09/04/2022

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144-UM POEMA POR SEMANA 
JOÃO VASCONCELOS e SÁ

EXPOSIÇÃO


Interpretado por
VÍTOR DE SOUSA
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Ao exelentíssimo Senhor ministro da Agricultura:
Porque julgamos digna de registo
a nossa exposição, Sr. Ministro, a erguemos,
a erguemos até vós, humildemente,
em toada uníssona e plangente
em que evitamos o menor deslize
e em que damos razão à nossa crise.
Senhor! Em vão esta Província inteira
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Falta a matéria orgânica precisa,
na terra que é delgada e sempre fraca!
A matéria, em questão, chama-se CACA.
PRECISAMOS DE MERDA, SR. SOISA,
E NUNCA PRECISÁMOS D'OUTRA COISA!
Se, os membros desse ilustre Ministério,
querem tomar o vosso cargo a sério,...
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade.
Mijem-nos também, por caridade.
O Sr. Oliveira Salazar,
quando tiver vontade de cagar,
venha até nós, solícito, calado,
busque um terreno que esteja lavrado,
deite as calças abaixo, com sossego,
ajeite o cu, bem apontado ao rego
e... como Presidente do Conselho,
queira espremer-se, até ficar vermelho!
A Nação confiou-lhe os seus destinos?
Então, comprima, aperte os intestinos.
Se lhe escapar um traque, não se importe!
Quem sabe se, o cheirá-lo, nos dá sorte?!
Quantos porão as sua esperanças
num traque do Ministro das Finanças?
E, quem viver aflito, sem recursos,
Já não distingue um traque, dos discursos.
Nem precisamos de falar, tenho a certeza,
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntamos nelas.
PRECISAMOS DE MERDA, SR. SOISA,
E NUNCA PRECISÁMOS D'OUTRA COISA!
Adubos de potassa? Cal? Azote?
Tragam-nos merda pura do bispote!...
e todos os penicos portugueses,
durante, pelo menos, uns seis meses,
sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente, nos despejem trampa!
Terras alentejanas, terras nuas,
desespero dos arados e charruas,
quem os compra, arrenda, ou quem os herda
sente a paixão nostálgica da merda!...
PRECISAMOS DE MERDA, SR. SOISA,
E NUNCA PRECISÁMOS D'OUTRA COISA!
Ah! merda grossa e fina, merda boa,
das inúteis retretes de Lisboa!
Como é triste saber que, todos vós,
andais cagando, sem pensar em nós!
Se querem fomentar a agricultura,
mandem vir muita gente com soltura...
Nós daremos trigo, em larga escala,
pois, até nos faz jeito, a merda rala!
Venham todas as merdas à vontade,
formas naturais ou esquisitas...
e, desde o cagalhão às caganitas,
desde o grande poio, à pequena bosta,
de tudo o que vier, a gente gosta...
PRECISAMOS DE MERDA, SR. SOISA,
E NUNCA PRECISÁMOS D'OUTRA COISA


FONTE:


* Bem haja JCS por tão boa oralidade..

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