09/07/2018

RICARDO MIGUEL OLIVEIRA

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Saber retribuir

Ir às comunidades não é turismo, “feição” que a política moribunda não capta

Falar dos políticos e perguntar aos partidos de que lado estão, se cúmplices das grandes causas ou entretidos com os seus interesses mesquinhos, é tempo perdido. Confundem apelos à coerência com ameaças e a representatividade legitimada com a patetice atrevida. Em vez da leitura séria de documentos dedicam-se à deturpação desenfreada, como se tresler desse votos. Preferem fazer títulos, cartazes, likes e comentários arruaceiros do que pactuar com a verdade. Perante poderes assim, preocupantemente moribundos, viremo-nos pois para o essencial que, mesmo não estando por perto, exige dedicação.

É o Presidente da República quem exorta a tamanha postura. Quando esteve recentemente em Washington, Marcelo Rebelo de Sousa notou que “a mudança em algumas feições da concretização da política externa portuguesa”, sustentada na apetência lusa para ser ponte, deve contagiar quem vê para além do óbvio. A receita é simples. Mesmo que alguns fiquem com saudades repentinas e inexplicáveis, os líderes responsáveis estão obrigados a “mais contactos internacionais”, com “visitas de trabalho mais numerosas, mais intensas e mais curtas”, tanto mais que Portugal tem “comunidades poderosas” um pouco por todo o lado.

Não fazemos por menos. O DIÁRIO tem missão informativa alicerçada na defesa dos interesses dos madeirenses e afirma-se como porta voz dos princípios e valores por estes aceites onde quer que se encontrem. Também por isso sempre olhou para as comunidades espalhadas pelo Mundo com atenção e respeito, acarinhando a diversidade, projectando os bem sucedidos e ajudando os mais necessitados.

Nos últimos tempos não tem sido fácil dizer olhos nos olhos, sobretudo na Venezuela, que estamos eternamente gratos pela capacidade de trabalho dos nossos emigrantes e pelo empenho na preservação das referências e que estamos sempre por perto, disponíveis para sermos aliados dos legítimos projectos de vida. Estivemos mais ausentes do que é habitual pelas razões que todos conhecem, mas também porque concentramos forças no apoio e acolhimento das centenas de emigrantes que foram chegando à ilha, determinados em começar uma nova aventura porque fartos da fatalidade, da insegurança, da fome, da incompreensão e das inúmeras perdas.

Na semana passada voltamos. Para levar esperança. Para manifestar solidariedade. Para reafirmar e partilhar a elevada estima por uma comunidade por vezes incompreendida. Para ouvir o que lhes ia na alma. Para encorajar os resistentes. Para retribuir o que muitos já deram a toda uma Região onde têm a origem, a família e os investimentos.

A grandeza desta gente toca quem tem valores que não se trocam pelas circunstâncias e lá fomos de novo porque é nas horas difíceis que importa deixar uma palavra amiga, um abraço reconfortante e um incentivo ao altruísmo. Temos orgulho na obra pessoal e colectiva que todos ergueram naquele País e, sem medo do imprevisto, decidimos arriscar.

Em Maio já tínhamos ido sentir de perto a dor de um povo amargurado, para levar ao mundo retratos de uma Venezuela em agonia. Sem filtros, nem preconceitos. O jornalista Nicolau Fernandes tem contado com mestria que por aquelas bandas sinuosas não há silêncio. “Tudo é um grito” presente nas histórias que tem escrito. E há um que continua a ecoar. Houve quem dissesse: “Não se esqueçam de nós!”.

Não nos esquecemos. Não podemos ignorar gente que vive e, em muitos casos, sobrevive, “com dificuldades, muita imaginação e sentido do desenrasque que nunca perdeu, agora com o engenho e arte ainda mais aguçados pelas muitas carências”.

É com emoção que agradecemos a forma amiga como nos acolheram num regresso entusiasmado. Quem ali concretizou sonhos merece o melhor. Não prometemos o que não depende de nós, mas garantimos que podem contar com o nosso empenho para que nunca vos falte o que vos torna dignos.

IN "DIÁRIO  DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
08/07/18

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