17/01/2018

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4-DIRTY PICTURES

O documentário “Dirty Pictures” (2010) acompanha o farmacologista, químico e herói alternativo Alexander "Sasha" Shulgin e a sua mulher Ann Shulgin durante as suas viagens a festivais e conferências para discutirem as qualidades psicológicas de inúmeras substancias psicoativas. Sasha, que entrou em Harvard aos 15 anos, ficou conhecido pela redescoberta do MDMA (Ecstasy) e pela criação de mais de 200 substâncias químicas psicoativas, descritas nos livros TIHKAL e PIHKAL, o que o levou a ganhar a alcunha de “Padrinho dos Psicadélicos” e a reputação como um dos maiores químicos do século XX.

Alexander começou a sua carreira como químico de pesquisas sénior na empresa multinacional de produtos químicos Dow. Em 1965 Shulgin deixou a Dow para prosseguir com os seus interesses próprios, e tornou-se consultor privado.

Através do seu amigo Bob Sager, presidente dos laboratórios da costa oeste da DEA (administração americana para a aplicação das drogas), Shulgin desenvolveu uma relação com a mesma e começou a organizar seminários farmacológicos para os agentes, fornecendo-lhes amostras de vários compostos e dando ocasionalmente testemunhos especializados em tribunal. Também foi autor de um livro de referência para a aplicação das leis às substâncias controladas, e recebeu vários prémios da DEA.

Em 1967 Shulgin foi apresentado ao MDMA (ecstasy) por Merrie Kleinman, uma estudante graduada de um grupo de estudantes de química médica que ele aconselhou na Universidade Estatal de São Francisco. O MDMA foi sintetizado em 1912 nos laboratórios da Merck, na Alemanha, e patenteado em 1914 como subproduto de outra síntese, mas considerado inútil e nunca investigado. Shulgin continuou a desenvolver um novo método de síntese, e em 1976 introduziu a substância química ao psicólogo Leo Zeff. Zeff usou a substância no seu consultório, em pequenas doses, como ajuda à terapia verbal. Zeff introduziu a substância a centenas de psicólogos por todo o país, incluindo Ann Shulgin, que Alexander Shulgin conheceu em 1979, e com quem casou em 1981.

Em 1994, dois anos após a publicação de PIHKAL, a DEA invadiu o laboratório de Shulgin. Alegando ter encontrado problemas com a sua arquivação de produtos, a agência requeriu que Shulgin devolvesse a sua licença por violação dos termos da mesma, e multou-o em 25 mil dólares por posse de amostras anónimas que lhe haviam sido enviadas para controlo de qualidade. Nos 15 anos seguintes à publicação de PIHKAL, dois relatórios planeados falharam na apresentação de quaisquer irregularidades.

Richard Meyer, porta-voz da divisão de São Francisco da DEA, afirmou que “É nossa opinião que esses livros são em grande parte livros de receitas para a preparação de drogas ilegais. Os nossos agentes relataram que nos laboratórios clandestinos que invadiram encontraram cópias desses livros”, sugerindo a muitos que a publicação de PIHKAL e a cancelação da licença de Shulgin estavam relacionadas.

Numa entrevista, o realizador Etienne Sauret fala da relação que desenvolveu com os Shulgins durante os 5 anos que passou com eles a filmar “Dirty Pictures”. Num extracto da entrevista conta-nos o que o levou a realizar o documentário:

Em 2005, um amigo que dirige um centro de prevenção contra drogas no Reino Unido queria trazer Sasha até Londres para falar numa conferência. Como Sasha não pode vir, fomos à Califórnia e fizemos uma pequena metragem para a conferência. Durante as filmagens, achei Sasha e a sua mulher Ann verdadeiramente diferentes e amáveis. Mais tarde, quando estava editar as imagens, os meus colegas de escritório estavam sempre a passar por mim e a perguntar-me “Mas afinal quem é este tipo?”. Nunca pensei que Sasha, um senhor de cabelos grisalhos, grandes sobrancelhas brancas e um sorriso de criança, seria tão apelativo a pessoas entre os 20 e os 30 anos, e achei que se Sasha conseguia despertar a atenção deles valeria a pena realizar um filme mais longo sobre ele e a sua mulher Ann. Apercebi-me rapidamente de que a história tinha muito mais interesse do que eu imaginara inicialmente.

FONTE: Penso, logo Sou! - Laboratório de Investigação da Consciência

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