02/01/2019

CLARA RAPOSO

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2019 – Investir para o Futuro

Este artigo é publicado no primeiro dia útil do ano. Celebrámos a chegada de 2019 com um primeiro dia feriado (um dia "inútil", mas muito desejado!) e com desejos de felicidade para o novo ano, misturados com alguma cautela.

A minha resolução de ano novo é encarar o futuro com confiança. Na esperança de que essa confiança se traduza em investimento em 2019 – e refiro-me a investimento em geral, não apenas público nem apenas privado.

Vamos a um ponto de situação para antevermos o que nos espera? O ano de 2018 encerrou com as bolsas nervosas, em trajetória descendente, embora nos últimos dias dando sinais de recuperação. O mercado nacional deverá continuar influenciado pelo que se passa nos mercados mundiais. Estes, por sua vez, têm estado dominados por duas variáveis concretas: Expectativas de aumento de taxa de juro (em consonância com o que se espera da política monetária do FED e do BCE) e receio de abrandamento do crescimento económico.

Estas expectativas não são alheias a fatores geopolíticos internacionais, como o comportamento errático e as ameaças que pairam sobre a administração americana, a permanente tensão comercial entre os Estados Unidos e outros blocos comerciais (particularmente a Europa e a China),  o maior gradualismo no crescimento económico da China (sem prejudicar o seu posicionamento nas grandes empresas mundiais) e  movimentos de natureza populista e separatista, com destaque para a "big mess" que é o Brexit.

Para as empresas Portuguesas, do calçado ao turismo, passando pela metalomecânica, estes efeitos acarretam necessidade crescente de inovação e criatividade. As notícias vindas dos mercados mundiais constituem um enorme desafio que, espera-se, a capacidade criativa dos empresários portugueses saberá enfrentar. Alguns dos maiores mercados de destino de empresas portuguesas estão em disrupção: veja-se alguma instabilidade em Espanha, incerteza na Alemanha, crise a diversos níveis em França e a "big mess" em Inglaterra, como já referi. Maior base exportadora, mais empresas exportadoras, diversificação de mercados e capacidade de assunção de risco precisam-se, tal como políticas públicas cada vez mais alinhadas com estas realidades. O Investimento constituirá necessariamente a variável chave de ajustamento, tendo em atenção a baixa taxa de poupança e o ainda elevado nível de endividamento.

Espera-se que 2019 traga um acréscimo de Investimento público, em resultado, aliás, do trabalho de consolidação orçamental que tem vindo a ser levado a cabo. A natureza desse investimento público deverá considerar um equilíbrio entre prioridade para infraestruturas de maior visibilidade ao serviço das populações – saúde e transportes constituem exemplos mediáticos óbvios – e investimento com características reprodutivas, como é o caso da educação, com o intuito de melhorar estruturalmente o acesso a profissionais qualificados e mão de obra especializada.

2019 é, também, ano de eleições, pelo que se espera contestação social, com greves e reivindicações. Não deixa de ser importante que Portugal continue a ser visto como um bom destino para investimento e com um nível moderado de conflitualidade social e risco. Nesse sentido, a aposta pública, que já conhecemos, de redução de dívida (recorde-se o reembolso total da dívida ao FMI), continuará a marcar presença, mesmo que com algum sacrifício de crescimento no curto prazo.

Temos 364 dias pela frente para fazermos de 2019 um ano, de facto, feliz. Para além de estar atenta a tudo aquilo que não temos e que devia ser melhor (e é certo que há muito a melhorar!), irei buscar energia ao "lado B" da nossa vida: saboreando os dias em que estiver sol, em que nos rimos, em que nos sentimos com saúde, em que lemos um bom livro e almoçamos bem, em que vivemos em paz. Não podemos evitar completamente a incerteza e alguma imprevisibilidade – é assim a vida, faz parte do seu charme – mas temos de nos munir de confiança e coragem para enfrentar novas exigências. Nesse sentido, nada como apostarmos na nossa maior capacitação. Assim se gera confiança. Investir hoje para colher mais tarde, sim, há que tentar.

PS – Feliz Ano Novo! Com saúde, alegria e paz. Tudo o resto vem por arrastamento...

Dean do ISEG - Lisbon School of Economics & Management - Universidade de Lisboa

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
01/01/19

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