Existem duas formas de "ter o nome" no Banco de Portugal.
A primeira é, obviamente, trabalhar lá, para controlar as boas
práticas financeiras e regular os abusos e o caos bancário. Como temos
visto, e já vamos conhecendo alguns dos tais nomes, isso não tem
resultado de todo. Em todo o caso, além da falência técnica dos bancos
que arrasta o dinheiro dos contribuintes e depositantes para um poço sem
fim, poucas ou nenhumas conclusões aparecerão e nenhumas resoluções de
monta serão tomadas.
A segunda maneira de ter o nome no Banco de
Portugal é mais comum a todos nós. Nasce do principio da desconfiança
que caracteriza a relação entre serviços (públicos/privados) e cidadão
(cliente/contribuinte). Por exemplo dever uma prestação a um banco.
Mesmo que a vossa divida seja apenas de dois ou três dígitos, todo um
processo se levanta e já vai bem avançado quando se dignam a nos
notificar. Ademais, a diferença de dígitos da divida interessa. Se
adicionarem mais uns zeros à direita, terão melhor hipótese de passarem
pelos pingos da chuva e negociarem à mesa, sem e-mails ou SMS
ameaçadores recebidos a um ritmo diário. Think big!
No entanto se
é, como dizem, quase tecnicamente impossível para um banco, por exemplo,
contactar com gentileza o seu cliente e dizer-lhe olhe Sr. Não sei
quantos, temos aqui um saldo seu o qual podemos transferir para liquidar
a sua divida na totalidade e fechar o assunto; o mesmo não se passa com
todo o circuito armadilhado e coercivo que está montado e que vai
destruindo empresários e famílias sem que ninguém se importe realmente
com isso. A classe média hoje tem duas hipóteses: pagar ou pagar e
correr atrás do prejuízo de modo a que mesmo pagando, não seja
considerado uma espécie de bandido com o nome na policia do Banco e
impedido, por tuta e meia, de movimentar contas, assumir créditos e
fazer das tripas coração para alimentar todas as bocas e todas as mãos
estendidas.
Na mesma óptica de perseguição ao cliente, trabalham
as operadoras de telecomunicações. Noutros países, a qualidade do
serviço e a relação com o preço, são os únicos indicadores e
possibilitadores de uma fidelização a esse mesmo serviço. Por cá é
compulsiva. Acabar com uma assinatura dessas é mais difícil que um
divórcio, por exemplo. Um trabalho árduo que por vezes requer
assistência legal, muita paciência, tempo, e mais dinheiro.
O
triangulo fecha-se com a proliferação dos escritórios de contencioso,
designados e treinados como cães de caça para farejar os 30€ que a
senhora idosa de Monte de Bois, Alcobaça está a dever da internet que
não utiliza, do fixo que nem tirou da caixa e das dezenas de canais que
nem vê. Não se vendem serviços sem ser em "pacote" e é na pacotilha do
discurso de estagiários "telecobradores" que também se verifica o
descuido e o desprezo com que os serviços tratam o utilizador e a
impunidade com que o fazem.
A tudo isto assiste um principio que é
preocupante, mas que tem dominado muita da interação com o cidadão e
desequilibrado em definitivo, a escala da relação de poderes com que se
desenha a sociedade. É o principio da desconfiança, imposto por decreto e
que entrega o poder às instituições públicas ou privadas para fazerem
de nós aquilo que bem entenderem.
IN "TSF"
17/02/19
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