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IN "SOL"
16/02/19
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O PS está a encostar-se
perigosamente
O rei, se não vai nu e ainda não está de tanga, já pelo menos deixou cair o manto
Para um ‘otimista irritante’, dizer que a maioria absoluta ‘é
virtualmente impossível’ quando ainda faltam oito meses para as eleições
e a oposição não dá sinais de conseguir afirmar-se como alternativa não
é propriamente o mais coerente.
António Costa disse-o na sua última entrevista (à SIC), sem qualquer engulho ou sequer espécie de incómodo.
Na verdade, o que António Costa é mesmo é pragmático. E batido. Muito batido.
Costa chegou a meio da legislatura com o BE, o PCP e as centrais
sindicais no bolso e, com o PSD enredado nos seus próprios problemas de
liderança, a maioria absoluta começou a surgir como possível no
horizonte dos socialistas.
Mesmo com a tragédia dos incêndios de junho e de outubro de 2017 e com o escandaloso assalto de Tancos.
Mas muito mais do que com as falhas graves do Estado nas suas funções
mais primárias - seja na proteção da vida dos seus cidadãos, seja em
matéria de segurança nacional -, Costa perdeu a ilusão da maioria
absoluta na segunda metade da legislatura e, particularmente, nos
últimos meses.
Porque os portugueses acreditaram nele e na ‘geringonça’ e nas
promessas reiteradas do fim da austeridade e de que, aos poucos, porque
obviamente não poderia ser tudo de uma vez, recuperariam rendimentos e
poder de compra.
Fala-se agora na frustração das expectativas dos professores, dos
enfermeiros, dos funcionários públicos, dos bombeiros, dos magistrados,
de uma lista infindável de eleitores naturalmente insatisfeitos por
estar a chegar ao fim a legislatura da ‘geringonça’ sem que os efeitos
do fim da austeridade se reflitam de facto (isto é, direta e
indiretamente) no bolso de quem mais se sacrificou.
Se alguém recuperou alguma coisa - utilizando uma célebre expressão de Costa - foi demasiado poucochinho.
Ora, as condições favoráveis da economia internacional, e europeia, e
do próprio desempenho nacional em termos de contas públicas - que, por
exemplo, beneficia hoje de taxas de juros na emissão de dívida com
mínimos históricos - não deveriam ter permitido que, em 2018, os
portugueses tivessem perdido poder de compra e baixado a produtividade.
Que, por incrível que pareça, perderam.
E isso paga-se.
Costa e Centeno, com uma habilidade de se lhes tirar o chapéu, já
encontraram solução para chegar a setembro de 2019 (mês de campanha
eleitoral para as legislativas) com o trunfo de ter invertido este
indicador: o poder de compra mede-se pelos bens essenciais num cabaz em
que o preço dos transportes é significativo - e a baixa do custo do
passe social (que afeta, naturalmente, as grandes áreas de concentração
da população) deverá ser bastante para que, chegados a setembro, os
números do poder de compra em Portugal, quase que por magia, sejam dos
que mais sobem na Europa.
Malabarismo. Puro malabarismo.
Tanto como dizer que estamos a convergir com a Europa. Não estamos.
Estamos a perder cada vez mais terreno para os países da nossa dimensão e
a crescer menos do que a esmagadora maioria dos países da UE. Isso é
factual. Como factual é o ordenado mínimo na nossa vizinha Espanha (900
euros) estar já 50% acima do nosso salário mínimo nacional (600 euros) -
quando, por exemplo, do Luxemburgo já vai nos 2500 euros.
Pois é. Apesar do discurso e de continuarmos ‘bons e bem comportados
alunos’, a verdade é que estamos cada vez mais na cauda da Europa.
E isso sente-se e é difícil de escamotear. Como é difícil continuar a esconder que os problemas estão longe de ter solução.
António Costa pode tentar disfarçar e contar com a sempre preciosa
ajuda do Presidente Marcelo - esse, sim, cada mais otimista, tanto que
perante o abrandamento da economia se apressou a dizer que até nem foi
mau, porque ele esperava que fosse pior (e isto não é conversa de
pessimista).
Mas as promessas incumpridas - ou, se se preferir, as expectativas
goradas - e casos como a falta de medicamentos nas farmácias e as
ameaças à ADSE (sistema de saúde que chega a ser mais caro para muitos
funcionários públicos do que um seguro privado) já são indisfarçáveis.
Ora, é neste cenário - ainda de confiança face ao estado da oposição,
mas sem ilusões quanto à impossibilidade de maioria absoluta - que os
socialistas reúnem hoje em Convenção Nacional e em secretariado
convocado à sorrelfa para aprovar a lista às europeias e a estratégia
para o ciclo eleitoral que se avizinha.
E a verdade é que a lista do PS ao Parlamento Europeu é muito fraquinha.
A promoção de Pedro Nuno Santos a ministro pode dar uma certa ideia
de compensação entre as hostes socialistas, mas é muito pouco para
ninguém no PS ousar levantar a garimpa e dizer que o rei, se não vai nu e
ainda não está de tanga, já, pelo menos, deixou cair o manto.
O PS está a encostar-se ao relativo sucesso de uma ‘geringonça’ que,
embora tendo sobrevivido a uma legislatura e tendo chegado a dar ideia
de solidez, não deixou de ser ‘geringonça’.
E acreditar que a oposição não chega lá por falta ou debilidade de
liderança pode ser um erro fatal: o poder, mais do que conquistar-se,
perde-se. Não sendo em 2019, pode, desde já, sem maioria absoluta, ficar
definitivamente fragilizado.
IN "SOL"
16/02/19
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