O problema do excesso
de sucesso (na economia)
Há riscos no excesso de optimismo como no excesso de pessimismo. Um sublinhado do FMI que se aplica bem à economia portuguesa.
Tal como no caso das eleições autárquicas, o governo de António Costa
arrisca ser aprisionado pela prosperidade conjuntural da economia. A
confiança gerada pelo crescimento da economia, do emprego e
especialmente pelo discurso e pela política económica seguida criam um
sério risco de se gerar um novo “boom” de endividamento e especulação,
no nosso caso centrado no imobiliário.
Este era o momento certo para se concretizarem as já cansativas
reformas estruturais. É óbvio que as políticas que promovem a eficiência
e que em geral têm como consequência a redução do emprego e a moderação
do crescimento deviam ser realizadas nos tempos de prosperidade.
Infelizmente não existem condições políticas para se concretizarem essas
mudanças. Vivemos em permanente campanha eleitoral, com o Governo e os
partidos que o suportam no concurso do “quem dá mais”, na expectativa de
segurarem e aumentarem o seu eleitorado.
Os sinais estão aí embora ninguém os queira ver. Durante esta semana
foram divulgados os dados relativos à concessão de novo crédito que
mostram como o endividamento das famílias assume um novo dinamismo. No
conjunto do crédito bancário, concedido em Agosto, o financiamento às
famílias representou 37% do total, o mais elevado desde 2006 como se pode ler aqui. Também em Agosto os depósitos caíram historicamente.
Na ausência de condições políticas, corremos um sério risco de voltar
a ter de agravar a crise quando ela chegar, como aconteceu em 2011.
Estamos constantemente a aplicar políticas pró-cíclicas, a agravar as
recessões por falta de financiamento; a alimentar os “boom” por ausência
de condições ou coragem política. Com o resgate de 2011 é a terceira
vez que pomos mais recessão em cima de recessão. E as oportunidades de
crescimento que tivemos revelaram-se incapazes de melhorar
estruturalmente a economia na dimensão que precisávamos.
O sucesso da solução governativa conseguida por António Costa acaba
por ser uma séria ameaça ao nosso futuro económico e financeiro. Quanto
mais tempo durar esta solução governativa mais riscos corremos, como
vemos pelo que se vai conhecendo do Orçamento do Estado para 2018.
O cenário político que melhor garantia um futuro menos arriscado
seria aquele que inicialmente se antecipava para este Governo: eleições
antecipadas com uma maioria absoluta do PS. Mas mais uma vez excesso de
sucesso de António Costa parece inviabilizar essa possibilidade. Os
resultados das eleições autárquicas dão aos partidos que apoiam o PS
todas as razões para não quererem antecipar eleições.
No seu último relatório sobre a economia mundial o FMI anuncia uma
acentuada recuperação da economia, com especial relevo para a Zona Euro,
mas alerta igualmente para os riscos associados ao excesso de optimismo
num quadro em que mais cedo ou mais tarde as taxas de juro começarão a
subir. Era neste futuro, de uma subida das taxas de juro que deveríamos
estar a pensar, designadamente pela dimensão da dívida que temos. Mas ao
optimismo geral estamos a acrescentar optimismo, tal como no passado
somámos pessimismo ao pessimismo.
IN "OBSERVADOR"
12/10/17
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