Houve um tempo em que os candidatos a primeiro-ministro debatiam os problemas do País nas televisões e nas rádios e davam longas entrevistas aos jornais, espaços por excelência para o aprofundamento, a análise, o argumento e o debate. Submetiam-se a duas ou mais horas de perguntas, respondendo a questões, com argumentos e contra-argumentos. Quantas entrevistas deram os dois principais candidatos a primeiro-ministro desde que conhecemos as condições do FMI e da União Europeia para ajudarem Portugal?

Com o que se está a passar na campanha eleitoral, vamos chegar ao dia 5 de Junho sem saber como é que os partidos que vão liderar o próximo Governo - PSD ou PS - pretendem cumprir o acordo que subscreveram. Há impostos que terão de ser aumentados. Há legislação que tem de ser aprovada em tempo recorde e que vai afectar a vida de famílias e empresas, como a legislação laboral ou as alterações nos subsídios à produção de energias renováveis. Que sabem os eleitores sobre o que se vai fazer, como se vai fazer e quem vai fazer? Nada.

Esta campanha eleitoral é mais um sintoma entre muitos que se vão acumulando do lamentável estado em que estão as democracias participativas suportadas por partidos políticos. "Pois, não há alternativa" é mais uma vez a resposta. E, como tal, não vale a pena falar deste problema?

Vale a pena falar e, mais do que isso, exigir que as campanhas sejam mais que arruadas, gritarias, cantorias, almoçaradas, jantaradas e frases curtas com mensagens simples que marquem a agenda. Cada um dos partidos deveria estar a mostrar que é o mais capaz para tirar Portugal do caminho para o precipício em que se encontra. Ainda vão a tempo. Precisamos de mais razão e menos irracional emoção.


IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
25/05/11

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