24/02/2018

.

ESTA SEMANA NA 
"VISÃO"
Já há mais 35 mil árvores no Pinhal de Leiria 
(mas são precisas 200 vezes mais)

Num só dia, 500 voluntários da Siemens encheram 59 hectares da Mata de Leiria com 35 mil pinheiros. Mas em outubro arderam nove mil hectares e ainda são precisas mais de sete milhões de árvores

Para contar esta história como deve ser, há que subir ao alto de um monte em plena mata nacional de Leiria, para se vislumbrar os 59 hectares onde andam cerca de 400 voluntários da Siemens (em outubro arderam 9 mil hectares). Por aqui, ouvem-se falar para cima de uma dezena de línguas e os que agora vemos curvados sobre a terra ocupam os mais diversos cargos na empresa alemã. Só que, do topo deste morro, mal se distinguem. Estão quase todos de corta-vento cinzento, com o logotipo nas costas, e ainda bem - apesar do sol e do trabalho puxar pelo físico, está bastante frio pela manhã.
.

A cada par de trabalhadores, vindos até Vieira de Leira em autocarro desde Alfragide, perto de Lisboa, dão-se três caixas com 56 pezinhos de pinheiro bravo. Os regos onde irão plantá-los já estão abertos, felizmente, mas mesmo assim têm de recorrer a às varas cedidas pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) para saberem que só podem enterrá-los a uma distância de um metro e meio. Entre valas, há um espaço de três metros, o suficiente para um dia mais tarde poder por aqui entrar uma máquina para limpar o que se chama de "combustível". Mas, sigamos com calma, que as explicações já chegam.

AGORA, QUE VENHA A CHUVA
Por ora, há que pôr os olhos no chão e caminhar com cuidado por entre o terreno arenoso se não queremos calcar as espécies recém plantadas. E observar como se trabalha. Cada par de trabalhadores tem também uma enxada e um sacho e com eles abre uma zona de colocação, prende a amostra de pinheiro, por fim ampara-o e desenha um pequeno rego em sua volta - esta última operação é para que a água das chuvas, esperada já na segunda-feira, consiga regar as árvores como deve ser.

Não foi por acaso que Madalena de Sá, 45 anos, diretora do centro de competências internacionais, se lembrou de desafiar os colegas para esta empreitada, antes do Natal. "O primeiro registo da Siemens em Portugal, ainda no século XIX, encontra-se aqui muito perto, na Marinha Grande, com a compra de um forno para a indústria vidreira."

Para concretizar esta ação de responsabilidade social, contratou-se a empresa Fuga Perfeita, especializada em organizar encontros de team building, que acabou por tratar de toda a logística. Sofia Fonseca, a diretora, trouxe mais 50 pessoas consigo para garantir que nada falha neste dia. Antes, já houve muito trabalho de bastidores, que começou com um contacto para o ICNF para se perceber como era possível ajudar no terreno.

DE OLHO NA MATA
Octávio Ferreira, o engenheiro técnico que está a uns meses da reforma, justifica a escolha destes talhões e não de outros. "Apesar de terem ardido 9,5 hectares, só em 3,5 é que o arvoredo era baixo, plantado na altura do último grande incêndio há 14 anos." Na restante área, como o pinhal estava crescido, a pinha já caiu, há de abrir e espalhar a semente, regenerando a floresta naturalmente.

"Neste talhão, e em mais cem, não há peniscos [sementes] e é preciso plantar as árvores, 7,5 milhões em três anos", explica, soltando os números de cor. Depois, há que fazer a manutenção: em outubro, vêm ver as falhas, que normalmente rondam os 10 por cento, e fazer a retancha (plantar de novo, onde a árvore não pegou). Quando daqui a quatro ou cinco anos o terreno se encher de mato, terão de entrar com um trator e limpá-lo.

Maria Leonor Marques, 65 anos, e as suas colegas do ICNF distinguem-se bem aqui do alto. Estão vestidas de verde e identificadas como técnicas deste instituto afeto ao Ministério da Agricultura. Desde há 40 anos que faz de tudo um pouco, quer seja marcação de terrenos ou acompanhamento dos cortes. Hoje, o dia será diferente, porque anda a checar como se comportam estes voluntários vindos da capital. "Estou a ver se o pinheiro está bem plantado, para garantir que quando chover ele não morre."

Quem também anda a checar, mas apenas por genuína curiosidade de meter conversa com os seus trabalhadores, é Pedro Pires Miranda, CEO da empresa, com mais de 30 anos de casa. "É fantástica a abertura das pessoas nestas condições. Esta foi ação que organizámos que teve maior adesão, porque o tema dos incêndios mexe com toda a gente", conta, antes de plantar mais um exemplar.

* Iniciativa valente.

.

Sem comentários: