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HOJE NO
"i"
Barcelos
Vários familiares de Miguel Costa Gomes eleitos para comissão política socialista
Autarca de Barcelos ganhou eleições para a secção
em fevereiro. Na sua equipa eleita, numa lista de 61 elementos, há um
sobrinho, uma irmã, uma das filhas e até o companheiro de outra
descendente. Mas o dirigente local não vê qualquer problema: não são
remunerados, já lá estavam com os seus antecessores e “não é defeito ser
familiar”, garante ao i.
Miguel Costa Gomes, autarca arguido na
Operação Teia, ganhou as eleições para a secção concelhia do PS de
Barcelos no passado dia 1 de fevereiro. Venceu contra Armindo Vilas
Boas, tendo garantido 40 nomes na lista à comissão política concelhia,
composta por 61 elementos. O adversário assegurou 21.
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Ora, na lista de Miguel Costa Gomes estão Vasco Real (10.o lugar),
seu sobrinho, Ana Rita Costa Gomes, uma das filhas (20.o), Vítor Martins
Ferreira (25.o), companheiro de uma das filhas, e Maria da Conceição
Gomes Araújo (29.o), irmã do líder concelhio e presidente da Câmara de
Barcelos.
Nenhum dos ocupantes destes órgãos partidários é remunerado, mas
Miguel Costa Gomes tem, de facto, vários familiares numa lista com poder
de decisão política. E será esta concelhia que terá uma palavra a dizer
sobre quem será o próximo candidato socialista à Câmara de Barcelos,
uma vez que Miguel Costa Gomes não pode recandidatar-se por limite de
mandatos, imposto pela lei. Os estatutos do PS preveem que compete às
comissões políticas concelhias “desencadear e assegurar o cumprimento do
processo de designação dos candidatos autárquicos municipais”.
Contactado pelo i, o líder da concelhia explica que “não é defeito
ser familiar”. Além disso, diz o autarca, “se olhar para as comissões
políticas anteriores, eles também já lá estavam e não era eu o
presidente”. O também autarca aludia a Manuel Mota, seu antecessor, e
Domingos Pereira. De realçar que Domingos Pereira se desfiliou em 2017
para concorrer como independente contra Miguel Costa Gomes nas
autárquicas desse ano.
Questionado pelo i se não teria sido útil deixar, desta vez, os nomes
de familiares de fora da equipa da comissão política local, Miguel
Costa Gomes respondeu com uma pergunta: “Por que razão? São militantes, e
dentro dos estatutos estão imbuídos dos seus direitos e obrigações.
Portanto, mantiveram os seus cargos nos lugares em que estavam”.
Ou seja, para Miguel Costa Gomes, “é preciso ver o passado todo”,
afirma em jeito de advertência perante eventuais críticas. E insiste que
ser “família não é defeito” e que, basicamente, se limitou a dar
continuidade às listas que já vinham do passado, leia-se dos seus
antecessores.
Confrontado pelo i se a polémica na anterior legislatura, com casos
no Governo do PS sobre escolhas familiares, não aconselharia a que
existisse um cuidado redobrado, Costa Gomes também argumenta de forma
pronta: “Não. Como disse, não há remunerações, as minhas filhas são
ambas licenciadas e estão desempregadas, e, portanto, estão disponíveis
até para trabalhar no partido. Mas não tem nada a ver com remunerações,
porque nenhum cargo desses [ na comissão política] é remunerado”.
Miguel Costa Gomes referia-se também a Teresa Costa Gomes, que
concorreu no 47.o lugar da lista da comissão política, mas não foi
eleita.
De realçar que Barcelos pertence ao distrito de Braga e que a
federação distrital do PS/Braga vai a votos nos próximos dias 13 e 14 de
março. De um lado está Joaquim Barreto, atual presidente daquela
federação, e, do outro, Ricardo Costa, vereador em Guimarães, que
procura destronar Barreto do poder. Nesta contenda, Costa Gomes fez
saber, antes das eleições para a concelhia, de que iria propor o apoio
da sua estrutura a Costa.
Operação teia O líder da concelhia do PS de Barcelos é o mesmo que
esteve em prisão domiciliária até setembro, tendo-lhe sido levantada a
medida de coação por decisão do Tribunal da Relação do Porto. Costa
Gomes é arguido no âmbito de um processo (que está em curso) que ficou
conhecido como Operação Teia, que envolveu também um ex-autarca de Santo
Tirso, Joaquim Couto, e a esposa, Manuela Couto. Na sua condição de
arguido, Miguel Costa Gomes regressou à Câmara de Barcelos em outubro,
mas com a condição de não contactar os funcionários municipais.
Algo que se afigura difícil dado que é o presidente da autarquia.
Questionado pelo i, o autarca explica que é o seu gabinete que faz a
ponte, dá “o bom dia, boa tarde”, vai para o gabinete e “despacha
normalmente”. Mas reconhece o constrangimento diário. Para o PSD, não é
assim. José Novais, líder da secção do PSD de Barcelos, diz ao i que “a
câmara funciona essencialmente em gestão corrente, (...) limita-se a
atribuir subsídios às juntas de freguesia sem critério, sem um
planeamento”.
Entretanto, no passado mês de dezembro foi adjudicado um contrato de
prestação de serviços para “avaliação de procedimentos concursais” a uma
empresa – a Trilhos Teóricos, Lda. – por um valor máximo estimado de 51
660 euros ( IVA incluído). A prestação de serviços foi adjudicada a uma
empresa em que a deputada municipal e dirigente socialista no concelho,
Ana Silva Torre, tem quota.
Na altura, a adjudicação foi notícia no
Jornal de Barcelos. A deputada municipal também é número 8 da lista da
comissão política do PS/Barcelos, eleita em fevereiro passado. Na
altura, ao Jornal de Barcelos, a autarquia esclareceu que o município só
iria pagar “as avaliações efetivamente realizadas” e que o valor a
pagar (real) não passaria dos 3157 euros.
Não há nenhuma ilegalidade neste processo, mas o líder do
PSD/Barcelos, José Novais, considera que esta decisão representa “uma
desqualificação dos recursos humanos” do município. Para o dirigente
social-democrata, as tarefas foram contratadas dessa forma “simplesmente
porque Ana Silva Torre é militante do PS, dirigente do PS”.
* Não há salários mas sim alvíssaras e não são poucas. É a dinastia do garnizé que os galos estão em Lisboa.
** JORNAL "O MINHO" -11/10/2019
O
Tribunal da Relação do Porto (TRP) considera estar “fortemente”
indiciado que o presidente da Câmara de Barcelos, Miguel Costa Gomes
(PS), terá beneficiado as empresas de Manuela Couto em troca de apoio
político.
Por acórdão de 09 de outubro, a que a Lusa hoje
teve acesso, o TRP acrescenta que está igualmente indiciado que o
autarca “invertia completamente os princípios da contratação pública,
indicando àquela empresária que apresentasse as propostas que
entendesse, garantindo-lhe a aprovação das mesmas”.
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