HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Oficial que parou "fita de tempo" em Pedrógão nomeado para a Proteção Civil
O coronel
nomeado por Eduardo Cabrita é o mesmo que o ex-secretário de Estado
Jorge Gomes acusou, esta semana, de mentir à Comissão Técnica
Independente ao dizer que o governo recusou à ANPC um pedido de mais
meios.
O ministro da Administração
Interna nomeou para a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), numa
comissão de serviço de três anos, o tenente-coronel que, segundo a
Comissão Técnica Independente (CPI), mandou parar o registo dos alertas
durante a fase mais crítica dos incêndios de Pedrógão. O militar da GNR
era o 2º Comandante Operacional Nacional (CONAC) e foi o responsável
pelas operações de combate aos fogos, que causaram 66 mortos, na noite
de 17 para 18 de junho. É também o mesmo que o ex-secretário de Estado
da Administração Interna, Jorge Gomes, veio esta semana acusar de ter
mentido à CPI em relação aos fogos de outubro.
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Em
fevereiro último, Eduardo Cabrita, cujo gabinete não revela se o
oficial chegou a ser alvo de algum processo de averiguações ou
disciplinar, nomeou Albino Tavares para uma comissão de serviço de três
anos na ANPC, onde está a exercer funções de adjunto do presidente
Mourato Nunes.
No relatório da CPI
sobre os incêndios de Pedrógão, os peritos escolhidos pela Assembleia da
República, descrevem que durante as horas mais críticas, quando Albino
Tavares dirigia o Posto de Comando Operacional em Pedrógão Grande, este
coronel ordenou que "os operadores de telecomunicações não deveriam
registar mais informações na fita de tempo no SADO acerca dos alertas
que ali recebiam". Isto aconteceu às 4.56 de 18 de junho e a partir daí
os alertas "deviam ser comunicados ao PCO por telefone e, só depois de
validação" inseridos na "fita de tempo". Na sua audição, o coronel
justificou a sua decisão com o "excesso de informação" que era produzida
a partir do Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS). A CPI
sublinhou que este procedimento tinha "contrariado o Sistema de Gestão
Operacional (SGO), bem como toda a doutrina instituída relacionada com o
funcionamento do SADO, que impõe que as todas as situações críticas
devem, até de forma intempestiva, ficar registadas no sistema,
independentemente da determinação operacional associada".
A
ordem do oficial "pode subtrair à fita do tempo do SADO informações que
poderiam ser importantes para a compreensão dos acontecimentos na noite
de 17 para 18". A CTI admitiu que "para além das falhas de comunicação
provocados pela rede SIRESP, pudessem ter havido pedidos de ajuda
veiculadas através de chamadas efetuadas para o PCO mas que não teriam
sido registadas" e que "por este motivo, as informações registadas podem
ter impedido que se conheça completamente o que se passou naquele
período de tempo, introduzindo uma exceção no procedimento de que
deveria ter sido executado de forma inquestionável".
O
DN tentou saber junto da ANPC e do gabinete de Eduardo Cabrita se,
depois da divulgação do relatório da CPI, tinha sido instaurado algum
processo de averiguações ou inquérito disciplinar, mas não obteve
resposta. Em setembro de 2017, antes de ser conhecida a avaliação da CPI
sobre Pedrógão, a ex-ministra Constança Urbano de Sousa nomeou Albino
Tavares CONAC interino, depois do número um, Rui Esteves, ter
apresentado a demissão. O coronel, que comandou o Grupo de Intervenção,
Prevenção e Socorro (GIPS) na GNR, era o Comandante Nacional durante os
fogos de Outubro.
Quando o novo CONAC,
António Paixão, outro ex-comandante do GIPS, foi nomeado em novembro,
Tavares passou para o gabinete do presidente Mourato Nunes, com quem já
tinha trabalhado na GNR. O oficial liderou o GIPS quando Mourato era o
comandante-geral.
Esta semana Albino
Tavares voltou ao centro das atenções quando o ex-secretário de Estado
Jorge Gomes o acusou de ter transmitido "informações falsas" sobre a
falta de meios no combate aos incêndios. Segundo a CPI, a Proteção Civil
pediu reforço de meios ao longo do verão passado "mas nem todos tiveram
autorização superior".
O CDS destaca
as "enormes contradições" em todo este processo: "Temos o PS a dizer que
o relatório da CPI é muito bom, um secretário de Estado a dizer que tem
informações falsas e a acusar um ex-CONAC de mentir, um ministro a
renomear o acusado para a ANPC e um primeiro-ministro a dizer que o
ex-secretário de Estado é que sabe", sublinha Telmo Correia.
* Esta nomeação não é um filme de terror, é terror a sério.
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