03/12/2018

ROSÁRIO GAMBOA

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 A miragem centralista

No passado dia 13 a Associação Comercial do Porto apresentou publicamente um estudo, encomendado à Universidade do Minho, coordenado pelo Prof. Fernando Alexandre, dedicado às Assimetrias e Convergência Regional - Implicações para descentralização e desconcentração do Estado em Portugal.

O estudo demonstra algumas evidências, já conhecidas, conferindo-lhes suporte com base em dados sólidos e avança com outras de enorme relevância, devolvendo-nos a imagem de um país centralizado e desigual.

Uma das dimensões analisadas no estudo é a relação entre economia, população e qualificações. Não há, como o sabemos, desenvolvimento económico e capacidade competitiva no seio de uma economia do conhecimento global sem gente qualificada, pessoal e profissionalmente, tal como não há democracia.

O país fez nas últimas décadas enormes progressos no domínio da educação e do Ensino Superior. Este é um facto que nos orgulha e deve ser reconhecido. Mas há, também, nesta dimensão, profundas assimetrias regionais que sinalizam um sintoma e prenunciam problemas.

Tomando por foco de análise as NUTS II - unidades territoriais (UT) -, durante o período de recessão pós-crise (2008-12) e o período de recuperação (2012-16), objetiva-se que a UT Norte apresenta o PIB per capita (pc) mais baixo face à média nacional. Numa focagem mais estreita (NUTS III), percebemos que a evolução entre 2008/16 foi desigual. A Área Metropolitana de Lisboa mantém, mesmo em queda, o PIB pc mais elevado a nível nacional, sendo 135% superior ao mais baixo, a UT Tâmega e Sousa.

Apesar do incremento significativo da Indústria transformadora (3.0º lugar nas NUTS III), do seu esforço e capacidade exportadora, o Tâmega e Sousa é a região que apresenta níveis de qualificação mais baixos nos trabalhadores - média de 8,2 anos de escolaridade vs. 10,2 média nacional (m.n.) e destes só 8,8% são diplomados (19% m.n.) - bem como nos gestores diplomados - 21% (47% m.n.).

O Tâmega e Sousa perdeu população (-17%) e, tal como outras regiões, assistiu à fuga de recursos humanos para centros mais atrativos.

Há um ciclo trágico que se autoalimenta num país apertado pela miragem centralista.


IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
30/11/18

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