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IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
29/05/20
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Estudo em casa,
crianças invisíveis
"Todos os olhos do mundo são sempre insuficientes para olhar por uma criança"
O estudo em casa mantém-se e, longe da escola, muitas crianças e
jovens tornaram-se invisíveis.
Confinados em casa, tantas vezes no seio
de famílias negligentes ou maltratantes, podem experienciar situações de
risco ou perigo que permanecem, desta forma, camufladas. Podem
também ser vítimas de ciberbullying ou assédio sexual online, realidades
frequentemente ocultas mesmo dos olhos de quem vive diariamente com
estas crianças.
Neste contexto, as crianças e jovens têm
também menos possibilidade em pedir ajuda, tendo em conta que as figuras
de confiança a quem recorrem são, muitas vezes, os profissionais da
área da educação.
Perante isto, a que sinais de alerta devem os educadores de infância e
professores estar atentos? Como detetar eventuais sinais de risco ou
perigo quando as crianças estão atrás de um écran, sem possibilidade de
interação presencial?
Em primeiro lugar, é fundamental
sensibilizar as crianças e os jovens, mas também as suas famílias, para a
importância de comunicar através das plataformas digitais com a câmara
ligada, e não apenas o microfone. Sabemos que muitas crianças e jovens
resistem em ligar a câmara, o que lhes permite estar mais a vontade, de
pijama ou até deitados na cama enquanto assistem às aulas. Mas
sabemos também que, não raras vezes, são os pais que não querem as
câmaras ligadas, alegando o direito à privacidade familiar.
Naturalmente que é importante preservar a intimidade da família. No
entanto, é este modelo de escola que temos actualmente, e ao qual temos
de nos adaptar. Escolha-se uma divisão da casa mais recatada, por
exemplo, de modo a que atrás da criança seja visível apenas uma parede. É
muito importante que o contacto visual e face-a-face, ainda que à
distância, seja mantido entre crianças e professores. Estes últimos
devem, pois, insistir para que os alunos participem nas aulas com as
câmaras ligadas, e não apenas os microfones.
E a que sinais de alerta devem os professores estar atentos?
Embora não exista uma receita que possa aplicar-se a todas as
situações, tendo em conta que diferentes crianças podem dar sinais muito
distintos, é possível, ainda assim, sistematizar alguns indicadores que
devem funcionar como um sinal de alerta.
Com as crianças em idade
pré-escolar, as aulas síncronas são menos frequentes. No entanto,
acabam por ser momentos de excelência para observar a interação entre
pais e filhos, uma vez que, em razão da idade, estas crianças estão
habitualmente acompanhadas nestes momentos. É importante
observar a forma como comunicam, verbal e não verbalmente, bem como as
emoções que são expressas. Parecem confortáveis na interação? Observa-se
sincronia e sensibilidade parental face à criança?
Independentemente
da idade da criança, existem outros indicadores a ter em atenção. A
nível físico, parece bem cuidada do ponto de vista da higiene pessoal e
alimentação? Evidencia alguma marca física visível? Mostra-se cansada,
apática, sonolenta ou adoentada? Queixa-se de forma recorrente de dores
de cabeça ou de outra parte do corpo?
Do ponto de vista comportamental,
mostra-se mais agitada ou mesmo agressiva? Exibe um comportamento
desafiador, mente (por exemplo, em relação às tarefas escolares) ou
parece mais desatenta do que o habitual? Isola-se e resiste em
participar nas actividades de grupo? O seu rendimento escolar alterou-se
de forma muito significativa?
A nível emocional,
parece triste, preocupada, ansiosa, zangada ou com medo? Revela
alterações de humor que não eram habituais? Mostra-se mais desmotivada
do que anteriormente?
Importa ainda estar atento às dinâmicas familiares. A
criança parece estar sozinha ou sem supervisão adequada à sua idade? Os
pais ou encarregado de educação não respondem ou mostram um padrão de
baixo envolvimento com o estudo da criança?
Face a algum destes
indicadores, o professor deve tentar estabelecer um contacto individual
com a criança ou jovem, no sentido de tentar perceber o que possa estar a
acontecer. Pode não ser uma situação de risco ou perigo. Ou pode ser.
E, nesse caso, tem de ser sinalizada às entidades competentes.
Lembremo-nos sempre... todos os olhos do mundo são sempre insuficientes para olhar por uma criança.
Acompanhem-me no meu canal de Youtube com vídeos dirigidos a crianças e jovens, às famílias e aos profissionais. Espero por todos!
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
29/05/20
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