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"OBSERVADOR"
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A “diplomacia do batom” da Coreia
do Norte para seduzir o mundo
Jovens bonitas, cantoras e empregadas de mesa em restaurantes no estrangeiro. A Coreia do Norte usa as mulheres para passar uma imagem positiva. A escritora Suki Kim chama-lhe "diplomacia do batom".
Na Coreia do Norte, as mulheres bonitas são um dos principais ‘ativos’ do regime. É a “diplomacia do batom”, como lhe chama a escritora norte-americana Suki Kim, que viveu durante anos infiltrada no regime de Kim Jong-un e escreveu o livro Without You, There Is No Us: Undercover Among the Sons of North Korea’s Elite, uma das obras fundamentais para perceber aquele que é considerado o país mais fechado do mundo.
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Numa crónica publicada esta semana no The New York Times, a autora explica que a delegação norte-coreana que vai participar nos Jogos Olímpicos de Inverno — que começam esta sexta-feira na Coreia do Sul — inclui, além dos 22 atletas e dos vários técnicos, 230 jovens mulheres. “Todas com mais de 1,60 metros, todas consideradas ‘bonitas’ pelo estado”, descreve Suki Kim.
Segundo a escritora e jornalista, estas jovens mulheres “são enviadas
ao estrangeiro pelo regime em ocasiões especiais, quando este quer
mostrar a sua melhor face — ou melhores faces — ao mundo”. É frequente,
aliás, que o regime norte-coreano recorra a estas jovens mulheres,
oriundas de famílias das elites de Pyongyang, para representar a “beleza
natural” da Coreia do Norte — mesmo que quase todas elas tenham sido
sujeitas a cirurgias plásticas.
Além destas cheerleaders que são enviadas ao estrangeiro para representar o país, o regime norte-coreano criou a famosa banda Moranbong, uma girlsband
oficial cujas cantoras são escolhidas a dedo pelo governo e que é o
grande ícone pop do país. A líder do grupo musical, a
cantora Hyon Song-wol, é uma das principais celebridades da Coreia do
Norte, tendo até liderado uma comitiva negocial enviada à Coreia do Sul no mês passado.
A “diplomacia do batom” surte efeito sobretudo na Coreia do Sul,
onde, segundo explica Suki Kim, há um fascínio pelas mulheres
norte-coreanas, consideradas “exóticas, enigmáticas, encantadoras na sua
inocência”. O regime tem também diversos restaurantes noutros países,
destinados a arranjar fundos para o governo, em que os visitantes podem
experimentar, além da comida tradicional do país, ser servidos por
jovens norte-coreanas e ouvir grupos musicais semelhantes à banda
Moranbong a atura.
O recurso às jovens para esta
“diplomacia do batom” remonta a 2002, altura em que se realizaram na
Coreia do Sul os Jogos Asiáticos. Segundo conta Suki Kim, o
presidente da câmara da cidade sul-coreana de Pusan, que iria receber os
jogos, estava “preocupado” com a possibilidade de o evento ter pouca
assistência. Então, pensou-se na “possibilidade de atletas da Coreia do
Norte participarem como uma estratégia para chamar a atenção”.
O
presidente da Coreia do Sul — na altura Kim Dae-jung — enviou então um
porta-voz para falar com o líder norte-coreano, Kim Jong-il, “para lhe
pedir que enviasse não apenas atletas mas também adeptos”. “Garanta que
as cheerleaders são raparigas bonitas”, terá mesmo dito o
presidente sul-coreano. Kim Jong-il enviou 288 jovens mulheres — e os
jogos acabaram mesmo por ser um sucesso, que o presidente sul-coreano
atribuiu em parte às cheerleaders norte-coreanas.
Apesar
do sucesso recente da visita da cantora Hyon Song-wol a Seul — a
imprensa não a largou durante os dias em que esteve na Coreia do Sul –,
Suki Kim avisa que a “diplomacia do batom” poderá ter os dias contados.
“Mais de 30 mil desertores vivem agora na Coreia do Sul, e ajudaram a
acabar com algum do mistério” em torno das mulheres norte-coreanas,
escreve a autora.
* Uma espécie de movimento nacional feminino da Coreia do Norte.
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