18/10/2010

CONSTANÇA CUNHA E SÁ





Sem saída



 Conhecidas as primeiras medidas concretas do Orçamento do Estado para 2011, seria de esperar que o PSD, tendo em conta tudo o que tem dito nos últimos meses, estivesse, neste momento, a preparar-se para chumbar um documento que está longe de cumprir as "condições mínimas" que o partido impôs para a sua viabilização.

O problema é que, como o PSD devia ter percebido há mais tempo, a inviabilização do Orçamento não só deixa o país à beira de um colapso financeiro como permite ao Governo disfarçar os resultados catastróficos das suas próprias políticas. A partir daí, o engº Sócrates, com a habilidade que se lhe reconhece neste tipo de jogos florais, atiraria para cima do PSD toda e qualquer responsabilidade pela situação do país, sujeitando o dr. Passos Coelho a um ataque cerrado até às próximas legislativas que, para cúmulo, só se realizariam em Maio ou Junho do próximo ano. Isto para não falar do que se passaria dentro do próprio PSD, onde são muitas as vozes que estão contra o chumbo do Orçamento.

Na melhor das hipóteses, chegaríamos às eleições com os dois principais partidos desacreditados e fragilizados – como, aliás, as sondagens mostram; na pior, o país enfrentaria uma crise sem precedentes, com a União Europeia, o FMI e outras entidades da qual dependemos, como o Banco Central Europeu, a olharem para nós como se fôssemos um manicómio falido que devia ser higienicamente fechado.

É óbvio que não foi o PSD que contribuiu para a situação em que nos encontramos. Neste capítulo, os créditos devem ser justamente atribuídos ao Governo do engº Sócrates e à sua incapacidade crónica de saber lidar com a realidade. Mas foi o PSD, ao colocar-se, sem necessidade, no centro das negociações sobre o Orçamento, que se colocou num beco sem saída onde qualquer decisão que tome tem o condão de o prejudicar.

Se decidir chumbar, é devorado pelas consequências que se avizinham. Se decidir viabilizar, depois de tudo o que disse (e, pormenor inquietante, depois de ter recebido a banca com pompa e circunstância), dá uma imagem de fraqueza e de incoerência, acabando, mais uma vez, a dar o dito por não dito e, quem sabe? a pedir de novo, com voz trémula, desculpa aos portugueses.

Infelizmente, a situação do PSD decorre da situação de Portugal: um país indigente e sem soberania onde a democracia cedeu à ditadura das finanças e a política se apagou perante a inevitabilidade da economia.

IN "CORREIO DA MANHÃ"
15/10/10

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