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IN "DINHEIRO VIVO"
18/06/19
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Os anti-influenciadores:
sê quem tu és
A autenticidade é uma mensagem poderosa, mas nem sempre significa aquilo que parece nas redes sociais
Avançamos pela vida ajustando
constantemente a opinião que temos de nós mesmos, uma ideia que flutua
por comparação com quem está à nossa volta. É nesse comprimento de onda
que funcionam os influenciadores. Dão à geração Instagram uma visão
daquilo a que podem aspirar e, em simultâneo, a consciência daquilo que
não são e do que não têm. Ver a vida aparentemente fabulosa de gente que
respira Gucci e passa o dia entre palmeiras pode ter um efeito
inspirador e dar aos seguidores algo com que sonhar. Mas também tem
potencial para espoletar um episódio depressivo, ao acentuar com filtros
poderosos um estilo de vida inalcançável.
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É frequente ver partilhadas no Instagram, e noutras redes sociais que
dão primazia à imagem, frases inspiradoras sobre sermos fiéis a nós
próprios – ao mesmo tempo que incentivam à mudança e ao melhoramento
pessoal. A campanha da Sumol para este Verão toca nalguns destes temas,
com a intenção de “celebrar a autenticidade” e mostrar uma espécie de
anti-influenciadores, no sentido de pessoas com estilos e imagens
diversas que não necessariamente se encaixam no perfil de perfeição a la
Instagram.
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“Vivemos numa altura em que os jovens vivem
atrás de um ecrã com uma pressão de só expor ‘o perfeito’, a marca quer
que percebam que ‘o perfeito’ é o que há de mais autêntico e genuíno em
cada um, e não há vergonha nenhuma nisso”, explicou-me Filipe
Guerreiro, diretor de Marketing Sumol+Compal para Portugal e Espanha. “É
tão autêntico utilizar 20 filtros como não usar maquilhagem, desde que
seja uma forma de estar fiel à sua essência.” O responsável fala de
“co-criadores”, não de influenciadores, e cita o exemplo de Carolina
“que é vegana e não tem vergonha.” (Disclaimer: eu sou vegan e não tenho
vergonha disso. Pelo contrário. A bem da verdade, nunca conheci um
vegan que tivesse vergonha de o ser. Mas adiante).
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O conceito da campanha da Sumol é inteligente e apela a uma procura de
autenticidade que tem crescido. Há um certo cansaço com a curadoria de
imagem que se faz passar por autêntica e com a pressão para uma
felicidade e positivismo suspeitos. Há uma valorização daquilo que é
percebido como “real”, uma celebração das imperfeições, uma rejeição do
Photoshop. “Sê quem tu és” é uma mensagem poderosa, principalmente
quando existe um ressurgimento de ideologias repressivas e normativas.
Os anti-influenciadores, no sentido de pessoas que quebram o molde e se
afirmam de maneiras diferentes.
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Mas ser fiel a nós mesmos não é assim tão interessante quando o nosso
âmago é uma lesma calona estendida ao sol. Não há outra conclusão a
tirar das reacções à mais recente iniciativa de um casal de
influenciadores, Catalin Onc e Elena Engelhardt, que gerem a conta
Another Beautiful Day no Instagram. Na semana passada, pediram aos quase
35 mil seguidores ajuda para financiar uma viagem de bicicleta entre a
Alemanha, onde vivem, e África, através da plataforma GoFundMe. Pedem 10
mil euros para mostrarem aos seguidores “a beleza deste planeta e dos
habitantes, mas também a sua fealdade.”
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Essa é a sua essência como influenciadores: viajam para várias partes do
mundo e documentam as aventuras, ela uma mulher linda, ele um homem
todo tatuado que faz lembrar o “zombie boy”. O peditório causou ultraje
em muita gente, que os mandou ir trabalhar para pagarem as suas contas, e
a resposta deles foi elucidativa. Catalin disse que a sua mãe tem dois
empregos para os sustentar e que, para eles, arranjar emprego não é uma
opção. Não querem promover o consumismo trabalhando como modelos e,
segundo ele explicou, ter uma mulher linda, ser tatuado e ter milhares
de seguidores abre muitas portas.
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Há alguma coisa mais autêntica que isto? Está ali, para qualquer um ler,
em toda a sua gloriosa verdade. Não querem trabalhar e pedem que as
pessoas os financiem, abertamente, sem mascararem as intenções com
rococós místicos. São fieis a si próprios, o que não é assim tão
interessante neste caso.
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Queremos mesmo autenticidade, como defende a campanha da Sumol? Tenho
para mim que o que queremos parece ser mais justiça e meritocracia.
Admirar o sucesso dos outros quando o percebemos como adequado eleva
toda a gente, inspira-nos e permite acreditar que o trabalho é
recompensado. Que não basta ter um palmo de cara e um filtro para andar a
pedir que nos paguem as contas. Se é certo que muitos acharão injusto o
sucesso de quem está no topo seja qual for o seu percurso, creio que a
sede que os utilizadores de redes sociais têm neste momento é de algo
que os empurre para a frente e não para baixo. A campanha da Sumol, em
muitos aspectos, também faz isso. Ser autêntico é melhor que ser
farsante, mas o fascínio da comparação está na possibilidade.
IN "DINHEIRO VIVO"
18/06/19
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