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IN "EXAME INFORMÁTICA"
09/04/19
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Bankers killed
the MB Way star
A decisão dos bancos passarem a cobrar pela utilização do MB Way em análise. A opinião de Hugo Séneca
Depois do
BPI, o Millennium BCP. E depois do BCP, que banco se segue no anúncio de
cobrar 1,2 euros (acrescidos de imposto de selo) pelas transferências
bancárias efetuadas com o MB Way?
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Ou muito me engano ou o mercado ainda é uma sucessão de cópias e contracópias e já não deverá demorar a responder à questão com mais um banco… a anunciar que vai cobrar 1,2 euros pelas transferências efetuadas no MB Way. Só porque sim; só porque se um consumidor está disposto a pagar no BPI, por que é que não há de pagar também no BCP… ou em qualquer outro banco concorrente?
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Ou muito me engano ou o mercado ainda é uma sucessão de cópias e contracópias e já não deverá demorar a responder à questão com mais um banco… a anunciar que vai cobrar 1,2 euros pelas transferências efetuadas no MB Way. Só porque sim; só porque se um consumidor está disposto a pagar no BPI, por que é que não há de pagar também no BCP… ou em qualquer outro banco concorrente?
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Repito:
ou muito me engano, ou também vai acontecer a todos os outros bancos – e
sim, até na Caixa Geral de Depósitos, que é do Estado e já mereceu
planos de recapitalização pagos pelos contribuintes portugueses, é bem
provável que isso venha a acontecer – mesmo que signifique desperdiçar
um trunfo comercial para desviar clientes da concorrência que fazem a
questão de usar a app MB Way.
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Claro que estas palavras mais não são que um pressentimento daqueles que costuma dar aos gatos já que tiveram o azar de tomar banho… Se bem que admita que o exemplo do gato escaldado até possa não ser o mais feliz: tendo em conta o número de intervenções estatais registadas nos últimos anos (tradução de «intervenção estatal»: o Estado paga o que falta na tesouraria e que os gestores dos bancos gastaram ou perderam), sou levado a crer que alguns bancos e banqueiros têm mais vidas que aquelas que costumam ser atribuídas aos felinos.
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Claro que estas palavras mais não são que um pressentimento daqueles que costuma dar aos gatos já que tiveram o azar de tomar banho… Se bem que admita que o exemplo do gato escaldado até possa não ser o mais feliz: tendo em conta o número de intervenções estatais registadas nos últimos anos (tradução de «intervenção estatal»: o Estado paga o que falta na tesouraria e que os gestores dos bancos gastaram ou perderam), sou levado a crer que alguns bancos e banqueiros têm mais vidas que aquelas que costumam ser atribuídas aos felinos.
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A
esta hora é bem possível que um daqueles senhores que costumam aparecer
na TV a falar sobre os malefícios da concorrência do Estado, mas que
curiosamente emudecem sempre que recebem recapitalizações, injeções e
até condecorações esteja a preparar-se para me tratar pelo petit-nom de
ladrão de bancos ou que até me pinte de uma cor política que não é a
minha, mas confesso que, apesar do mau feitio, já não dou resposta a
toda parvoíce que vou ouvindo. Pelo que a minha curiosidade incide mais
no seguinte: como é que os bancos, especialmente os que foram
intervencionados, vão explicar aos clientes-contribuintes que agora vão
passar a pagar 1,2 euros sempre que querem mandar 10 euros para os
filhos pelo MB Way?
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Ou
muito me engano – e quero acreditar que os meus enganos estão em
consonância com a média da humanidade – mas desta vez, os bancos não
estão dispostos a repetir o deslumbramento dos anos 1980. Hoje, nenhum
dos bancos tradicionais se pode dar ao luxo de não integrar a SIBS, ou
de não ter uma relação de proximidade com a denominada Sociedade
Interbancários de Serviços, SA, porque isso, eventualmente, poderia
dificultar o acesso a um dos principais pilares da banca nacional: o
Multibanco.
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Sem
Multibanco, não há banco que resista em Portugal – a menos que seja um
daqueles bancos especializados em fundos e bolsa ou então tenha uma
forte presença na Internet, devidamente artilhada com ferramentas e
funcionalidades expeditas. Ora, o MB Way mais não é que a possibilidade
de levar para a Internet tudo aquilo que o Multibanco só permite nas
Caixas ATM. Com duas vantagens, face a qualquer concorrente que entre no
mercado: tem quase todos os serviços que os portugueses se habituaram a
ter nas caixas de Multibanco; e tem uma imagem de segurança e
conveniência que muitos gigantes internacionais dos pagamentos
eletrónicos possivelmente nunca terão.
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É
verdade que já há bancos que cobram pelas transferências de dinheiro
efetuadas nas caixas de Multibanco, mas esse custo não impediu a SIBS de
lucrar mais de nove milhões de euros em 2017 – mesmo sem decidir o que é
cobrado por cada banco nas ditas transferências. Por outro lado, tendo
em conta que as mesmas comunicações que são usadas para processar
levantamentos de dinheiro ou pagamentos de serviço a privados ou ao
Estado são gratuitas (devido a um decreto-lei, porque se dependesse dos
bancos já se pagava, não haja quaisquer dúvidas) e, mesmo assim, nunca
puseram em risco os lucros da SIBS, apesar dos custos inerentes ao
parque de caixas Multibanco disperso pelo país, tenho de perguntar: como
é que o BPI e o BCP chegaram à “módica” quantia de 1,2 euros por
transferência no MB Way?
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Tenho
de fazer mais uma confissão: mais que curiosidade, a questão instiga-me
receio. Se o BPI e o BCP acham razoável cobrar uma taxa de 1,2 euros
(acrescidos de imposto de selo, importa não esquecer) por cada
transferência no MB Way que corre sobre a Internet, então passo a temer
que a Altice, a Nos, a Vodafone ou até a Nowo, que lidam com tráfegos de
dados bastante mais elevados, que vão muito para lá da típica
notificação «desconta 20 euros na conta x do banco y e depois credita 20
euros na conta z do banco w», adotem o mesmo modelo de tarifário. Dito
por outras palavras e sem ironia: não acredito que os preços propostos
por BPI e BCP tenham uma relação direta com os custos do serviço
prestado através do MB Way. Recorro a uma terceira frase para que não
restem mesmo dúvidas sobre aquilo de que estou a falar: ou o BPI e o BCP
querem fazer dinheiro à custa de um serviço que já superou 1,25 milhões
de utilizadores e é, sem margem para dúvidas, a única iniciativa feliz e
com benefícios reais para a sociedade portuguesa que a banca produziu
nos últimos 10 anos, ou então o cerco está a ser montado, para esvaziar
parte ou a totalidade do MB Way.
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O
facto de ser 1,2 euros e não 0,12 cêntimos ou 1,2 cêntimos já dá que
pensar, mas o que é mais curioso é que a decisão de cobrar pelas
transferências no MB Way surge numa altura em que uma marca como a
Revolut, que permite transferências de dinheiro eletrónico sem custos,
começa a entrar no mercado. E depois destas, muitas outras virão. Se o
Casablanca fosse rodado nos dias de hoje, seria motivo para dizer que
«we will always have Visa». Ou Mastercard. Ou até Apple Pay ou Google
Pay. Ou qualquer banco estrangeiro que, com os novos regulamentos
europeus, pode operar em Portugal, por via eletrónica, tendo um único
escritório que tanto pode estar na Lituânia como em Malta.
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O
MB Way permite que todos os clientes dos bancos nacionais evoluam para
uma nova geração do dinheiro eletrónico – a geração da desmaterialização
em mobilidade. A simples possibilidade de rachar a conta de restaurante
entre amigos através de uma app é todo um hino de conveniência – mas
até poderá ser a coisa mais simples em toda a nova gama de ferramentas,
serviços ou produtos que haverão de surgir. Em resumo: as
funcionalidades do MB Way seguem as melhores práticas já apontadas por
vários estudos internacionais sobre o futuro do dinheiro eletrónico e
podem funcionar como um salto qualitativo para a economia nacional.
Cobrar uma taxa de 1,2 euros por transferência é matar esse potencial de
inovação no MB Way para o dar de bandeja a quem o souber explorar – que
provavelmente será um gigante desses que por aí andam, ou até uma
startup financiada por outros tubarões que também por aí andam.
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Não
consigo perceber o racional – mas como se trata da banca, já sei que,
no final, serei eu, entre muitos contribuintes, a pagar. No fundo,
começo a admitir que estou sempre enganado, mas não sei, e que quem
realmente tem razão é Marc Bayle de Jessé, diretor-geral de pagamentos e
infraestruturas de mercados do Banco Central Europeu, que há quase um
ano, veio a Portugal apontar o dedo em público à SIBS, por ter criado o
MB Way, que é um sucesso e foi escolhido pelos portugueses (imagino que
fazendo uso da liberdade que lhes é concedida num país democrático e de
economia livre), como uma solução que depende dos cartões bancários, que
se destina apenas ao mercado nacional – e não é uma «solução
pan-europeia» (só faltou Jessé dizer: «como a Visa ou a Mastercard ou o
Deutsche Bank, ou o Santander ou qualquer outro gigante bancário
internacional que pertence ao restrito clube dos potentados tecnológicos
e financeiros com capacidade de criar logo no arranque uma solução
pan-europeia»).
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Também
nunca percebi por que é que a padaria aqui do bairro, a startup que
está a dar os primeiros passos no UPTEC ou no Taguspark, ou até a
malograda Dona Branca, a banqueira do povo que também não dependia de
qualquer cartão bancário, nunca se abalançaram a lançar logo nos
primeiros dias de negócio uma cadeia de franchising capaz de ligar as
estradas de Lisboa a Riga, mas infelizmente ninguém dos gabinetes da
Comissão Europeia se dignou a explicar-me por que é que o futuro da
banca tem de ser restringido ao uso de tecnologias e standards
predeterminados que facilitam a vida aos grandes gigantes que já dominam
o mercado. Em contrapartida, não falta que me queira cobrar 1,2 euros
por cada transferência no MB Way.
IN "EXAME INFORMÁTICA"
09/04/19
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