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Este calor é normal para esta época do ano?
Em entrevista ao Observador, a meteorologista Patrícia Gomes, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, confirma que o calor dos últimos dias não é normal para esta época do ano. O mês de setembro é um mês de transição porque “nos primeiros dez dias ou na primeira quinzena as temperaturas costumam ser mais elevadas e mais próximas das do verão, mas na segunda semana costumam ser mais baixas e amenizam”.
Porque é que está tanto calor?
Até quando vai durar este calor?
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HOJE NO
"OBSERVADOR"
"OBSERVADOR"
Temperaturas de setembro estão até 7ºC mais altas do que a média. Porquê?
Não, este calor em setembro não é normal. As temperaturas dos últimos
dias estão entre 4ºC e 7ºC acima da média calculada nos últimos 30 anos.
E a culpa não é apenas do anticiclone dos Açores.
Há uma semana que o hemisfério norte do planeta entrou no outono e
com ele deviam ter chegado as temperaturas gradualmente mais baixas. É o
que dizem os meteorologistas, explicam os professores e sugerem os
manuais científicos há centenas de anos: desde o primeiro dia de verão
até ao primeiro dia de inverno, a inclinação dos raios que chegam à
Terra aumenta, com ela aumenta a distância percorrida e também a área
por onde se distribuem. Consequência: está mais frio. Ou pelo menos
devia estar. Então, porque é que não está?
Apesar dos alertas de
trovoada emitidos para o interior norte do país — em Vila Real o granizo
até já está a provocar estragos — a verdade é que o mercúrio dos
termómetros continua a atingir valores estranhos para a época. Os
índices de risco de incêndio mais baixos são os amarelos para Lisboa e
Évora: Faro, Bragança e Castelo Branco até estão com índices vermelhos. E
enquanto a chuva provoca inundações e derrocadas nos Açores, em
território continental há cidades a chegar aos 36ºC de temperatura
máxima às portas de outubro.
De quem é a culpa? A resposta é a do costume: do anticiclone dos Açores. Mas não só.
Este calor é normal para esta época do ano?
Não. De norte a sul do país, a tendência em setembro tem sido sempre a
mesma: as temperaturas registadas em 2018 estão entre quatro graus e
sete graus acima do que era expectável para este mês, tendo em conta a
média calculada pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera nas
últimas décadas. E tanto as temperaturas máximas como as mínimas estão
acima do normal para o final do mês de setembro.
Em entrevista ao Observador, a meteorologista Patrícia Gomes, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, confirma que o calor dos últimos dias não é normal para esta época do ano. O mês de setembro é um mês de transição porque “nos primeiros dez dias ou na primeira quinzena as temperaturas costumam ser mais elevadas e mais próximas das do verão, mas na segunda semana costumam ser mais baixas e amenizam”.
Não é o que está a
acontecer: as temperaturas dos últimos dias são mais elevadas do que é a
média de valores registados nos últimos trinta anos pelo Instituto
Português do Mar e da Atmosfera — uma média que, apesar de tudo, “não é
muito elevada”. Alguns exemplos: no Porto, a média de temperaturas
registadas é de 23,4ºC mas na quarta-feira o mercúrio dos termómetros
subiu até aos 30ºC. Em Santarém, a média de temperaturas em setembro é
de 28,9ºC mas registaram-se valores a rondar os 36ºC na quarta-feira. E
em Lisboa, a média de setembro é 26,7ºC mas a capital chegou aos 33,7ºC
na quarta-feira.
Porque é que está tanto calor?
Este calor está a atingir Portugal Continental porque o anticiclone
dos Açores, um grande centro de altas pressões atmosféricas perto
do arquipélago, “não está na posição habitual para esta época do ano”,
explicou Patrícia Gomes.
De acordo com a meteorologista, “neste
momento há um núcleo desse anticiclone por cima da Europa Central e
outro a oeste nas Ilhas Britânicas”. Entre esses dois núcleos do
anticiclone dos Açores apontados por Patrícia Gomes, o que está a oeste
das Ilhas Britânicas é o que mais está a influenciar o estado do tempo
em Portugal Continental, porque está “numa posição de bloqueio” que
impede as perturbações frontais vindas do norte da Europa de chegar ao
país. Essas são as perturbações que costumam trazer temperaturas mais
baixas, vento mais húmido e nebulosidade de entre 50% e 60% no final de
setembro.
Além de o país estar resguardado do tempo mais fresco vindo do norte
da Europa, há mais dois aspetos que também justificam porque é que está
tanto calor, uma semana depois de o outono ter chegado ao hemisfério
norte. O primeiro aspeto é o facto de Portugal Continental estar na rota
de uma massa de ar quente e seco vindo do norte de África e de algum ar
quente vindo do interior da Europa.
O segundo aspeto é que a
crista do anticiclone dos Açores — uma região alongada de altas pressões
atmosférica onde o ar fica mais seco, há menos humidade e, portanto,
menos formação de nuvens que possam dar origem à chuva — estende-se até
ao espaço entre o arquipélago dos Açores e o da Madeira. Por isso, a
humidade relativa do ar trazida do mar não é muito elevada. E como a
brisa marítima, que já devia soprar com mais intensidade nesta altura do
ano, continua fraca, a sensação de calor ainda se acentua mais.
Até quando vai durar este calor?
Ainda esta quinta-feira pode haver alguma chuva e trovoada no
interior norte e centro de Portugal Continental até pelo menos às dez da
noite. Desta noite para a frente também pode haver algumas nuvens, mais
vento no litoral oeste e uma brisa marítima mais forte. Mas embora seja
difícil fazer previsões meteorológicas a partir de segunda-feira, o
calor deve continuar por cá pelo menos até ao fim de semana ou início da
próxima semana.
E a culpa disso, desta vez, não é apenas do
anticiclone dos Açores. É de um ciclone pós-tropical “com alguma
atividade” que “desagravou, mas que agora está outra vez a agravar” e
que, neste momento, está a passar a oeste dos Açores, alertou a
meteorologista: chama-se depressão Leslie, tem “uma grande dimensão” e
entrou num jogo de forças com o anticiclone dos Açores. Esse tipo de
depressões são normais para a época do ano em que estamos: o período de
ciclones tropicais começam em junho, terminam a 30 de novembro e
acentua-se na última metade de agosto e durante o mês de setembro. Mas
este é especial porque está numa luta de poder com o anticiclone dos
Açores.
Enquanto assim for, uma brisa mais fria pode chegar a
Portugal Continental e aliviar o calor. Só que o resultado dessa batalha
entre a depressão Leslie e o anticiclone dos Açores já é conhecido: o
anticiclone vai levar a melhor. De acordo com o Instituto Português do
Mar e da Atmosfera, o Leslie vai começar a encaminhar-se mais para oeste
deixando de influenciar tanto o tempo em Portugal Continental. E não só
o anticiclone vai deixar de ter concorrência, como até se vai
intensificar. E, com isso, o calor vai continuar por cá.
* Está explicado porque devemos ter cuidado.
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