A alienação da Igreja e
os gritos
de Costa e Albuquerque
Os
números são retumbantes. Em Portugal há, segundo as contas do Vaticano,
9 milhões 183 católicos, numa população de 10,34 milhões de almas. Não
sei como é feita a contabilidade da Santa Sé mas não me surpreende que
exista de facto tal número, mais coisa menos coisa. O que tem diminuído,
isso sim, é o número de padres. Há efectivamente uma crise de vocações
na Igreja Católica.
Na Madeira a percentagem de católicos é
também esmagadora face a outros credos religiosos. Numa terra com mais
igrejas do que sacerdotes poucos questionam – mesmo os que pelo baptismo
têm essa obrigação – o caminho que instituição trilha. Por cá pouco se
diz e muito menos de discute. Os padres (a indiscutível maioria)
fecham-se em copas e em “reflexões internas” e do Paço Episcopal só e
apenas são conhecidas as notas publicadas no site da Diocese e as
homilias do Bispo. Sobre a actualidade, sobre questões prementes e
determinantes para as pessoas, para os cristões, zero. A Igreja por cá
continua a ser uma ‘fortaleza’ a que muito poucos têm acesso. A Igreja
aberta, de encontro com os fracos e desprotegidos, preconizada pelo Papa
Francisco, faz pouca militância por estas bandas. Aqui continua a
reger-se pela pauta antiga. A instituição Igreja na Região é acomodada,
não é proactiva. Raramente se pronuncia sobre os temas mundanos que
preocupam os fiéis, o colectivo. É uma organização fechada sobre si
própria, que tenta passar por entre os pingos da chuva, não se
comprometendo. Falta-lhe chama e carisma e um pastor (bispo) determinado
e corajoso.
Recentemente D. Manuel Clemente causou polémica ao
aconselhar os casais ‘recasados’ (?) a abster-se de ter relações
sexuais. As palavras do Bispo de Lisboa encheram jornais e motivou
debates, de onde saíram críticas fundadas ao que se considerou ser uma
posição irrealista, ridícula e infantil. Padres vieram a público
contestar a posição do patriarca, de forma livre e esclarecida,
promovendo a discussão, contribuindo para ela. Na Madeira não existe a
tradição de falar, de debater, de esclarecer, muito menos de comentar. A
haver conversas é longe da comunicação social. A grande maioria dos
membros do clero vive arredada do seu meio e não se quer comprometer com
declarações públicas que podem ser sempre mal interpretadas na câmara
eclesiástica.
Era saudável que a nossa Igreja falasse a linguagem
pragmática para o povo cristão. Que agisse e se pronunciasse sobre os
desafios dos nossos dias, que fosse mais terrena, menos cerimonial e
opaca. A alienação em que vive principalmente a sua cúpula não se
coaduna com o nosso tempo e muito menos com a acção do actual Papa.
Miguel
Albuquerque passou a semana a zurzir em António Costa. Custa-lhe
digerir o raspanete telefónico do primeiro-ministro por causa das contas
da Região.
Um primeiro-ministro pouco hábil em matéria de
contabilidade fez considerações exageradas e irrealistas sobre uma
região do país governada pelo PSD.
Esclarecida a situação caberia
a Costa emendar a mão publicamente, porque as suas críticas, duras,
foram também produzidas publicamente, na Assembleia da República.
Não
interessa a ninguém, muito menos à Região, alimentar contenciosos com a
República. Não interessa saber quem consegue gritar mais alto.
Interessa, sim, resolver os dossiers pendentes a bem da população. Que
tanto um lado como outro saiba discernir entre o que são as questões do
Estado, institucionais, e o que são as questões de índole partidária.
Todos sabemos que já foi dado o pontapé de partida das eleições de 2019,
mas até lá há assuntos fundamentais que têm de ser solucionados. Isso é
o que de facto importa. O resto é ruído e entretenimento.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
25/02/18
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