31/05/2018

FÁTIMA ASCENSÃO

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Isolados numa Torre de Marfim

Pensar o futuro da Madeira é saber pensar pequeno. É crucial para bem decidir ter consciência da nossa verdadeira dimensão, da realidade da nossa economia e das nossas particularidades. Alinhar em projetos megalómanos é gastar dinheiro que não temos e até, nalguns casos, destruir o melhor que temos.

Tantas vezes ouvimos que é preciso inovar e desenvolver novas formas de negócio. Que os nossos empresários precisam ser ousados e que os trabalhadores têm de “trabalhar” mais. O investimento nas novas tecnologias arregala os olhos de alguns, sobretudo pela quantidade de dinheiro envolvido. E todos gostam de falar grande. Construir em grande e de um dia para outro criar empresas com faturação de milhões. Mas, esta solução é só para alguns. E todos os outros? Definham e apenas sobrevivem, quando podem?

Pensar pequeno dá trabalho. Mas a questão é somente esta: teremos outra solução?
Nesta nova forma de pensar o futuro, o Governo tem de aprender a tomar decisões de forma integrada e não parcelar. Há muita decisão a ser tomada ao acaso. Sem nexo. Sem análise do risco e do impacto nas suas várias consequências. Seguindo feelings.

Por exemplo, a implementação de painéis fotovoltaicos no Paúl da Serra nunca poderia ter sido analisada apenas sob o ponto de vista energético. E o impacto ambiental? E as consequências para o destino Madeira? A Secretaria Regional do Turismo não deveria ter sido chamada a se pronunciar? E os nossos empresários na área do turismo aceitam tudo isto tranquilamente? Mas alguém acha que um turista se mete num avião, com o mínimo de 3 horas de viagem para vir à Madeira ver isto como está? No caso do mercado nórdico, chegam a ter quase 1 dia de viagem para isto? Estamos a beneficiar das guerras no Médio Oriente e da instabilidade no Mediterrâneo. E não estamos a aproveitar a oportunidade para fixar mercado? E que destino vendemos? E agora, pá? Errar no turismo é suicídio.

Quem ganhou com tudo isto? Não seria mais produtivo fomentar o apoio às famílias para que colocassem painéis solares nas suas casas, fazendo com que o pagamento da produção de energia solar fosse entregue às famílias como um rendimento extra?

Todos os grandes líderes preocupam-se em melhorar os rendimentos das famílias como forma de melhorar a qualidade de vida da população que os elege. Aliás, é assim que garantem a sua reeleição.
Pensar pequeno exige também pensar em micro unidades produtivas, muitas vezes de produção artesanal e familiar.

Aproveitando um passeio de Domingo em família, decidi aceitar o convite da Associação Cartilha Madeirense para assistir às tosquias realizadas na Bica da Cama, no Paúl da Serra. Foi uma oportunidade para pensar, uma vez mais, no que poderá ser o desenvolvimento sustentável da Região.

Entre outras ideias passíveis de criação de micro unidades produtivas, o pastoreio ordenado, orientado e planeado pode ser uma fonte de rendimento extra para as famílias madeirenses. E tudo o que possa melhorar a vida das pessoas tem o meu apoio. Será que não é possível a interação do homem com a natureza, sem estragar?

O que vi e ouvi foi uma sabedoria de gente simples, com grande conhecimento das nossas serras e da natureza que não é de desprezar. Será que a criação de gado na serra não nos confere uma imagem de conto de fadas benéfica para vender o destino Madeira? Será que não poderíamos deixar nascer micro unidades produtivas para fazerem as suas experiências de negócio com a lã, a carne e seus derivados? É preciso dar oportunidades de negócio para que as famílias possam melhorar os seus rendimentos. O ideal para a nossa Região é sermos capazes de produzir produtos locais, consumidos localmente. É assim que se cria riqueza.

Estar com mente aberta é fundamental e ouvir é essencial. Um Governo tem de governar para as pessoas e não isolar-se numa torre de marfim, colocando-se em pedestral nos contactos com as pessoas. Ainda não perceberam que só estão a aparecer associações porque o Governo não está a responder aos anseios das populações e não está a ouvir?

Afirmar que “se querem gado na serra não votem em mim” é distanciar-se, afastar as pessoas e deixar a porta aberta para todos os outros. Nem todos os que estão na associação têm a mesma orientação política. Cuidado com as pontes que se destroem porque um dia podemos precisar delas.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
27/05/18


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