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Saber retribuir
Ir às comunidades não é turismo, “feição” que a política moribunda não capta
Falar
dos políticos e perguntar aos partidos de que lado estão, se cúmplices
das grandes causas ou entretidos com os seus interesses mesquinhos, é
tempo perdido. Confundem apelos à coerência com ameaças e a
representatividade legitimada com a patetice atrevida. Em vez da leitura
séria de documentos dedicam-se à deturpação desenfreada, como se
tresler desse votos. Preferem fazer títulos, cartazes, likes e
comentários arruaceiros do que pactuar com a verdade. Perante poderes
assim, preocupantemente moribundos, viremo-nos pois para o essencial
que, mesmo não estando por perto, exige dedicação.
É o
Presidente da República quem exorta a tamanha postura. Quando esteve
recentemente em Washington, Marcelo Rebelo de Sousa notou que “a mudança
em algumas feições da concretização da política externa portuguesa”,
sustentada na apetência lusa para ser ponte, deve contagiar quem vê para
além do óbvio. A receita é simples. Mesmo que alguns fiquem com
saudades repentinas e inexplicáveis, os líderes responsáveis estão
obrigados a “mais contactos internacionais”, com “visitas de trabalho
mais numerosas, mais intensas e mais curtas”, tanto mais que Portugal
tem “comunidades poderosas” um pouco por todo o lado.
Não fazemos
por menos. O DIÁRIO tem missão informativa alicerçada na defesa dos
interesses dos madeirenses e afirma-se como porta voz dos princípios e
valores por estes aceites onde quer que se encontrem. Também por isso
sempre olhou para as comunidades espalhadas pelo Mundo com atenção e
respeito, acarinhando a diversidade, projectando os bem sucedidos e
ajudando os mais necessitados.
Nos últimos tempos não tem sido
fácil dizer olhos nos olhos, sobretudo na Venezuela, que estamos
eternamente gratos pela capacidade de trabalho dos nossos emigrantes e
pelo empenho na preservação das referências e que estamos sempre por
perto, disponíveis para sermos aliados dos legítimos projectos de vida.
Estivemos mais ausentes do que é habitual pelas razões que todos
conhecem, mas também porque concentramos forças no apoio e acolhimento
das centenas de emigrantes que foram chegando à ilha, determinados em
começar uma nova aventura porque fartos da fatalidade, da insegurança,
da fome, da incompreensão e das inúmeras perdas.
Na semana
passada voltamos. Para levar esperança. Para manifestar solidariedade.
Para reafirmar e partilhar a elevada estima por uma comunidade por vezes
incompreendida. Para ouvir o que lhes ia na alma. Para encorajar os
resistentes. Para retribuir o que muitos já deram a toda uma Região onde
têm a origem, a família e os investimentos.
A grandeza desta
gente toca quem tem valores que não se trocam pelas circunstâncias e lá
fomos de novo porque é nas horas difíceis que importa deixar uma
palavra amiga, um abraço reconfortante e um incentivo ao altruísmo.
Temos orgulho na obra pessoal e colectiva que todos ergueram naquele
País e, sem medo do imprevisto, decidimos arriscar.
Em Maio já
tínhamos ido sentir de perto a dor de um povo amargurado, para levar ao
mundo retratos de uma Venezuela em agonia. Sem filtros, nem
preconceitos. O jornalista Nicolau Fernandes tem contado com mestria que
por aquelas bandas sinuosas não há silêncio. “Tudo é um grito” presente
nas histórias que tem escrito. E há um que continua a ecoar. Houve quem
dissesse: “Não se esqueçam de nós!”.
Não nos esquecemos. Não
podemos ignorar gente que vive e, em muitos casos, sobrevive, “com
dificuldades, muita imaginação e sentido do desenrasque que nunca
perdeu, agora com o engenho e arte ainda mais aguçados pelas muitas
carências”.
É com emoção que agradecemos a forma amiga como nos
acolheram num regresso entusiasmado. Quem ali concretizou sonhos merece o
melhor. Não prometemos o que não depende de nós, mas garantimos que
podem contar com o nosso empenho para que nunca vos falte o que vos
torna dignos.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
08/07/18
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