26/03/2020

MANUEL SERRÃO

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Navegar é preciso, 
despedir não é preciso

Não concordo nada, mesmo nada, com algumas opiniões que tenho lido e ouvido de alguns supostos gurus da nossa praça que defendem que o Mundo, a nossa sociedade, a nossa forma de viver e sobretudo a vida das nossas empresas vai mudar radicalmente quando tudo acalmar e esta ferida sarar.

Claro que alguma coisa há de mudar, nomeadamente para as empresas e pessoas que não forem capazes de aguentar e resistir. Mas para quem ficar, sobretudo no mundo empresarial, e há de ser a esmagadora maioria, julgo que o que é preciso é começar já a tratar de como se vão retomar os negócios no day after em vez de se sentarem a um canto à espera que venham estes novos profetas ensinar como será o novo Mundo. Neste sentido, acho que o presidente da ATP, Mário Jorge Machado, escreveu ontem um artigo para o T Jornal em que explica como pode o Governo ajudar a evitar despedimentos que eu aqui gostaria de citar com a devida vénia.

"O que salvará empregos é o apoio imediato ao pagamento de salários", explica o presidente da ATP, que faz contas simples. Um cenário de 1,3 milhões de trabalhadores e o custo médio de 750 euros por mês durante três meses, totalizaria 3 mil milhões de euros; num quadro de insolvências, poderão ser mais de 500 mil os desempregados, que a receber subsídio de desemprego durante um ano facilmente ultrapassará os 4500 milhões de euros. Ao que se somaria a quebra de receitas fiscais geradas pelas empresas e os custos de todos os problemas sociais conexos.

Mário Jorge Machado analisa as medidas já anunciadas apontando que "estão muito centradas na concessão de empréstimos ou dilação de pagamentos de alguns impostos e responsabilidades com terceiros".

E conclui que este não será um caminho eficaz. "É uma ajuda na resolução do problema de liquidez, mas criando dívida nas empresas. Para as empresas que tiveram de reduzir o seu trabalho por força das circunstâncias, "o que salvará empregos é o apoio imediato ao pagamento de salários", por forma a que nenhuma empresa fique impossibilitada de pagar salários ou tenha de despedir trabalhadores".

Por isso, conclui Mário Jorge Machado, "o Governo não deve ter dilemas, as empresas que não têm trabalho para os seus colaboradores precisam de auxílio para pagar os salários desde já, porque o custo económico, financeiro e social é muito inferior que aquele que teremos de suportar ser for mantida a atual versão da lei simplificada do lay-off". Como na canção, navegar é preciso, despedir não é preciso!

* Empresário

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
24/03/20

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