15/10/2018

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HOJE NO 
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Riade ameaçou e Trump recuou na
.atribuição de responsabilidades

O presidente dos EUA disse que jornalista saudita poderá ter sido morto por “assassinos por conta própria” e diz que negação de Riade foi “muito, muito forte”

O presidente norte-americano, Donald Trump, referiu-se à possibilidade de terem sido “assassinos por conta própria” os responsáveis pelo desaparecimento (e possível morte) do jornalista saudita Jamal Khashoggi, de 59 anos. A especulação surgiu após o chefe de Estado ter telefonado ao rei saudita, Salman, para lhe perguntar se o reino estava envolvido no desaparecimento. “A negação foi muito, muito forte”, disse Trump aos jornalistas. “Parece-me que talvez tenham sido assassinos por contra própria. Quem sabe?”.
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Ontem, estava marcada uma visita para recolha de provas pela polícia turca no consulado saudita em Istambul, na Turquia, para se apurar se Khashoggi terá sido torturado e morto no edifício. Horas antes, uma equipa de limpeza, com material e batas, entrou no consulado.

O jornal turco “Daily Sabah” avançou com a possibilidade de o relógio Apple de Khashoggi ter gravado o som do “interrogatório, tortura e assassínio no iphone e na cloud”. No entanto, a distância entre o interior do consulado e o iphone, que se encontrava no exterior, levanta dúvidas sobre essa possibilidade. “Parece muito mais provável que tenham [as autoridades turcas] outros meios para descobrirem o que andam a fazer os diplomatas estrangeiros e que seja uma história de encobrimento útil”, escreveu o analista de tecnologia Rory Cellan-Jones na BBC.

A breve conversa telefónica entre Trump e Salman foi uma tentativa de se evitar a escalada da tensão diplomática entre aliados próximos, depois de no domingo Riade ter ameaçado com “uma punição ainda maior” se fosse alvo de sanções por Washington. “O reino reitera a sua total rejeição de qualquer ameaça ou tentativa de o debilitar, quer através de ameaças de sanções económicas ou do uso de pressão política”, afirmou uma fonte oficial do reino à agência SPA, referindo ainda que a “economia saudita desempenha papéis vitais e influentes na economia global”. Um claro aviso sobre os riscos de um eventual aumento do petróleo nos mercados internacionais, relembrando o choque petrolífero de 1973, quando Riade (e a OPEP) o fez em protesto pelo apoio ocidental a Israel durante a Guerra do Yom Kippur.

O telefonema não foi a única ação para minimizar as tensões. Trump também ordenou ao secretário de Estado, Mike Pompeo, que se dirigisse “imediatamente” à capital saudita, segundo um breve comunicado do Departamento de Estado.

O líder da Casa Branca tem sido pressionado para cancelar o acordo de venda de armas a Riade, no valor de 110 mil milhões de dólares nos próximos dez anos, mas, no sábado, garantiu que seria “insensato” desfazer o acordo. “Apenas nos estaríamos a prejudicar”, afirmou à margem de um comício no Kentucky, referindo-se aos postos de trabalho que o negócio mantém. Mas nem por isso deixou, no mesmo dia, de enviar um forte recado ao seu aliado numa entrevista ao programa “60 Minutos”: “Vamos chegar ao fundo disto e haverá duras punições”, ainda que tenha acrescentado que “ninguém sabe” se responsáveis sauditas estiveram envolvidos no desaparecimento do jornalista. 

Ontem, Trump livrou Riade 
de qualquer responsabilidade.
Relembre-se que o reino está envolvido, desde 2015 e com o apoio tácito dos EUA, numa guerra no Iémen, precisando de armamento para a levar a cabo. Em troca do acordo, Riade mantém o preço do petróleo baixo, contribuindo para melhores condições na economia mundial. Além disso, a Arábia Saudita ganhou  importância geoestratégica acrescida por Washington estar a tentar cortar o fornecimento de petróleo iraniano aos mercados internacionais, tornando-os completamente dependentes do petróleo saudita. O reino produz dez milhões de barris por dia, afirmando-se como o maior produtor mundial. Se decidir diminuir a produção diária ou aumentar o preço, a economia mundial irá sofrer, principalmente os EUA, que, por sua vez, caminham para as eleições intercalares de novembro. A subida do preço da gasolina em solo norte-americano poderá custar votos aos republicanos num momento de intensa polarização política com os democratas.

O petróleo sempre foi o principal instrumento da política externa saudita e Riade já o usou mesmo contra si em prol de outros objetivos. Nos últimos anos, desceu o preço do petróleo a pedido dos EUA, mesmo que o seu défice aumentasse.  Em 2018, Riade disse estar confortável com o barril nos 81 dólares, quando as previsões de défice do reino apontavam para os 7,3% do PIB. Segundo o FMI, para que Riade pudesse equilibrar as suas contas públicas precisaria de vender cada barril entre os 85 e os 87 dólares.

* Já se sabia que Donald Trump era um mestre em cobardia, forte só com os fracos, este recuo confere-lhe o doutoramento em "merdicas"


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