HOJE NO
"OBSERVADOR"
42% dos jovens adultos portugueses
.dizem que não são religiosos
.dizem que não são religiosos
Estudo feito antes do Sínodo dos Bispos mostra que muitos jovens portugueses não são religiosos. Igreja portuguesa reconhece desilusão com as instituições, mas não com a fé.
Um relatório feito por duas das mais importantes universidades
católicas da Europa e divulgado esta quarta-feira mostra que 42% dos
jovens portugueses entre os 16 e os 29 anos não se identifica com
nenhuma religião. No que toca aos restantes 58%, a esmagadora maioria
professa o Cristianismo, materializado sobretudo na Igreja Católica, mas
mais de metade destes admite que não frequenta regularmente a missa nem
tem por hábito rezar.
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As conclusões são do relatório “Os jovens adultos europeus e a religião“,
publicado esta quarta-feira pelo Centro Bento XVI para a Religião e
Sociedade, uma parceria entre a Universidade de St. Mary, do Reino
Unido, e o Institut Catholique de Paris, em França. O relatório é
publicado no ano em que o Vaticano se prepara para um Sínodo dos Bispos dedicado à juventude (em
outubro) e pretende ser um contributo para a discussão que o Papa vai
ter com os bispos do mundo inteiro sobre como a Igreja Católica se
relaciona com os mais jovens.
O relatório, que tem como autor principal Stephen Bullivant, professor
de Teologia da Universidade de St. Mary, recorreu a dados recolhidos
pelo estudo European Social Survey nas edições de 2014 e 2016 para
analisar o comportamento dos jovens de 22 países europeus face à
dimensão religiosa — quer na dimensão global quer na prática religiosa
dos jovens católicos.
Uma das principais conclusões é precisamente o elevado número de
jovens afastados das religiões, sobretudo em países como a República
Checa, onde 91% dos jovens dizem não ser religiosos, a Estónia (80%) e a
Suécia (75%). Os países europeus com menos jovens afastados da religião
são a Polónia (27%), a Lituânia (25%) e a Áustria (37%). O estudo
inclui também Israel, que apresenta resultados totalmente díspares: no
país, apenas 1% dos jovens dizem não se identificar com uma religião.
O
autor do relatório destaca, de facto, que “a alta percentagem de jovens
adultos que afirmam não ter nenhuma religião”, nos vários países da
amostra, pode ser encarada como “o facto mais significativo de todos”.
Stephen Bullivant nota também que os países nos dois extremos da escala
(República Checa e Estónia com os jovens mais desligados da religião,
Polónia e Lituânia com os mais religiosos) são antigos países
comunistas.
O relatório debruça-se também sobre quais as religiões
professadas em cada um dos 22 países analisados. Em Portugal, 57% dos
jovens disseram professar uma religião cristã, e apenas 1% disse
professar uma religião não cristã. Uma análise mais fina permite
perceber que 53% dos jovens portugueses dizem ser católicos, 1% diz ser
protestante e 2% diz identificar-se com outra denominação cristã. Os
muçulmanos, os judeus e as outras denominações cristãs representam uma
minoria residual entre os jovens portugueses.
Na maioria dos
países europeus, a fé católica é a confissão mais professada entre os
jovens. Mas há países, como a Suécia, a Dinamarca, a Finlândia e a
Noruega, onde dominam as religiões protestantes. Na Alemanha e na Suíça,
os cristãos dividem-se quase equitativamente entre protestantes e
católicos. Rússia e Estónia são os dois únicos países analisados com
maioria cristã ortodoxa e Israel o único com maioria judaica. Um outro
dado relevante é que no Reino Unido, país maioritariamente anglicano, há
mais jovens a dizerem-se católicos do que protestantes.
Segundo país da Europa nas idas à missa
Além da identificação com a confissão religiosa, o estudo analisa
também a frequência da prática religiosa. Em Portugal, 20% dos jovens
dizem que participam pelo menos uma vez por semana em celebrações
religiosas, independentemente da religião ou confissão. Já 35% dos
jovens dizem nunca participar. Os restantes correspondem aos que dizem
não professar nenhuma religião. Ainda assim, Portugal está no pódio no
que toca à participação frequente em celebrações religiosas por parte
dos jovens adultos, ficando apenas atrás da Polónia (39%) e de Israel
(25%).
O estudo apresenta ainda um outro dado complementar,
relativo à frequência com que os jovens rezam fora das celebrações. Em
Portugal, 23% dos jovens adultos dizem rezar pelo menos uma vez por
semana, enquanto 41% dizem nunca rezar.
O relatório dedica uma
segunda parte só à análise dos dados referentes aos jovens adultos que
se identificam como católicos. Aí, Portugal está entre os mais devotos. É
o quinto país europeu com maior percentagem de jovens a
identificarem-se como católicos — 53%. Fica atrás da Polónia, com 82%,
da Lituânia, com 71%, da Eslovénia, com 55%, e da Irlanda, com 54%.
Entre
os jovens portugueses que se identificam como católicos, 27% afirmam ir
à missa pelo menos uma vez por semana, um valor apenas atrás dos jovens
adultos da Polónia — 47% dizem ir à missa pelo menos todas as semanas.
Além disso, 36% dos jovens portugueses que se dizem católicos afirmam
que rezam foram da missa todas as semanas.
Bispos portugueses: desilusão é com instituições, não com a fé
Numa primeira análise aos dados revelados, feita ao Observador em
nome dos bispos portugueses, o porta-voz da Conferência Episcopal
Portuguesa, padre Manuel Barbosa, reconhece que o compromisso religioso dos jovens portugueses “é um pouco mais frouxo do que no passado” e explica que na origem dessa descida está sobretudo um descontentamento com as instituições e não com a dimensão da fé.
Sabemos que a confiança nas instituições vai sofrendo alterações à medida que a mentalidade sociocultural se vai reconfigurando. Os jovens não deixaram somente de se identificar com a religião, mas sim com muitas outras instituições, veja-se a confiança depositada no sistema educativo, na imprensa, no sistema judicial, etc., onde os jovens não se revêem, à imagem do passado”, afirma o porta-voz dos bispos portugueses.
Ainda
assim, o sacerdote destaca que “é interessante analisar que a ligação
religiosa não passa exclusivamente pela marcação de um lugar nas
igrejas, já que os jovens continuam a dizer, sem medo, que rezam”. Isso
significa, no entender do sacerdote, que “Deus não se desvaneceu” das
vidas dos mais jovens, que “concebem o sobrenatural como a presença de
um Deus pessoal e próximo, que lhes dá segurança e vida”.
“Não
obstante os jovens viverem num mundo de tantas oportunidades, suscitadas
em parte pelo desenvolvimento das novas tecnologias, não deixaram de
ser religiosos, ou seja, a liberdade experimentada pelos jovens não os conduziu a um afastamento do universo religioso”, sublinha o padre Manuel Barbosa.
Porém,
sublinha o sacerdote, “se é bem evidente que continuam a dizer-se
religiosos e, maioritariamente, católicos, é igualmente verdade que há
uma desvinculação do religioso institucional, que se traduz na menor
adesão à prática religiosa assídua”. Ou seja, os jovens entendem a
figura de Deus cada vez mais a nível pessoal e íntimo, ao invés de se
reconhecerem nas instituições religiosas.
“Os números apresentados
deixam antever que a Igreja Católica não tem voltado as costas aos seus
jovens, bem pelo contrário, tem procurado dialogar com eles onde eles
estão, falando a sua linguagem, utilizando a mesma gramática, procurando
corresponder aos seus desafios e necessidades”, considera ainda o
porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa.
* A religião é o estupefaciente do povo.
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