Porque elas lutaram
Nesta semana temos que falar no que foi conseguido com a luta e participação das mulheres
Hoje, (05/03),
inicia-se uma semana onde ouviremos falar muito das mulheres. Há
programas para todos os gostos. Alguns são tão maus e tão degradantes
que não quero perder muito tempo a falar deles. Vão-se fazer muitos
jantares, muitos passeios, oferecer-se muitas flores, etc,...mas poucas
pessoas vão se lembrar porque realmente existe um dia dedicado às
Mulheres.
Para não fazer polémica com quem faz pesquisa
histórica, apenas gostava de lembrar que este dia existe porque
existiram mulheres que lutaram. Foi em 1857 nos EUA que a luta despontou
e depois alargou-se a outros países. As mulheres trabalhadoras que
fizeram greve por melhores condições de vida e de trabalho, em que
algumas perderam a vida, são um exemplo que devemos sempre recordar.
O
dia 8 de Março foi consagrado o dia da Mulher em homenagem a essas
lutas. Mesmo que em 1910 tivesse sendo indicada a sua comemoração, essa
só foi oficiada pela ONU em 1975.
Se hoje temos um horário de
trabalho de 8 ou 7 h diárias, elas foram as pioneiras para que assim
fosse, porque na altura trabalhavam 16h diárias, trabalhavam até dar à
luz e voltavam 10 dias depois, não tinham direito a férias, a segurança
social, a seguro etc...
Por isso, nesta semana temos que falar no
que foi conseguido com a luta e a participação das mulheres, porque
tudo continua atual, porque nada cai do céu se não lutarmos e
persistirmos, sem medo e sem vergonha de dar a cara, pelas nossas
reivindicações, sejam a que nível for.
Se em 1911 a Carolina
Beatriz Ângelo não tivesse travado uma batalha judicial, não teria sido a
primeira mulher em Portugal a exercer o direito ao voto, que só foi
consagrado para todas as mulheres, e homens, com o 25 de Abril de 1974.
Se
depois do 25 de Abril as mulheres não tivessem lutado, não tinham
direito a dignificar as suas profissões, como aconteceu com as Operárias
de Bordados, de onde eu fiz parte, não tinham direito ao planeamento
familiar, que hoje toda a gente tem acesso, ao salário mensal com
direito a férias e aos subsídios de férias e de Natal, aos direitos da
maternidade e paternidade, segurança social, etc...
Se não fosse
fossem as lutas que continuaram, as bordadeiras de casa da Madeira, em
1999, não teriam direito à reforma, a violência doméstica em 2000 não
teria sido consagrada como um crime público, a IVG em 2007 não seria
despenalizada, e assumida, pelo serviço público de saúde e em 2016 as
técnicas de procriação medicamente assistida não seriam alargadas para
todas as mulheres, independentemente do estado civil ou orientação
sexual.
Hoje continuamos com problemas sérios a afetar as
mulheres, pois muitas ainda são discriminadas nos seus salários e no
acesso a profissões de topo. E muitas trabalham de forma precária, pois
nunca sabem quanto vão ganhar no fim do mês. Outras fazem-se à vida, com
os seus saberes e as suas artes, faça chuva ou faça sol, trabalhando e
lutando para terem uma vida o mais digna possível. Para Todas a minha
homenagem, e que neste 8 de Março se oiça falar da luta das Mulheres,
com muito respeito e consideração pois só assim o 8 de Março será
verdadeiramente comemorado.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
05/03/08
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