HOJE NO
"AÇORIANO ORIENTAL"
"AÇORIANO ORIENTAL"
Recrutas do curso de comandos
não foram refrescados "para
não atrasar instrução"
O médico responsável pelo apoio sanitário
dos cursos de Comandos disse hoje em tribunal que o diretor e o
comandante do 127.º curso, no qual morreram dois recrutas, recusaram-se a
refrescar os instruendos “para não atrasar a instrução”.
.
VÍTIMAS DA PONTUALIDADE DO TENENTE-CORONEL MÁRIO MAIA
E DO CAPITÃO RUI MONTEIRO |
O
arguido e capitão Miguel Domingues relatou ao Tribunal de Instrução
Criminal (TIC) de Lisboa que, depois de constatar no local do exercício a
existência de recrutas com “cansaço extremo e exaustão acima do
normal”, aliado ao intenso calor, sugeriu, no período de almoço, ao
tenente-coronel Mário Maia, diretor do curso, e ao capitão Rui Monteiro,
comandante da Companhia de Formação, que os recrutas fossem “molhados”
ou levados a um “charco”, antes da instrução da tarde, para baixar a
temperatura corporal.
O
médico afirmou que ambos consideraram “boa” a sua sugestão, mas que a
mesma não se concretizou “por não haver tempo e para não atrasar ou
atropelar os horários” do curso. “Teria sido ótimo, mas efetivamente não
aconteceu”, frisou o capitão Miguel Domingues, no TIC de Lisboa, onde
decorre a fase de instrução do processo relativo à morte dos recrutas
Hugo Abreu e Dylan Silva, do 127.º curso de Comandos, em setembro de
2016.
O médico
contou ainda que, na mesma ocasião, alertou o capitão Rui Moreira para a
“necessidade de efetuar hidratação” dos recrutas, sugestão esta que foi
aceite. Contudo, o clínico desconhece se todos os instruendos receberam
ou não essa hidratação.
Pelas
16:00 de 04 de setembro de 2016, o médico disse que propôs a
interrupção da prova, o que veio a acontecer, pois a essa hora já tinha
“um terço (23)” dos 67 formandos na enfermaria, devido à limitação de
material de que dispunha naquele momento, à necessidade de prestar os
cuidados de socorro, assim como efetuar contactos com vista a que o
curso pudesse ser posteriormente retomado.
Além disso, havia o “risco” de mais recrutas aparecerem com as mesmas queixas.
O
médico salientou que desde 2011, ano em que assumiu a responsabilidade
pelo módulo sanitário de apoio aos cursos de Comandos, "assistiu
centenas de outros recrutas" com os mesmos sintomas que os do 127.º
curso apresentaram, mas com uma diferença: ter um terço dos recrutas na
tenda, de uma só vez.
Em
junho, o MP acusou 19 militares no processo relativo à morte de dois
recrutas dos Comandos e internamento de outros, considerando que os
arguidos atuaram com "manifesto desprezo pelas consequências gravosas
que provocaram nos ofendidos".
"Os
princípios e valores pelos quais se regem os arguidos revelam
desrespeito pela vida, dignidade e liberdade da pessoa humana, tratando
os ofendidos como pessoas descartáveis", indica a acusação assinada pela
procuradora Cândida Vilar.
Da
lista dos 19 acusados por abuso de autoridade por ofensa à integridade
física no processo desencadeado pela morte dos recrutas Hugo Abreu e
Dylan Silva e pelo internamento de outros constam oito oficiais do
Exército, oito sargentos e três praças, todos do Regimento de Comandos.
Entre
os acusados está o tenente-coronel Mário Maia, diretor da primeira
prova (Prova Zero) do 127.º curso de Comandos, o capitão Rui Monteiro,
Comandante da Companhia de Formação do mesmo curso, Miguel Domingues,
capitão e médico responsável pela equipa sanitária, e o sargento
enfermeiro João Coelho.
Dois
recrutas morreram e vários outros receberam assistência hospitalar
durante o treino do 127.º Curso de Comandos, na região de Alcochete,
distrito de Setúbal, a 04 de setembro de 2016.
* Atrasar horários da instrução isso nunca, antes morrerem...
..
Sem comentários:
Enviar um comentário