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08/12/19
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Territórios esquecidos
Poucos
conhecerão o país de lés a lés tão bem quanto o presidente da
República. Os territórios, as suas gentes, as crenças, as amarguras, a
solidão, o esquecimento. A necessidade que as pessoas têm de sentir que
alguém se preocupa.
E esse é
todo um programa, como aqui já se escreveu, que dá a Marcelo Rebelo de
Sousa não apenas o poder da magistratura de influência, mas um poder
sobre a vida do país que ultrapassa o simbolismo.
É
por isso enorme a carga afetiva que carrega a intenção de passar o ano
no mais pequeno dos pequenos. A ilha do Corvo é o espelho de um Portugal
ensimesmado nos centros urbanos, votado ao abandono nas mais
elementares necessidades básicas, de uma caixa multibanco a uma banca
para vender jornais, um posto dos correios ou até uma farmácia. Verdade
que nada disto falta ali, como ocorre em tantas localidades bem mais
próximas das grandes cidades. Mas o sentimento de distância e de
ausência é o mesmo.
O ato de Marcelo
está longe da caridade arrogante de um político e mais ainda de qualquer
aproveitamento populista. É um gesto que tem como destinatários diretos
quem governa, quem decide, quem legisla, quem se acomoda com as
prebendas do poder.
E é por intuirmos a
genuinidade e a força de um presidente da República decidir estar com
os pequenos dos mais pequenos, é por o mais alto magistrado da nação
saber que a interioridade, as assimetrias regionais e sociais só se
combatem com proximidade e decisão, com poder, portanto, que resulta de
difícil compreensão a sua batalha contra a criação de regiões
administrativas.
A menos que quando
Marcelo pede para não porem a carroça à frente dos bois esteja sobretudo
a chamar a atenção para a forma como se avança o processo. Porque tem
receio que não fique claro que a regionalização não servirá para
aumentar a fatura dos contribuintes, mas antes para a diminuir.
Porque
entende que o que se pretende mesmo é dar maior decisão a quem vive com
os problemas.
A regionalização divide o país. O presidente da República não pode, aqui, ser apanhado em fogo cruzado.
* Diretor
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"08/12/19
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