Vítimas
Alinha
de ataque do PS para a campanha eleitoral que se avizinha está mais do
que identificada. Os socialistas, bem orquestrados e com um coro
afinado, vão transmitir duas mensagens muito simples. A primeira é a de
que os portugueses devem ter muito medo face à situação de crise em que
estamos mergulhados. E a segunda é a da irresponsabilidade dos
adversários em terem precipitado o País para um caos ainda maior, que
pode incluir ou não um pedido de ajuda externa. E são ambas fáceis de
passar.
Não é preciso ser um perito em comunicação para perceber
que este é o único trunfo que o PS tem para jogar nos próximos tempos. E
quem o vai personalizar? José Sócrates - o líder determinado, o homem
que não desiste, que se recandidata e que vai ser glorificado nas
eleições directas do partido e beatificado no Congresso do próximo
fim-de-semana. Ao contrário do seu hermano Zapatero, que já percebeu que
está na altura de dar lugar a outro, o demissionário primeiro-ministro
português vai querer ajustar contas com quem não lhe permitiu continuar a
acreditar que o mundo mudou em três semanas, frase que tem repetido
vezes sem conta de cada vez que dá uma entrevista na televisão, e em que
só ele próprio crê.
Teremos uma campanha perigosa. Sócrates,
eterna vítima dos outros, sejam eles a comunicação social, os
professores, sindicatos, a oposição, o Presidente da República e a crise
global, vai gritar alto e bom som que só ele sabe como evitar o
precipício, que será ele o rosto do "Defender Portugal", o slogan que o
PS irá usar. De peito aberto e com a consciência tranquila de quem tudo
fez para evitar um mal maior, o líder do PS tentará convencer multidões
de que nunca desistiu nem desistirá, que não o podem acusar de nunca ter
pensado no interesse nacional e de que nada nem ninguém o demoverão de
continuar a obra que iniciou em 2005 quando ganhou as eleições
legislativas pela primeira vez.
Alguns olharão para ele e
pensarão que sim, que tem razão, que o que os partidos da oposição lhe
fizeram foi uma injustiça, que Portugal não está em condições de andar a
brincar às crises políticas e que só ele com a sua determinação é que é
capaz de nos levar a bom porto.
Outros olharão para ele e
lembrar-se-ão de Armando Vara, amigo de longa data e dirigente do PS,
que foi nomeado administrador da Caixa Geral de Depósitos a 2 de Agosto
de 2005, poucos meses depois de o líder do PS ter ganho as eleições com
maioria absoluta, e que desde então já passou da Caixa para a
administração do BCP e dali para a vice-presidência da cimenteira
brasileira Camargo Correa. Soube-se ontem que está milionário à custa de
indemnizações. Outra vítima, portanto. E no fundo será esta a escolha
dos eleitores: ou o primeiro Sócrates encenado e adaptado às
circunstâncias ou aquele que tão bem conhecemos com toda a sua comitiva.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
27/03/11
Sem comentários:
Enviar um comentário