ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
"Muito gostaria que este email fosse intercetado."
Ex-administrador da PT ameaçou revelar o que sabia sobre Bava e Vasconcellos
Fernando Soares Carneiro, ex-administrador das sociedades da Portugal Telecom que investiram 75 milhões de euros em fundos da Ongoing, foi alvo de buscas na Operação Marquês por ter enviado, em Dezembro de 2013, um email ao ex-número dois do BES, com o conhecimento de Nuno Vasconcellos e Zeinal Bava, a queixar-se de ter a vida destruída e a ameaçar revelar tudo o que ainda não tinha sido contado.
“Muito gostaria que este email, tendo em conta os casos judiciais em
que os meus amigos estão envolvidos, fosse intercetado. Facilitaria em
muito a minha vida.” Assim terminava o email que Fernando Soares
Carneiro, ex-administrador das sociedades gestoras dos fundos de pensões
da Portugal Telecom, enviou a 6 de Dezembro de 2013 a Amílcar Morais
Pires, então diretor-financeiro do BES e braço-direito de Ricardo
Salgado, com o conhecimento de Zeinal Bava, então presidente da comissão
executiva da OI, e Nuno Vasconcellos, presidente da Ongoing.
.
Soares
Carneiro conseguiu o que queria. O email foi mesmo interceptado no
processo Monte Branco e acabou depois por ser transposto para a Operação
Marquês, levando a que o ex-administrador da PT fosse alvo de buscas. O
conteúdo do email levava o inspetor da Autoridade Tributária Paulo
Silva a suspeitar que Fernando Soares Carneiro poderia ter em sua posse
documentos relevantes para o processo.
Nesse email, em que
inscreveu como assunto “Ponto de situação”, Fernando Soares Carneiro
dirige o texto aos seus “amigos”, divaga sobre o conceito de amizade e
mostra-se desapontado com as suas próprias expetativas. Afinal, tinha a
vida destruída e nem sequer tinha conseguido ajuda financeira do Banco
Espírito Santo, apesar de a ter pedido diretamente a Amílcar Morais
Pires, lamentava. Sentia-se tratado como “um delinquente”, apesar de ter
sempre dado “provas várias e concretas de consideração pelo BES” e por
quem gravitava à sua volta, como “a Ongoing” e a “PT” – as mesmas
entidades que, escreve no email, lhe destruíram a vida.
De
seguida, o ex-administrador da PT dizia estar a fazer uma análise
crítica dos acontecimentos, nomeadamente ao BES e às entidades que,
dizia, parecendo diferente não o eram, como a Ongoing de Nuno
Vasconcellos.
E o email de desilusão e fúria continuou com
Fernando Soares Carneiro a assumir que não tinha dito toda a verdade
perante algumas instituições terceiras, como as comissões de inquérito
parlamentares, talvez apenas porque não lhe tinham sido feitas as
perguntas pertinentes e que envolviam as entidades referidas naquele
email e ainda outras. As verdades, essas, “se divulgadas, teriam (e
terão ainda) consequências bem mais graves do que se possa antecipar,
envolvendo todas as entidades”, entre elas a Portugal Telecom e a BES.
Prosseguindo no tom de ameaça, Soares carneiro dizia estar “muito bem
documentado e muito bem apoiado” para esclarecer “várias situações”.
Fernando
Soares Carneiro foi administrador das sociedades Previsão – Sociedade
Gestora de Fundos de Pensões e da PT Prestações e logo depois passou a
ser administrador do grupo Ongoing no Brasil. Demitiu-se da PT depois de
ser envolvido no escândalo Face Oculta, por ter sido apanhado em
escutas com Armando Vara sobre uma alegada tentativa de controlo da TVI,
mas já antes tinha sido empurrado para a porta de saída por Henrique
Granadeiro, à data presidente executivo da PT, depois de se saber que as
sociedades gestoras dos fundos de pensões da PT que geria tinham
investido 75 milhões de euros em empresas da Ongoing, o acionista que
tinha entrado na PT pela mão do BES, na altura da OPA falhada da
Sonaecom.
Soares Carneiro foi chamado à Comissão Parlamentar de
Inquérito que investigou as tentativas de controlo da TVI e sempre negou
que os milhões investidos na Ongoing servissem para financiar a compra
por parte da Ongoing de uma posição na Media Capital, dona daquele canal
de televisão.
Chamado a testemunhar no processo Marquês, Vítor
Sequeira, que também foi administrador da PT Previsão, disse a 8 de
Fevereiro de 2017 que duvidava que Pacheco de Melo ou Fernando Soares
Carneiro tivessem tomada a iniciativa de investir em fundos geridos pelo
grupo Ongoing por si próprios. E ainda contou que perante um
desentendimento entre as pessoas que tinham dado a ordem ou que estavam a
par do investimento foi montado “um show-off” tendo sido necessário
arranjar “um sacrificado” e esse sacrificado tinha sido “o Carneiro”.
* Já nada nos espanta, a vigarice não tem tamanho.
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