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ARTIGO DEMOLIDOR
A privatização do Governo
Miguel
Albuquerque respondeu de uma assentada às 20 perguntas que lhe
colocamos há uma semana. De forma eloquente. Sem nos dirigir palavra.
Sem qualquer tipo de pruridos. Em nome da “eficácia”.
Depois de
pouco pensar em férias, dizem que atribuladas, decidiu mexer no seu
governo, para deixar claro os verdadeiros propósitos da ‘Renovação’
ainda com poder, mas em agonia por não ter conseguido atingir propósitos
eleitorais nas últimas autárquicas e por ver crescer fenómenos
alternativos à sua estranha forma de sobreviver no espectro político
regional. Estranha porque vende a matriz política aos lobbies sedentos
de recompensa. Estranha porque é incoerente dispensar quem tanto se gaba
ou promover quem se enxovalhou de forma grosseira. Estranha porque
divide quando o propósito era unir.
Só agora é que o líder do
PSD-M percebeu que a unidade que devia sustentá-lo tem défice de
inclusão e que para além de Sérgio Marques devia ter chamado ao palco do
executivo outras sensibilidades social-democratas?
Ao mexer,
Albuquerque mostrou ao que vem. De olhos postos em 2019, já que lhe
faltam armas para antecipar porventura em seu favor a decisão popular,
dispensou quem denotou ter agenda própria e estar mal rodeado, mas
também quem manifestou publicamente firmeza nas convicções, coragem para
enfrentar três ou quatro grupos económicos viciados no facilitismo,
capacidade de trabalho, domínio de dossiers e lógica de serviço público
que por vezes rendeu humilhações. Deixa entender que agora o que fará a
diferença é ser permeável aos interesses de quem tem arte e engenho para
derramar a liquidez desejada por vários bolsos. Por isso, obrar é o
lema.
A privatização do Governo deu-se sem que muitos dessem por
isso. Nunca uma remodelação espelhou tão bem um modelo de governação,
formalmente legitimada, mas factualmente comprometida com vontades e
intenções que não são as colectivas, logo, questionável. O Turismo que
bate recordes é o principal problema dos madeirenses? Foi Eduardo Jesus
que prometeu o encalhado ferry eleitoralista? Terão que ser sempre os
mesmos a ganhar empreitadas? A quem não dava jeito o rigor das Finanças?
Temos
Presidente com pouco ou nada para fazer. Quem “coordena” politicamente é
Pedro Calado, ainda por cima com um crédito de dois anos nas Finanças
que são a sua praia, com algum calhau, e sabe-se a pedido de quem. Quem
dá a cara pelas grandes opções do executivo é um ex-candidato a
vereador, que terá como é óbvio rédea curta e ordem expressa para não
complicar quem constrói. Quem assume a gestão dos assuntos
parlamentares, que pelos vistos na orgânica engendrada não são
políticos, é o secretário da Educação. Quem vai continuar a levar na
cabeça pelos dramas vitais é o secretário da Saúde, pois o grande
investimento no sector será no betão e no novo hospital e em projectos
que não são da sua conta...
Quem ainda não se apercebeu que tome
note. O líder efectivo do executivo madeirense não mora na Quinta Vigia.
Tanto pode ser quem não aparece mas pressionou, como quem dá mais nas
vistas, como o empresário, construtor e hoteleiro Avelino Farinha a quem
o eleito faz as vontades, a maior das quais a inequívoca AFAbetização
do XII Governo Regional, com um lema a fazer corar de vergonha aqueles
que num passado recente foram copiosamente cilindrados por muito menos:
Betonize-se e quem discordar, rua.
Tremendo que nem varas verdes,
sem argumentos políticos, nem explicações fundamentadas, Albuquerque
chamou quem quis sanear esquecendo-se que estes, se quiserem, fazem-lhe a
folha em três tempos. Talvez não o façam pois já devem saber das
cumplicidades negociadas e da predisposição dos acomodados em várias
bancadas ao lugar que, pelo menos até 2019, rende notoriedade e uns
trocos.
Na hora em que alguns se arriscam a deixar de contar para
uma maioria sempre em sentido, quem apregoa a necessidade urgente de
regeneração deveria ser consequente. Aliás, não deixa de ser sintomático
que só o PS-M pondere apresentar uma moção de censura. De que estão à
espera os que estão fartos de saber que perto de metade dos que votaram
na ‘Renovação’ em 2015 mudariam hoje o seu sentido de voto?
Quanto
ao Presidente, se não tem foco para o povo nem trabalha para o sucesso
do PSD-M o que anda aqui a fazer? Pensa ganhar com estas evidências?
* DIRECTOR
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
15/10/17
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