Pensar
o futuro da Madeira é saber pensar pequeno. É crucial para bem decidir
ter consciência da nossa verdadeira dimensão, da realidade da nossa
economia e das nossas particularidades. Alinhar em projetos megalómanos é
gastar dinheiro que não temos e até, nalguns casos, destruir o melhor
que temos.
Tantas vezes ouvimos que é preciso inovar e
desenvolver novas formas de negócio. Que os nossos empresários precisam
ser ousados e que os trabalhadores têm de “trabalhar” mais. O
investimento nas novas tecnologias arregala os olhos de alguns,
sobretudo pela quantidade de dinheiro envolvido. E todos gostam de falar
grande. Construir em grande e de um dia para outro criar empresas com
faturação de milhões. Mas, esta solução é só para alguns. E todos os
outros? Definham e apenas sobrevivem, quando podem?
Pensar pequeno dá trabalho. Mas a questão é somente esta: teremos outra solução?
Nesta
nova forma de pensar o futuro, o Governo tem de aprender a tomar
decisões de forma integrada e não parcelar. Há muita decisão a ser
tomada ao acaso. Sem nexo. Sem análise do risco e do impacto nas suas
várias consequências. Seguindo feelings.
Por exemplo, a
implementação de painéis fotovoltaicos no Paúl da Serra nunca poderia
ter sido analisada apenas sob o ponto de vista energético. E o impacto
ambiental? E as consequências para o destino Madeira? A Secretaria
Regional do Turismo não deveria ter sido chamada a se pronunciar? E os
nossos empresários na área do turismo aceitam tudo isto tranquilamente?
Mas alguém acha que um turista se mete num avião, com o mínimo de 3
horas de viagem para vir à Madeira ver isto como está? No caso do
mercado nórdico, chegam a ter quase 1 dia de viagem para isto? Estamos a
beneficiar das guerras no Médio Oriente e da instabilidade no
Mediterrâneo. E não estamos a aproveitar a oportunidade para fixar
mercado? E que destino vendemos? E agora, pá? Errar no turismo é
suicídio.
Quem ganhou com tudo isto? Não seria mais produtivo
fomentar o apoio às famílias para que colocassem painéis solares nas
suas casas, fazendo com que o pagamento da produção de energia solar
fosse entregue às famílias como um rendimento extra?
Todos os
grandes líderes preocupam-se em melhorar os rendimentos das famílias
como forma de melhorar a qualidade de vida da população que os elege.
Aliás, é assim que garantem a sua reeleição.
Pensar pequeno exige também pensar em micro unidades produtivas, muitas vezes de produção artesanal e familiar.
Aproveitando
um passeio de Domingo em família, decidi aceitar o convite da
Associação Cartilha Madeirense para assistir às tosquias realizadas na
Bica da Cama, no Paúl da Serra. Foi uma oportunidade para pensar, uma
vez mais, no que poderá ser o desenvolvimento sustentável da Região.
Entre
outras ideias passíveis de criação de micro unidades produtivas, o
pastoreio ordenado, orientado e planeado pode ser uma fonte de
rendimento extra para as famílias madeirenses. E tudo o que possa
melhorar a vida das pessoas tem o meu apoio. Será que não é possível a
interação do homem com a natureza, sem estragar?
O que vi e ouvi foi uma
sabedoria de gente simples, com grande conhecimento das nossas serras e
da natureza que não é de desprezar. Será que a criação de gado na serra
não nos confere uma imagem de conto de fadas benéfica para vender o
destino Madeira? Será que não poderíamos deixar nascer micro unidades
produtivas para fazerem as suas experiências de negócio com a lã, a
carne e seus derivados? É preciso dar oportunidades de negócio para que
as famílias possam melhorar os seus rendimentos. O ideal para a nossa
Região é sermos capazes de produzir produtos locais, consumidos
localmente. É assim que se cria riqueza.
Estar com mente aberta é
fundamental e ouvir é essencial. Um Governo tem de governar para as
pessoas e não isolar-se numa torre de marfim, colocando-se em pedestral
nos contactos com as pessoas. Ainda não perceberam que só estão a
aparecer associações porque o Governo não está a responder aos anseios
das populações e não está a ouvir?
Afirmar que “se querem gado na
serra não votem em mim” é distanciar-se, afastar as pessoas e deixar a
porta aberta para todos os outros. Nem todos os que estão na associação
têm a mesma orientação política. Cuidado com as pontes que se destroem
porque um dia podemos precisar delas.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
27/05/18
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