08/09/2010

FERNANDO SOBRAL



Ver para crer


José Sócrates nem sempre vê o mundo como ele é. Vislumbra-o como gostaria que fosse. O princípio, em teoria, não é mau. Mostrava vontade de mudar. Mas, na prática, ele olha para um Portugal que não existe.

Sócrates acredita que um poder superior lhe colocou uma mão no ombro a indicar-lhe o caminho. É por isso que ultrapassa as dificuldades como um feliz salta-pocinhas. Cavaco Silva lembrou-lhe, no fim-de-semana, que o País tem 600 mil desempregados.
Desses, mais de 100 mil, são de longa duração. É uma questão incontornável, porque mina a estabilidade social. Mas esta lembrança também serve para Passos Coelho.
Portugal precisa de mudar, nos métodos e na eficácia. Para isso, os políticos necessitam de definir claramente os seus propósitos. Devem propor as melhores soluções e implementá-las. Parece óbvio, mas se recordarmos os que lideraram o País nos últimos anos (Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes, Sócrates), vemos como todos foram incapazes de concretizar os desafios. Foram 15 anos perdidos, em círculos viciosos e em saídas em falso.
Quando, para combater isso, se vem recriar um falso conflito entre o indivíduo e a sociedade, como faz envergonhadamente Passos Coelho, está-se novamente a errar.
Sem individualismo criativo não há uma sociedade saudável. Mas é preciso que isso se reflicta numa sociedade mais forte. Separar indivíduos e sociedade é destruir ambos. O jogo de enganos sobre o fim das deduções de educação e saúde, onde PS e PSD tropeçam nas suas propostas, é o exemplo perfeito de como nem um nem outro sabem conjugar as duas faces da moeda.

 in "JORNAL DE NEGÓCIOS"
07//09/10

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