Despertares
«O que é que aquela fez para estar ali?» Vem-me à cabeça uma das frases do
Kennedy: «não perguntem o que seu país pode fazer por vocês - mas o que
vocês podem fazer pelo seu país». Uma frase que se tornou num lema de
vida para muita gente. Gente que não espera à sombra da bananeira que as
coisas lhes caiam do céu.
O
calendário está a passar demasiado depressa. Ainda ontem discutíamos a
mudança do nome do aeroporto, chorávamos os mortos de novos atentados,
criticávamos correntes contrárias ao pensamento humanitário de acolher
foragidos, bradávamos de peito aberto por um ferry, reivindicávamos um
hospital, acenávamos com a bandeira da valorização da vida humana e da
qualidade social.
Os incêndios, assassinatos, quedas de árvores, os acidentes, fizeram mais mortos. A indignação contra o absurdo, o inesperado, o impensável fez correr demasiada tinta. Fez com que se vomitasse demasiada raiva acumulada e se atirasse pedras a torto e a direito. Porque o ser humano tem defeitos e um deles é ferver em pouca água, não olhando a meios para atingir os fins, mesmo que os seus propósitos sejam apenas o de enxovalhar só porque sim. Só porque apetece descarregar em alguém. Que se lixem os danos colaterais... Que se lixe o mexilhão...
Milhares de informações circulam neste mundo inesgotável dos acontecimentos. Rimos (talvez de vergonha) com a lição de um humorista que ensinou os portugueses (principalmente a classe jornalística) a verificar, comparar, perceber e só depois informar e concluir.
Faz-se contas à vida. A escola está a começar. Cerca de 270 euros só para manuais escolares do 11º ano! Como é possível? E faltam os cadernos, os blocos de desenho, as sapatilhas e tudo o resto que é preciso para que os miúdos tenham as condições necessárias para aprender. Que vão aprender?
270 euros só para livros e até que não são muitos. Manuais, material de apoio, cadernos de atividades disto e daquilo, cd’s, etc. Há tempo para tudo? Este tremendo esforço financeiro das famílias é devidamente utilizado nas escolas?
E ainda se riem aqueles que se manifestam contra as ofertas de manuais escolares! Não lhes sai do bolso, com certeza. Ou se sai, são apenas uns trocados. Aqui há uns tempos, estava agendada uma discussão no parlamento regional para que o governo suportasse os encargos com os manuais escolares. Não houve interesse, nem tempo. Aprovaram um regulamento qualquer para camiões... enfim, prioridades...
Na correria para encontrar livros em segunda mão, passo com a miúda numa das muitas cidades desta ilha. As ruas estão pejadas de cartazes de todos os tamanhos e feitios. A atenção prende-se no rosto de uma moça.
«O que é que aquela fez para estar ali?» A pergunta fica no ar para ouvirmos um discurso completamente atabalhoado de alguém que, na rádio, tentava explicar que era melhor que os outros e que por isso merecia o voto dos eleitores. Grande justificação! Nesta altura, todos são bons, mesmo que não saibam falar.
«O que é que aquela fez para estar ali?» Vem-me à cabeça uma das frases do Kennedy: «não perguntem o que seu país pode fazer por vocês - mas o que vocês podem fazer pelo seu país». Uma frase que se tornou num lema de vida para muita gente. Gente que não espera à sombra da bananeira que as coisas lhes caiam do céu. Gente que não hesita em pegar na cana e começar a pescar. Gente que faz e que vai à luta. Gente que em vez de virar estrela em tesourinhos deprimentes sobre o mau estado dos jardins, pega na mangueira e vai regar as plantas.
Gente que em vez de gastar mais de 9 mil euros públicos (ajuste direto) por um serviço de jantar, pega no dinheiro e veste umas quantas paredes de um hospital que está a cair aos pedaços. Gente que em vez de estoirar 8.500 euros em autocarros turísticos para comitivas convidadas de outro continente (cujo retorno é duvidoso), pega nesse dinheiro e compra umas latas de tinta para pintar as paredes do tal hospital que está a cair aos pedaços.
Agora na rádio fala-se numa frente mar, nas contas, nas dúvidas, nas suspeitas de agora, como se o ontem não tivesse existido. Imagino os sustos que duas ou três pessoas têm apanhado sempre que vem à baila a situação desta empresa. A memória é curta e para aqueles que se esqueceram (ou não testemunharam) as irregularidades, os processos, as denúncias, os afastamentos e os puxões de orelhas, o Google ajuda. Telhados de vidro todos têm. Há é que saber jogar a pedrinha certa e não o boomerang.
«O que é que aquela fez para estar ali?»
Conheço-a bem, tal como conheço tantos outros que hoje ocupam lugares bem remunerados e decisivos, tendo apenas utilizado a mesma técnica. Têm um cartão muito bonito que dá descontos, promoções e prémios fantásticos.
O gap geracional toma conta da conversa com uma centennial (Geração Z) que não entende como é possível que a falta de mérito e de qualidade persistam nos dias de hoje.
Ai... Se soubesses...
Daqui a pouco tempo já vota. Agora é tempo de regressar à escola e de aprender que o esforço, a competência e o mérito são as palavras-chave do futuro.
Os despertares são sempre confusos...
Os incêndios, assassinatos, quedas de árvores, os acidentes, fizeram mais mortos. A indignação contra o absurdo, o inesperado, o impensável fez correr demasiada tinta. Fez com que se vomitasse demasiada raiva acumulada e se atirasse pedras a torto e a direito. Porque o ser humano tem defeitos e um deles é ferver em pouca água, não olhando a meios para atingir os fins, mesmo que os seus propósitos sejam apenas o de enxovalhar só porque sim. Só porque apetece descarregar em alguém. Que se lixem os danos colaterais... Que se lixe o mexilhão...
Milhares de informações circulam neste mundo inesgotável dos acontecimentos. Rimos (talvez de vergonha) com a lição de um humorista que ensinou os portugueses (principalmente a classe jornalística) a verificar, comparar, perceber e só depois informar e concluir.
Faz-se contas à vida. A escola está a começar. Cerca de 270 euros só para manuais escolares do 11º ano! Como é possível? E faltam os cadernos, os blocos de desenho, as sapatilhas e tudo o resto que é preciso para que os miúdos tenham as condições necessárias para aprender. Que vão aprender?
270 euros só para livros e até que não são muitos. Manuais, material de apoio, cadernos de atividades disto e daquilo, cd’s, etc. Há tempo para tudo? Este tremendo esforço financeiro das famílias é devidamente utilizado nas escolas?
E ainda se riem aqueles que se manifestam contra as ofertas de manuais escolares! Não lhes sai do bolso, com certeza. Ou se sai, são apenas uns trocados. Aqui há uns tempos, estava agendada uma discussão no parlamento regional para que o governo suportasse os encargos com os manuais escolares. Não houve interesse, nem tempo. Aprovaram um regulamento qualquer para camiões... enfim, prioridades...
Na correria para encontrar livros em segunda mão, passo com a miúda numa das muitas cidades desta ilha. As ruas estão pejadas de cartazes de todos os tamanhos e feitios. A atenção prende-se no rosto de uma moça.
«O que é que aquela fez para estar ali?» A pergunta fica no ar para ouvirmos um discurso completamente atabalhoado de alguém que, na rádio, tentava explicar que era melhor que os outros e que por isso merecia o voto dos eleitores. Grande justificação! Nesta altura, todos são bons, mesmo que não saibam falar.
«O que é que aquela fez para estar ali?» Vem-me à cabeça uma das frases do Kennedy: «não perguntem o que seu país pode fazer por vocês - mas o que vocês podem fazer pelo seu país». Uma frase que se tornou num lema de vida para muita gente. Gente que não espera à sombra da bananeira que as coisas lhes caiam do céu. Gente que não hesita em pegar na cana e começar a pescar. Gente que faz e que vai à luta. Gente que em vez de virar estrela em tesourinhos deprimentes sobre o mau estado dos jardins, pega na mangueira e vai regar as plantas.
Gente que em vez de gastar mais de 9 mil euros públicos (ajuste direto) por um serviço de jantar, pega no dinheiro e veste umas quantas paredes de um hospital que está a cair aos pedaços. Gente que em vez de estoirar 8.500 euros em autocarros turísticos para comitivas convidadas de outro continente (cujo retorno é duvidoso), pega nesse dinheiro e compra umas latas de tinta para pintar as paredes do tal hospital que está a cair aos pedaços.
Agora na rádio fala-se numa frente mar, nas contas, nas dúvidas, nas suspeitas de agora, como se o ontem não tivesse existido. Imagino os sustos que duas ou três pessoas têm apanhado sempre que vem à baila a situação desta empresa. A memória é curta e para aqueles que se esqueceram (ou não testemunharam) as irregularidades, os processos, as denúncias, os afastamentos e os puxões de orelhas, o Google ajuda. Telhados de vidro todos têm. Há é que saber jogar a pedrinha certa e não o boomerang.
«O que é que aquela fez para estar ali?»
Conheço-a bem, tal como conheço tantos outros que hoje ocupam lugares bem remunerados e decisivos, tendo apenas utilizado a mesma técnica. Têm um cartão muito bonito que dá descontos, promoções e prémios fantásticos.
O gap geracional toma conta da conversa com uma centennial (Geração Z) que não entende como é possível que a falta de mérito e de qualidade persistam nos dias de hoje.
Ai... Se soubesses...
Daqui a pouco tempo já vota. Agora é tempo de regressar à escola e de aprender que o esforço, a competência e o mérito são as palavras-chave do futuro.
Os despertares são sempre confusos...
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
06/09/17
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