Era dos extremos
A semana
foi pródiga em boas notícias, sobretudo se preferirmos a versão
otimista dos acontecimentos. A grande cimeira tecnológica regressou a
Lisboa e a organização já revelou alguns grandes números: 69 304 pessoas
de 159 países, 1200 oradores, 1800 startups, 1500 investidores, 2600
jornalistas.
Existem alertas
de que as tecnologias e a inovação apresentadas são, na sua maioria,
superficiais e não permitem, por isso, criar valor de forma sustentada,
mas a Web Summit coloca Portugal numa rota internacional que serve de
impulso interno. A principal advertência foi, contudo, para esta nova
forma de desigualdade que, se nada fizermos, cavará um fosso ainda maior
entre ricos e pobres.
Boa notícia foi
também o resultado das eleições intercalares nos EUA, com uma vitória
dos democratas no órgão legislativo, o que talvez permita moderar a ação
de Trump na sua fúria belicista.
Não é apenas a guerra comercial ou a
retirada do acordo relativo às alterações climáticas, mas sobretudo o
deliberado afastamento dos mecanismos de consenso e solidariedade
internacional. Que acontecerá nos próximos dias aos milhares de
migrantes, na sua maioria hondurenhos, que caminham em direção à terra
da esperança? Além dos militares que os esperam, o presidente dos EUA
anunciou que vai diminuir a ajuda à América Central, contrariando a
solução de apoiar o desenvolvimento dos países de origem.
Outra
boa notícia foi a declaração do presidente eleito do Brasil, na sessão
comemorativa dos 30 anos da Constituição, de que esse é o único norte da
democracia. Claro que a Constituição não impede a nomeação da nova
ministra da Agricultura, conhecida como "musa do veneno" pelo empenho na
liberalização dos pesticidas, conforme exigido pelo setor do
agronegócio. A lei seguirá agora sem obstáculos, como aliás o candidato
prometera na sua política dos três bês: bíblia, boi, bala.
Mas
talvez a melhor notícia foi ter reencontrado o livro do historiador
Eric Hobsbawm "Era dos extremos", em que analisa o breve século XX que
situa entre 1914 e 1991 e divide em três eras: a catástrofe das duas
grandes guerras com origem no descrédito das democracias, os anos
dourados do pós-guerra plenos de renovação e, a partir dos anos 70, a
brutalidade destrutiva do domínio financeiro.
A vantagem da História é
que nos ensina a relativizar o presente e compreender que atrás de
tempos vêm tempos e outros tempos hão de vir.
* PROFESSORA UNIVERSITÁRIA
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
11/11/18
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