29/03/2011

MARIA DE LURDES VALE

MARIA DE LURDES VALE

Vítimas

Alinha de ataque do PS para a campanha eleitoral que se avizinha está mais do que identificada. Os socialistas, bem orquestrados e com um coro afinado, vão transmitir duas mensagens muito simples. A primeira é a de que os portugueses devem ter muito medo face à situação de crise em que estamos mergulhados. E a segunda é a da irresponsabilidade dos adversários em terem precipitado o País para um caos ainda maior, que pode incluir ou não um pedido de ajuda externa. E são ambas fáceis de passar.
Não é preciso ser um perito em comunicação para perceber que este é o único trunfo que o PS tem para jogar nos próximos tempos. E quem o vai personalizar? José Sócrates - o líder determinado, o homem que não desiste, que se recandidata e que vai ser glorificado nas eleições directas do partido e beatificado no Congresso do próximo fim-de-semana. Ao contrário do seu hermano Zapatero, que já percebeu que está na altura de dar lugar a outro, o demissionário primeiro-ministro português vai querer ajustar contas com quem não lhe permitiu continuar a acreditar que o mundo mudou em três semanas, frase que tem repetido vezes sem conta de cada vez que dá uma entrevista na televisão, e em que só ele próprio crê.
Teremos uma campanha perigosa. Sócrates, eterna vítima dos outros, sejam eles a comunicação social, os professores, sindicatos, a oposição, o Presidente da República e a crise global, vai gritar alto e bom som que só ele sabe como evitar o precipício, que será ele o rosto do "Defender Portugal", o slogan que o PS irá usar. De peito aberto e com a consciência tranquila de quem tudo fez para evitar um mal maior, o líder do PS tentará convencer multidões de que nunca desistiu nem desistirá, que não o podem acusar de nunca ter pensado no interesse nacional e de que nada nem ninguém o demoverão de continuar a obra que iniciou em 2005 quando ganhou as eleições legislativas pela primeira vez.
Alguns olharão para ele e pensarão que sim, que tem razão, que o que os partidos da oposição lhe fizeram foi uma injustiça, que Portugal não está em condições de andar a brincar às crises políticas e que só ele com a sua determinação é que é capaz de nos levar a bom porto.
Outros olharão para ele e lembrar-se-ão de Armando Vara, amigo de longa data e dirigente do PS, que foi nomeado administrador da Caixa Geral de Depósitos a 2 de Agosto de 2005, poucos meses depois de o líder do PS ter ganho as eleições com maioria absoluta, e que desde então já passou da Caixa para a administração do BCP e dali para a vice-presidência da cimenteira brasileira Camargo Correa. Soube-se ontem que está milionário à custa de indemnizações. Outra vítima, portanto. E no fundo será esta a escolha dos eleitores: ou o primeiro Sócrates encenado e adaptado às circunstâncias ou aquele que tão bem conhecemos com toda a sua comitiva. 

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
27/03/11

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