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IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
07/03/19
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Colocar Moçambique na agenda
Não se pode exigir de ninguém um compromisso para com o mundo, se ao mesmo tempo não se reconhecem e valorizam as suas peculiares capacidades de conhecimento, vontade, liberdade e responsabilidade.
Moçambique traz de novo para a agenda mundial a grande questão da sustentabilidade. De maneira trágica, sem dúvida.
O ciclone tropical Idai, que provocou inundações devastadoras e a
perda de incontáveis vidas humanas em Moçambique, Zimbabwe e Malawi,
considerado um dos desastres naturais mais graves no Hemisfério Sul, é
um "sinal alarmante dos extremos climáticos", como afirmou o
secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
No
relatório recentemente publicado (28.Mar), a Organização Meteorológica
Mundial divulgou números impressionantes: "As enchentes, furacões e
secas severas ocorridas em 2018 atingiram 62 milhões de pessoas e
deslocaram mais de 2 milhões em todo o mundo no ano passado." As
inundações afetaram mais de 35 milhões de pessoas. O supertufão Mangkhut
atingiu mais de 2,4 milhões de pessoas, principalmente nas Filipinas.
Na Europa, no Japão e nos Estados Unidos, mais de 1.600 mortes foram
atribuídas às intensas ondas de calor e a incêndios florestais. Para
além disso, salienta ainda o relatório, a exposição do setor agrícola
aos fenómenos climáticos extremos ameaça reverter o que vinha sendo
conseguido na luta contra a desnutrição, verificando--se, de novo, um
aumento da fome após um período prolongado de diminuição.
Todos
estes fenómenos são "somáticos" e relevam a importância de uma agenda
global e abrangente sobre sustentabilidade e desenvolvimento humano.
Mike
Rosenberg, professor do IESE, comentava, numa das suas conferências na
AESE Business School em fevereiro passado, que "os negócios e a
sustentabilidade não são companheiros naturais". A dificuldade tem a
ver, sobretudo, com o horizonte temporal das decisões. No entanto, nos
dias que correm, esta relação não é opcional. O mundo mudou. Já não se
aceitam as externalidades negativas dos negócios. É necessário que as
empresas criem impacto positivo. Há que ter um sentido, um propósito
único, inspirador e autêntico, que transmita como a organização cria
valor para as pessoas e para a sociedade, através de modelos de negócio e
soluções lucrativas e sustentáveis. E, na realidade, encontramos
empresas muito interessantes. A Nestlé é um bom exemplo. Em concreto, a
Nespresso trabalha junto dos agricultores, criando e partilhando valor,
no âmbito do Shared-Value, e, por outro lado, desenvolve iniciativas, em
parceria com associações e empresas, para a reciclagem das cápsulas e
do café já utilizado.
Quanto ao desenvolvimento humano, é
especialmente importante que seja integral e inclusivo, no sentido de
incluir e comprometer a humanidade inteira, mas também no sentido do
autêntico desenvolvimento de cada pessoa, respeitando a unidade de cada
um em todas as suas dimensões. Não se pode exigir de ninguém um
compromisso para com o mundo, se ao mesmo tempo não se reconhecem e
valorizam as suas peculiares capacidades de conhecimento, vontade,
liberdade e responsabilidade. Esta consideração é particularmente
relevante hoje em dia quando, por exemplo, se encaram os possíveis
cenários do trabalho no futuro e as disfunções económicas que acarretam,
ou ainda quando confrontados com realidades onde os mais frágeis são os
protagonistas.
Se a agenda mundial é essencial e uma
prioridade, o mesmo acontece com a agenda pessoal. Não se trata apenas
dos produtos que compramos e (re)utilizamos, mas das escolhas que
fazemos, as atitudes que tomamos, a cultura de sobriedade que
desenvolvemos, as comunidades que construímos e cuidamos. Tudo contribui
para o desenvolvimento sustentável, humano e integral com que todos
sonhamos. A prova são as inúmeras ajudas, gestos pessoais, solidários e
anónimos, que de Portugal chegam a Moçambique.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
07/03/19
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