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HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
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Contaminados do Seixal vão dar sacos com limalhas e pó branco aos deputados
Depois de muitos alertas e cartas para a Assembleia da República, deputados vão visitar a Aldeia de Paio Pires (Seixal) para ver as condições da Siderurgia Nacional e se está a prejudicar a saúde dos 15 mil habitantes ao seu redor.
Um
pó branco nos carros, vidros e parapeitos a que por vezes se junta um
pó negro. Limalhas que se apanham com um íman. Fumo escuro que sai das
chaminé da Siderurgia Nacional - atual SN Seixal
- e que não se sabe qual o seu impacte no ambiente. Perguntas da
população a que ninguém responde.
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Habitantes que apenas sabem que há uma
investigação liderada pelo Ministério Público depois de terem sido
apresentadas cerca de três dezenas de queixas na Guarda Nacional
Republicana. E que vão ser entregues duas ações em tribunal: uma popular
e outra cível.
Este é o dia-a-dia dos moradores da Aldeia
de Paio Pires, no Seixal, desde 2013, altura em que começaram a ver as
casas, os carros e as ruas atingidos com um pó branco que custa a sair
dos automóveis e das varandas e a assistir à queda de partículas que
conseguem agarrar com um íman.
Por isso estão até esta
quinta-feira a recolher resíduos e a colocá-los em sacos que amanhã
(sexta-feira, 15) pretendem entregar aos deputados da comissão
parlamentar de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização,
Poder Local e Habitação que vão visitar as instalações da Siderurgia
Nacional/MAGASA (o programa inclui idas à central de oxigénio,
tratamento das escórias e forno elétrico). Depois devem reunir-se com o
presidente da Câmara do Seixal e com os representantes da associação "Os
Contaminados".
Este grupo tem liderado os alertas sobre a situação que os 15 mil habitantes da freguesia enfrentam. Na rede social Facebook criaram um grupo onde divulgam fotos e apelos
- como o da recolha de resíduos para comprovarem as suas queixas - e já
escreveram duas cartas ao Presidente da República onde em 16 páginas
contam o que se passa na localidade, juntando fotos que comprovam as
suas teses.
Põem ainda algumas questões: "É verdade que a
incidência/prevalência de doenças do foro respiratório, desde a mais
simples alergias aos já mencionados carcinomas e DPOC, ultrapassam, em
Aldeia de Paio Pires, a média nacional?"; "Podem - governo e autarquias -
garantir que o ar que se respira, em Aldeia de Paio Pires (e zonas
limítrofes, num raio de vários quilómetros), em momento algum representa
um perigo para a saúde pública?"
São questões para as
quais não conseguem ter respostas, como adianta ao DN João Carlos
Pereira, um dos elementos da associação. "Já fizemos tudo o que era
humanamente possível [alertas para a questão]. Em 2013 isto atingiu os
limites do inimaginável. As melhores práticas [ambientais] eram
ignoradas pela empresa. E as nossas queixas foram ignoradas pelo poder
central e local", explica, frisando: "Ninguém nos diz quais os efeitos
na saúde pública."
Lembrando que à luz da legislação
atual a Siderurgia "não podia estar ali" - a zona industrial está
literalmente do outro lado da rua em relação à Aldeia de Paio Pires -,
garante que não querem que saia dali, querem "que cumpra a legislação
ambiental". "Deviam ser feitos rastreios, estudos epidemológicos,
medições da qualidade do ar, etc. Mas isso não acontece", acusa.
"Há no ar partículas de toda a gramagem que depois caem na
fruta, nas hortaliças, limalhas e poeiras que podem ser potencialmente
cancerígenas. Mas não há dados publicados. Porque escondem esses
estudos? No dia em que se souber o que se passa aqui, muita gente vai
ser responsabilizada", frisa, garantindo: "É isto que vamos dizer aos
deputados."
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João Carlos Pereira alega que a empresa não
"utiliza as técnicas mais modernas. O que a SN expele chega a atingir os
cinco quilómetros daqui. As principais escolas da freguesia estão a sul
da Siderurgia e os miúdos quando estão no recreio apanham com aquilo".
Da
empresa diz que nunca recebeu um contacto durante o tempo que leva de
denúncias e agora aguarda pelo andamento da queixa, a segunda, que
entregou no Ministério Público. "Fizemos 30 queixas na GNR. Na
primeira vez o processo foi arquivado por falta de provas, por isso
pedimos às pessoas para recolherem os resíduos", adianta, acrescentando:
"O parapeito da minha varanda está cheio de um pó que posso recolher
com um íman."
A visita dos deputados surge na sequência dos alertas da associação
"Os Contaminados", denúncias a que a autarquia do Seixal também não
ficou indiferentes.
Por isso aprovou no dia 30 de janeiro um documento em que exige uma
"Melhor qualidade de Vida - Tolerância Zero à Poluição Industrial" e
o presidente da câmara, Joaquim Santos (PCP), tal como elementos da
junta de freguesia, também estarão presentes na reunião que decorrerá na
tarde de sexta-feira no Clube de Pessoal da Siderurgia Nacional.
Encontro
em que não irão parar os protestos nem as ações em tribunal: uma
popular, que vai ser interposta por "Os Contaminados" e outra cível, que
foi entregue no Tribunal de Almada pela Associação Terra da Morte
Lenta, que pede a suspensão da atividade da Siderurgia e uma
indemnização de 500 milhões de euros.
Quanto à câmara, na moção aprovada no penúltimo dia de janeiro exige
"aos ministérios do Ambiente e da Economia, bem como à SN Seixal/Megasa,
a assunção das suas responsabilidades na resolução desta situação
totalmente inaceitável" e lembra que o Estado terá "ignorado o parecer
da Câmara Municipal do Seixal sobre a renovação da licença ambiental da
SN Seixal/Megasa".
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Pode ler-se ainda que foi pedido um "estudo acústico que teve
como principal objetivo verificar a conformidade com o Regulamento
Geral de Ruído do funcionamento da atividade industrial SN Seixal,
documento que foi remetido ao IAPMEI a 7 de setembro de 2018. Nele se
registou o incumprimento do requisito acústico disposto no artigo 11.º
do Regulamento Geral do Ruído".
E que "está também em
desenvolvimento um estudo epidemiológico que foi adjudicado à Escola
Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Universidade Nova de Lisboa, no
passado dia 17 de julho de 2018, tendo sido criado um grupo de trabalho
que integra a Câmara Municipal do Seixal, a Administração Regional de
Lisboa e Vale do Tejo e o Agrupamento de Centros de Saúde Almada-Seixal.
O estudo, adjudicado à ENSP, realizado em parceria com o
Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, teve início a 10 de
setembro de 2018 e terá uma duração de sete meses. Foram também
remetidas para análise do Institute for Nuclear Research - Hungarian
Academy of Sciences, em colaboração com o Centro Tecnológico Nuclear do
Técnico, partículas recolhidas em Aldeia de Paio Pires".
* Devem ter rolado muitas alvíssaras para aquela indústria continuar a laborar impunemente, dos destinatários nada se sabe como é hábito.
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