02/07/2018

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HOJE NO 
"CORREIO DA MANHÃ"
Morreu José Batista de Matos, 
.o rosto português do Museu 
.da Imigração em França

Antigo conselheiro das comunidades portuguesas tinha 84 anos.

José Batista de Matos, dirigente associativo, antigo conselheiro das comunidades portuguesas e rosto da emigração lusa no Museu Nacional da História da Imigração em Paris, morreu este domingo à noite, em Portugal, aos 84 anos. 
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A notícia foi confirmada à Lusa pela sua filha, Ascenção Matos, que adiantou que o funeral deve realizar-se na próxima quarta-feira, às 11:00, na sua aldeia natal, Alcanadas, na Batalha, distrito de Leiria. 

O emigrante foi membro fundador e dirigente da Associação Portuguesa de Fontenay-sous-Bois, inaugurou o primeiro monumento ao 25 de Abril de 1974, fora de Portugal, em Fontenay-sous-Bois, trabalhou na geminação da cidade com a Marinha Grande, foi Conselheiro das Comunidades durante oito anos e publicou dois livros: "História, cultura e tradições das Alcanadas" (2005) e "Uma vida de militância cívica e cultural" (2011). 

José Batista de Matos chegou ao 'bidonville' de Champigny em abril de 1963 para "fugir à ditadura", deixando para trás as "idas de bicicleta à Marinha Grande para ir buscar o Avante" e as escutas clandestinas, em casa, da rádio Voz da Liberdade e da Rádio Moscovo. 

O português chegou a França sem falar a língua, foi encarregado-geral no metro de Paris onde ajudou a construir 23 estações, e, em maio de 68, associou-se aos protestos e foi um dos instigadores da greve numa estação da capital francesa. 

Em fevereiro passado, no seu apartamento em Fontenay-sous-Bois - onde guardava vários objetos dos tempos do bairro de lata- José Batista de Matos contava à Lusa que o Maio de 68 foi "a essência" da sua vida e que sempre se bateu para "ressuscitar um pouco o maio de 68" porque é preciso "combater as desigualdades porque 2% da população do mundo tem tanto como 98% do mundo". 

A essa data, o português continuava a ser o rosto da emigração lusa no Museu Nacional da História da Imigração em Paris, com o seu capacete do trabalho, diplomas, fotografias, passaporte e um desenho a ilustrar o momento em que ele e dois companheiros penduraram uma bandeira vermelha numa grua em protesto contra a mega-manifestação de apoio ao General de Gaulle no final de maio de 68. 

Foi nos primeiros dias desse mês, durante a pausa de trabalho das obras do metro de Charles de Gaulle-Étoile, que Batista de Matos teve "a visão apocalíptica" e viu "o largo ao lado do Arco do Triunfo cheio de jovens sentados", foi falar com eles e sentiu "o germinar da vontade" de participar nos protestos. 

Depois, foi à universidade da Sorbonne e integrou uma comissão de estudantes-trabalhadores, a partir da qual organizou a greve junto dos seus colegas operários, mesmo sendo ele chefe de obras de uma equipa. "Fizemos reuniões na Sorbonne e tentei com outros amigos - alguns franceses, um ou dois portugueses - parar o 'chantier' na Étoile, em que havia 60, 70 e tal pessoas. E conseguimos parar aquilo. 

O trabalho parou completamente", recordava à Lusa a propósito dos 50 anos do Maio de 78, descrevendo o momento como "uma vitória muito grande". José Batista de Matos começou a participar nas manifestações e ia às reuniões na Sorbonne do 'comité ouvriers-étudiants' porque aquele mês foi para ele "o sonho de um mundo melhor" e "ao fim de 28 dias" conseguiu um aumento de 35 francos por semana", tudo "recordações fabulosas, não só a parte material mas a consciencialização das pessoas". 

O português participou nas manifestações de rua porque "tudo se pode vencer com o número de pessoas", viu muita gente "a mandar até botas e 'pavés' [partes da calçada] à polícia" e chegou a ir a algumas reuniões na Sorbonne e no teatro Odéon ocupados. 

"Foi a primeira vez, na minha vida de homem, que no Odéon os senhores professores, doutores, se tratavam todos por tu. Não havia você, não havia senhor doutor. Aquilo transformou-me", contou o autor de "Uma vida de militância cívica e cultural", acrescentando que na sua boca tinha sempre a palavra "liberdade". 

Em 2012, Batista de Matos recebeu a Comenda da Ordem Nacional de Mérito e há duas semanas recebeu a Medalha da Cidade de Fontenay-sous-Bois. 

* Ora aqui está um cidadão que de maneira  quase anónima  demonstrou coragem e consciência social, em vez da música pimba a vida deste homem devia ser ensinada nas escolas.

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