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IN "A BOLA"
20/05/20
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Uma escola para a vida
Isolados mas não sozinhos, confinados mas não alheados. Num momento único na história mundial, a capacidade de refletir sobre as nossas experiências e o que nos rodeia é, também, uma forma de liberdade. A BOLA dá voz aos grandes protagonistas do desporto em crónicas assinadas na primeira pessoa sob o título ‘A bola é minha’. Sem filtros.
Porque
é que a prática desportiva, nomeadamente o desporto de competição, pode
ser considerado uma verdadeira escola para a vida? O que a distingue de
qualquer outra atividade? O que realmente se aprende com ela que lhe dá
este caráter formativo? Que qualidades desenvolvem os jovens com a
prática desportiva que mais tarde os tornam profissionais distintos?
A
minha longa carreira desportiva e o facto de a ter iniciado bastante
tarde (aos 27 anos, já mulher adulta e completamente formada)
permitiu-me vivenciar um conjunto de novas experiências que me levaram a
desenvolver capacidades e me tornaram uma pessoa melhor e mais apta.
Assim, é com conhecimento de causa que respondo a estas questões.
Diria
então que a principal diferença entre o exercício do desporto e de uma
qualquer outra atividade reside na forma como este é encarado sempre que
é praticado de uma forma séria e empenhada. Na realidade, é o modo como
se encara todos os factos da vida que dita o resultado que deles advém.
O
desporto de competição é praticado com paixão. Isto não significa que
não haja paixão no exercício das outras profissões. Significa antes que
não há desporto de competição sem paixão à qual se associa toda aquela
indomável vontade de vencer.
Estes dois aspetos, a paixão e a
vontade de vencer, permitem que tudo o resto aconteça e, o que acontece,
é muito! Senão vejamos: o corpo é o principal veículo do sucesso do
desportista. Logo, o primeiro passo consiste em levá-lo ao limite das
suas capacidades, ou seja, levá-lo a fazer o melhor do que é capaz. Mas,
para vencer, quase nunca isso é suficiente. Há que ir ainda mais longe e
obrigá-lo a um desempenho ainda maior, melhor! E isso significa o quê?
Significa muito trabalho, treino, repetição, cansaço, dores, exaustão,
sofrimento… e muitas concessões, ao ponto de nos esquecermos que há vida
para além de nosso desempenho! E sofre-se! Sofre-se de boa vontade para
se atingir o tal objetivo: vencer! E aqui está o busílis da questão. É
que vencer significa ser melhor que todos os outros. Ora, como esse é um
objetivo comum a todos, em cada modalidade, apenas um é vencedor. Já
perceberam bem o que isto implica?
Suporta-se o sofrimento e
todas as concessões necessárias porque se acredita que vale a pena. Que
estamos no caminho certo e que a vitória está ao nosso alcance. É no
acreditar que está a força… ou que está tudo! Aqui desenvolve-se a
autoestima, a confiança em si e nas suas capacidades. Se o atleta não
está convencido de que poderá ser o melhor, independentemente do esforço
necessário para o conseguir, nunca o será. A personalidade
fortalece-se. Estas pessoas detêm uma solidez admirável.
Naturalmente,
porque o objetivo é chegar ao topo, a forma como se trabalha e se
prepara faz toda a diferença. Não pode haver desperdício de tempo ou de
energia. Toda a que existe é direcionada para se atingir o objetivo em
causa. Aí condiciona-se até a forma de ver o Mundo. Rapidamente se
aprende a distinguir o essencial do acessório, o importante do
irrelevante, o fundamental do dispensável…
O método assenta
num trabalho de qualidade, no treino de qualidade, numa atitude de
qualidade… e essa qualidade é transportada para o dia a dia, para as
atividades mais mundanas. Assim treina-se em qualquer momento, com
qualquer coisa. Quando falo em qualidade, falo em atingir-se a
perfeição. Ser perfeito em tudo o que se faz. Ora, sabemos bem que a
perfeição é inacessível, o que faz com que exista sempre o confrontar
com o insucesso, algo com que o atleta acaba por estar sempre
familiarizado. Mas o segredo está, realmente, no ato de tentar, é aqui
que reside o mérito… tentar ser perfeito… e cada vez que se tenta
consegue-se um pouco mais. Ora cá vamos nós a caminho do nosso objetivo,
dotados do pensamento positivo e de todo o otimismo que nos dá ânimo
para continuar a acreditar.
E, já que que me refiro ao facto
de não ser possível atingir a perfeição, aproveito para destacar outra
aprendizagem importante, aquela que resulta da sua capacidade de
aprender com os erros. Todos erramos e, numa carreira desportiva,
conhecem-se tantos sucessos quanto fracassos. O desportista tem a
capacidade de aprender com os seus erros, de recuperar dos seus
fracassos, de teorizar sobre os factos que os ditaram e de introduzir
novas variantes na sua atividade, voltando mais forte, mais conhecedor,
mais capaz. É capaz de teorizar e criar cenários de possíveis falhas e
criar um conjunto de respostas que leva no bolso para utilização
posterior se for necessário. Ou seja, está sempre pronto. Sempre
preparado. É resiliente por natureza e, acima de tudo, é autónomo nesta
capacidade de aprender com as situações da vida.
IN "A BOLA"
20/05/20
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