A (nova) economia do impacto
Cada vez mais os consumidores valorizam produtos que geram
impacto positivo. E os melhores talentos, principalmente os ditos
millennials, acreditam que as empresas podem e devem ter esse impacto.
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No último ano têm surgido inúmeras notícias de fundos de
investimentos, grandes bancos e empresas que estão a valorizar cada vez
menos os resultados trimestrais (curto prazo) dos seus ativos e têm um
foco cada vez maior nos resultados de longo prazo e no impacto positivo
que estes ativos podem ter na sociedade.
Para os mais distraídos,
esta mudança pode parecer descontextualizada a até descabida.
Tradicionalmente, é sabido que os investidores querem “apenas” que os
CEO maximizem os resultados económicos para os acionistas. Mas será
mesmo assim? Estes fundos de investimento, bancos e empresas não estão a
mudar, na expectativa de perderem dinheiro, fazem-no porque sabem que
quando olhamos para os resultados, rapidamente percebemos que as
empresas com melhor performance são também aquelas que se preocupam com o
seu impacto ambiental e social de longo prazo. E porquê? Porque cada
vez mais os consumidores valorizam produtos que geram impacto positivo; o
melhor talento, principalmente os ditos millennials (onde eu
me incluo) acreditam que as empresas podem e devem ter um impacto
positivo no mundo e por isso, tendo essa possibilidade, optam por
trabalhar em empresas responsáveis; e uma missão ou um propósito maior
gera uma motivação e incentivo adicional para o dia-a-dia das equipas.
Isto
até pode parecer uma realidade muito distante da nossa, mas estamos
rodeados de marcas e empresas que já integram esta forma de pensar no
seu dia-a-dia. Ainda recentemente a Adidas anunciou que em 2017 vendeu
um milhão de pares de sapatilhas feitas de plástico recolhido nos
oceanos; a Ecoalf, uma empresa espanhola usa redes de pesca e plásticos
recolhidos no oceano para produzir roupas e malas, e até já tem como
clientes, Marc Jacobs, Gwyneth Paltrow e will.i.am; a Natura, a Etsy e a
Ben & Jerry são algumas das já muitas empresas certificadas como B
Corporations, ou seja, empresas que se comprometem não só a maximizar o
lucro, mas também o impacto positivo na sociedade; e a Patagonia,
empresa americana de vestuário para além de todas as preocupações que
tem com a produção dos seus produtos, tem ainda um website onde explica como reparar as suas peças, porque o objetivo é produzir roupa que seja para toda a vida.
Eu
poderia continuar a enumerar exemplos que mostram que algo está a
mudar, mas é importante chamar a atenção que aqui não estamos a falar
nem de responsabilidade social, nem mesmo de empreendedorismo social.
Isto são empresas responsáveis (termo cunhado pela Patagonia) que querem
maximizar o retorno para os seus accionistas, mas que também querem
garantir que no pior dos cenários, o seu impacto ambiental é zero (nem
positivo nem negativo) e que existe um impacto social positivo.
Assim,
tal como alguns fundos de investimentos, grandes bancos e empresas,
estão a apelar por um maior foco no longo prazo e na geração de impacto
positivo na sociedade, termino, fazendo minhas as palavras de Rodrigo
Tavares, Young Global Leader do World Economic Forum e Fundador do
Granito Group, que recentemente num evento no Impact Hub de Lisboa,
apelou aos empreendedores que criem startups responsáveis,
porque para além desta ser a melhor forma de serem bem sucedidos nesta
segunda década do século XXI, a verdade é que tal como dizem os
fundadores da Ecoalf, não existe “Planet B”.
Inês Santos Silva tem 28 anos e nos últimos anos tem sido uma das mais ativas dinamizadoras do ecossistema de empreendedorismo nacional. Juntou-se ao Global Shapers Lisbon Hub em 2013 e é presença assídua em eventos do Fórum Económico Mundial, tendo já participado nos eventos de Davos (Suíça) e de Tianjin (China).
IN "OBSERVADOR"
17/04/18
O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial
para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional
visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.
Ao longo dos próximos meses, partilharão com os leitores a visão para o
futuro do país, com base nas respetivas áreas de especialidade. O artigo
representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores
da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.
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