01/05/2011

GLÓRIA REBELO


Por uma atitude renovada

No passado dia 16 de Abril, Juan Somavia, director-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), destacava num documento divulgado por aquela organização que, em consequência de um crescimento desequilibrado exacerbado pela crise financeira global, é cada vez mais evidente no Mundo o aumento de focos de tensão social.
Mostrando-se extremamente preocupado com os profundos desequilíbrios e desigualdades gerados por esta crise global (dentro e entre países) realçava que um crescimento que não sirva o interesse público global é - no plano económico, social e político - insustentável. E, lembrando que se há países mais endividados onde serão necessários ajustamentos "socialmente dolorosos", recomenda que - para atenuar esses efeitos - se dê, nesses países, prioridade ao emprego e à justiça social, quer na formulação quer na implementação de programas de ajustamento, ao invés de se concentrar exclusivamente na consolidação orçamental.
Mergulhado numa surpreendente crise política desencadeada por uma inesperada coligação negativa que rejeitou o denominado PEC IV e ante um pedido de ajuda externa o nosso país vive um dos períodos mais difíceis da sua história. À semelhança da crise mundial de 1929, esta crise do capitalismo financeiro que afectou as dívidas soberanas europeias - fazendo já recorrer à ajuda externa três países da Zona Euro: primeiro a Grécia, depois a Irlanda e, agora, Portugal - tem, como se sabe, uma gravidade ainda por aquilatar. E perante a ausência de uma necessária e pronta resposta europeia, solidária e concertada, a verdade é que os portugueses serão obrigados a unir esforços no sentido de, colectivamente, procurar superar esta adversidade.
Daí que - perante os enormes desafios do país, condicionantes do seu desenvolvimento a médio e a longo prazo - por um argumento de maioria de razão, se exija hoje aos partidos políticos uma atitude renovada e uma campanha para as legislativas conduzida por um discurso que evite a apresentação de propostas avulsas, desconexas ou mesmo incongruentes e, ao invés, se oriente para políticas concretas, adequadas à realidade socioeconómica portuguesa, que permitam aos eleitores optar por um projecto político capaz de inspirar confiança e estabilidade para a próxima legislatura. 

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
28/04/11

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