7 – POESIA ETERNIZADA
MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE
1765-1805
SONETO NAPOLEÓNICO
Tendo o terrivel Bonaparte à vista,
Novo Hannibal, que esfalfa a voz da Fama,
"Ó cappados heroes!" (aos seus exclama
Purpureo fanfarrão, papal sacrista):
"O progresso estorvae da atroz conquista
Que da philosophia o mal derrama?..."
Disse, e em fervido tom sauda, e chama,
Sanctos surdos, varões por sacra lista:
Delles em vão rogando um pio arrojo,
Convulso o corpo, as faces amarellas,
Cede triste victoria, que faz nojo!
O rapido francez vae-lhe às cannellas;
Dá, fere, macta: ficam-lhe em despojo
Reliquias, bullas, merdas, bagatellas.
(1) Este soneto foi escripto na occasião em que o exercito francez commandado por
Bonaparte invadira os estados ecclesiasticos (1797), chegando quasi às portas de Roma,
e ameaçando o solo pontificio. O verso nono: "Dellas em vão rogando um pio arrojo,"
envolve uma especie de equivoco, ou como hoje se diria um calemburgo [ou trocadilho];
porque Pio VI era o papa, que então presidia na "universal egreja de Deus". O
penultimo verso lê-se em algumas copias do modo seguinte: "Zumba,
catumba; ficam-lhe em despojo". [nota da fonte]
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