12/11/2019

MARGARIDA VIEITEZ

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As 100 sombras de um Ex

Separam-se para ter paz. Apaixonam-se, pensando: “Agora é que é!”. Vivem à beira de um ataque de nervos porque a/o companheira/o não pára de falar e a sombra do EX não pára de atormentar

Esta é uma das graves problemáticas das novas famílias. Estou convicta que mais do que um problema comum a muitas relações, é uma “mina” gigantesca que explode quando menos se espera, arrasando com qualquer relação.
 
Todos temos passado, todos tivemos mais ou menos namorados, todos queremos saber quantos é que o outro teve, perguntamos se foi importante ou menos importante, ficamos a saber, e vamos à nossa vida. Histórias de um passado que não existe mais, apesar de existir muita gente por aí com sérias dificuldades em o aceitar.
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No entanto, quando se trata de ex-companheiros, ex-maridos ou ex-mulheres, pessoas com quem vivemos debaixo do mesmo teto e entre as mesmas quatro paredes, a coisa muda de figura. Especialmente se existem filhos.
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E, pergunta: Porquê? Porque apesar da relação “ter ido para o espaço”, se existem filhos, existe relação, porque tem de existir contacto. E quanto mais próxima for essa relação, para muitas pessoas, pior e mais difícil é aceitá-lo. E se ninguém nos ensinou a gerir as emoções no que toca às relações amorosas, muito menos nos ensinaram a gerir as nossas emoções no que respeita à relação que o nosso companheiro/a tem com a sua/seu ex.
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Receios, ciúme, medo da perda e da traição, insegurança, profecias autorrealizadas, sofrimento e dor, existe de tudo um pouco. Quando se trata de relações que duraram dez, quinze, vinte anos, agrava-se. 

Se a sombra do ex aparecia sozinha e de vez em quando, na fase do encantamento e paixão, quando tudo começa a serenar, eis que vem acompanhada de mais 99, e parece ter vindo para ficar. 
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Porque ultimamente têm vindo ao meu conhecimento muitas situações destas, todas diferentes, mas com algumas, senão muitas, semelhanças, decidi escrever sobre este tema, porque esta dificuldade de aceitação do passado de outro alguém, aliada à dificuldade em gerir/aceitar o facto de que esses mesmos contactos e essa relação pressupõem o bem estar emocional, psicológico e consequentemente físico de outras pessoas, a maioria das vezes crianças das mais variadas idades, potencia uma escalada de conflito perfeitamente evitável, se os envolvidos conseguirem conversar sobre as suas emoções e inseguranças de forma tranquila, sem fazer juízos de valor e sem proferir prévias sentenças condenatórias. O problema é que muitos não conseguem conversar, mas apenas discutir, quando não apenas se afrontar e magoar.
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Muitas pessoas chegam a forçar o companheiro a mostrar-lhes todas as mensagens que trocam com exs no que se refere à educação das crianças, pressionam para alterar as rotinas e dias de visita dos menores, fazem exigências, chantagem emocional, pressão no sentido de abreviar os contactos, manipulam, espreitam a caixa de email e o telemóvel do companheiro, comentam e criticam a educação, princípios e valores transmitidos, tentam desempenhar o papel de mãe ou pai, no intuito de demonstrar que é melhor mãe ou pai que o ex, denigrem, criticam, incapacitam quer o ex, quer o companheiro presente, apenas por uma única razão: porque não conseguem aceitar a sua existência dado esta simbolizar um perigo constante para a sua relação.
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E pergunto: o que será mais perigoso para uma relação: esses contactos com o outro progenitor, porque é uma mãe ou pai interessada/o e cuidadosa/o, ou esses comportamentos? Claro que são os segundos!
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Acredite, essas atitudes podem detonar a sua relação em três tempos. Num primeiro momento, o seu companheiro até pode achar que está com ciúmes e explicar-lhe que está consigo porque a/o ama. 

Num segundo momento, vai dizer-lhe que está a começar a ficar cansado da mesma conversa. Num terceiro momento, vai explodir e dizer o que não vai querer ouvir. 
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Gerir uma relação parental com um ex de quem se tem um, dois, três ou mais filhos, já é um desafio constante, pois se existiu uma separação não é propriamente porque as pessoas se dão bem e estão de acordo em tudo, e esse desacordo muitas vezes abrange também a educação a dar às crianças. Se aliarmos esse desafio ao facto de existir um companheiro que está repetidamente a desconfiar que existe algo mais do que uma relação parental, e a tentar descobrir indícios de um romance anunciado, das mais variadas formas e feitios, nomeadamente através da leitura da expressão facial quando conversa com a mãe ou pai das crianças, temos a composição exata da bomba atómica que irá explodir quando menos esperarem.
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São experiências como estas que estão a fazer com que muitas pessoas escolham viver sozinhas para não ter de assistir a filmes mais ou menos dramáticos, e assim evitam viver em permanente conflito. Mas, será esta uma boa escolha? Renunciar a viver o Amor por medo, nunca é uma boa escolha!
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Se receia ou tem medo que o seu companheiro volte a envolver amorosamente com a sua/seu ex, pense no seguinte:

Se efetivamente ele/ela o quiser, você não poderá fazer nada, e isso acontecerá. É algo que não está sob seu controlo.
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No caso de existirem crianças, quanto pior for a relação que o seu ex tiver com a ex companheira/o, mais sofrerão essas crianças e consequentemente, maior será o sofrimento do seu companheiro/a, o que irá influenciar determinantemente a vossa relação amorosa.
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Se lhe é muito difícil gerir essa realidade, porque não procura um companheiro que não tenha filhos ou que tenha filhos já crescidos e independentes?
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Não permita que pensamentos mais ou menos catastróficos determinem o rumo da vossa relação, nem que a sua insegurança acelere a rutura da mesma.
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Não é você que tem de ensinar ao seu companheiro como ele tem de se relacionar com o seu/sua ex, nem o que lhe deve dizer, nem como educar os seus filhos. Se ele lhe pedir para o ajudar, dê-lhe a sua opinião, mas não o force a comportar-se como faria e a dizer o diria.
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Lembre-se, provavelmente a relação chegou ao fim porque a/o ex o/a tentou mudar também.
Se sente receio, medo e insegurança constantes, equacione a possibilidade de pedir ajuda. Todos eles podem estar mais relacionados com experiências que tenha vivido e que o tenham marcado, do que propriamente com a proximidade afetiva entre o seu companheiro e a sua/seu ex.
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Sim, efetivamente a nossa mente gosta de ver os mesmo filmes, vez após vez. Mas só até ao momento em que o percebemos e escolhemos ver outros.
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A confiança numa relação é um dos alicerces mais importantes. Ou existe ou não existe. Andar a fazer de polícia não lhe garante felicidade, pelo contrário, é emocionalmente esgotante. Por isso, decida confiar. Se tem razões para desconfiar, converse, esclareça e esqueça. Não permita que sombras controlem o seu estado emocional e destruam a vossa relação. 
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Estas situações configuram aquilo que denomino de uma gigantesca “mina” das novas relações familiares, e ou aprendem os dois a desarmadilhá-la, ou as sombras dos exs vão multiplicar-se até ao dia em que a “mina” explode e a relação termina. 
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Enquanto o seu foco estiver nas muitas sombras que o perseguem, a sua mente estará a gastar energia com coisas que nada contribuem para o seu bem-estar emocional e físico e a vida vai acontecendo sem a sentir.
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Imagine como se sentiria e como seria a sua relação e a sua vida, se essas sombras, simplesmente, desaparecessem…

IN "VISÃO"
08/11/19

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