.
.
Navegar é preciso,
despedir não é preciso
Não
concordo nada, mesmo nada, com algumas opiniões que tenho lido e ouvido
de alguns supostos gurus da nossa praça que defendem que o Mundo, a
nossa sociedade, a nossa forma de viver e sobretudo a vida das nossas
empresas vai mudar radicalmente quando tudo acalmar e esta ferida sarar.
Claro
que alguma coisa há de mudar, nomeadamente para as empresas e pessoas
que não forem capazes de aguentar e resistir. Mas para quem ficar,
sobretudo no mundo empresarial, e há de ser a esmagadora maioria, julgo
que o que é preciso é começar já a tratar de como se vão retomar os
negócios no day after em vez de se sentarem a um canto à espera que
venham estes novos profetas ensinar como será o novo Mundo. Neste
sentido, acho que o presidente da ATP, Mário Jorge Machado, escreveu
ontem um artigo para o T Jornal em que explica como pode o Governo
ajudar a evitar despedimentos que eu aqui gostaria de citar com a devida
vénia.
"O que salvará empregos é o
apoio imediato ao pagamento de salários", explica o presidente da ATP,
que faz contas simples. Um cenário de 1,3 milhões de trabalhadores e o
custo médio de 750 euros por mês durante três meses, totalizaria 3 mil
milhões de euros; num quadro de insolvências, poderão ser mais de 500
mil os desempregados, que a receber subsídio de desemprego durante um
ano facilmente ultrapassará os 4500 milhões de euros. Ao que se somaria a
quebra de receitas fiscais geradas pelas empresas e os custos de todos
os problemas sociais conexos.
Mário
Jorge Machado analisa as medidas já anunciadas apontando que "estão
muito centradas na concessão de empréstimos ou dilação de pagamentos de
alguns impostos e responsabilidades com terceiros".
E
conclui que este não será um caminho eficaz. "É uma ajuda na resolução
do problema de liquidez, mas criando dívida nas empresas. Para as
empresas que tiveram de reduzir o seu trabalho por força das
circunstâncias, "o que salvará empregos é o apoio imediato ao pagamento
de salários", por forma a que nenhuma empresa fique impossibilitada de
pagar salários ou tenha de despedir trabalhadores".
Por
isso, conclui Mário Jorge Machado, "o Governo não deve ter dilemas, as
empresas que não têm trabalho para os seus colaboradores precisam de
auxílio para pagar os salários desde já, porque o custo económico,
financeiro e social é muito inferior que aquele que teremos de suportar
ser for mantida a atual versão da lei simplificada do lay-off". Como na
canção, navegar é preciso, despedir não é preciso!
* Empresário
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
24/03/20
.
Sem comentários:
Enviar um comentário