HOJE NO
"O JORNAL ECONÓMICO"
Como funcionam
os caçadores de tendências
As tendências são mudanças e alterações com capacidade de influenciar as dinâmicas dos negócios e o comportamento dos consumidores. O tema está na agenda de empresas e universidades. Olhar as tendências ajuda a reduzir a margem de erro das decisões.
Para Luis Rasquilha, professor e Consultor de Futuro, Tendências e
Inovação, as tendências são definidas “como mudanças e alterações com
capacidade de influenciar as dinâmicas dos negócios e o comportamento
dos consumidores”. Segundo este especialista podem estruturar-se em três
grandes grupos: mega tendências, tendências comportamentais ou
tendências de negócio.
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O primeiro são movimentos e mudanças em termos sociais,
económicos, políticos e tecnológicos, que se manifestam de forma
consistente na realidade atual e que influenciarão decisivamente o
futuro (prazo a 10 anos).
O segundo grupo são processos de mudança, que resultam da
observação do comportamento dos consumidores o que origina a criação e o
desenvolvimento de novas ideias: de negócio, de produto ou serviço, de
marca ou de ação (prazo entre três a cinco).
As tendências de negócio são mudanças no mercado resultantes da
atuação dos ‘players’, do comportamento dos consumidores e das
realidades económicas, políticas e sociais, que influenciam a forma como
as empresas tomam decisões seus negócios, considerando áreas de atuação
e apostas estratégicas para o futuro (um a três anos).
“Cada vez mais o tema está na agenda de empresas e universidades.
A forma de descobrir tendências tem também evoluído ao longo dos tempos
com a construção de novas abordagens metodológicas que suportam o
conhecimento produzido. Para uma visão futura das ‘megatrends’
recorre-se bastante às metodologias de prospectiva e ‘foresight’ onde se
analisam sinais, mudanças, avanços, conteúdos e de forma integrada se
correlacionam as informações e com isso se identificam essas mudanças.
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As tendências comportamentais são identificadas através da metodologia
de ‘coolhunting’ que observa comportamentos de grandes quantidades de
consumidores em diversos lugares do mundo e se tenta identificar padrões
comportamentais. E as tendências de negócio identificam-e através dos
labs de inovação em que as empresa testam e desenvolvem iniciativas de
transformação do conhecimento gerado nos layers anteriores em produtos,
serviços, soluções”, explica Luis Rasquilha.
Como se identificam tendências
O processo de identificação de tendências começa na monitorização
do ambiente competitivo. “Assim vamos ter, grosso modo, Tendências
Políticas, Económicas, Sociais, Tecnológicas, Ambientas e Legais. Esta é
uma das responsabilidades de um profissional de Competitive
Intelligence (CIP), que vai analisar o que se está a passar nesta áreas e
informar a empresa se as mesmas representam oportunidades que é preciso
aproveitar, ou ameaças que é preciso mitigar”, afirma Luis Madureira,
da Uberbrands.
Nesta monitorização utilizam-se todo o tipo de ferramentas, sendo
que recentemente tem-se recorrido ao ‘Social Web Listening’, em
acréscimo dos Media Tradicionais e Digitais para identificar estas novas
manifestações. Além destas ferramentas utilizam-se ‘Trend Scouts’,
pessoas com sensibilidade para a observação de novas manifestações ou
atitudes perante a vida, e que se movem nos epicentros de onde
normalmente vêm as tendências.
“Se passearmos pela a zona leste de Londres, ou Tribeca em Nova
Iorque, podemos observar em primeira mão estas manifestações que
passados alguns meses, às vezes anos depois chegam a Portugal. O exemplo
dos Coffee Shops, que começaram a entrar no mercado de massas com o
Starbucks nos Estados Unidos e que depois se alargou ao Reino Unido com
as cadeias do Costa Coffee, Nero Coffee, e mais tarde chegou a Portugal,
através de estas insígnias ou outras”, acrescenta o especialista.
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Outro exemplo, sublinha Luis Madureira, tem a ver com a cultura
Hipster (homems normalmente com barba cuidadas, que se vestem a rigor,
usando acessórios que tinham caído em desuso mas de caracter ‘vintage’,
ou com uma história por detrás, sofisticados mas de uma maneira não
convencional). “Se olharmos com mais atenção, houve várias manifestações
que deram lugar a este movimento, nomeadamente o DIY do inglês Do it
Yourself / Faça Você Mesmo que leva a um sentido de exclusividade, ou
seja sair do padrão comum, e que levou a que os homens começassem à
procura de maneiras de se diferenciar dos restantes. A tendência do
Craft também acaba por estar ligada a esta tendência pois ao construir,
ou modificarem eles próprios os seus acessórios ou motos (clássicas e
modernas), estão a criar um visual único e hip (daí a palavra Hipster)”,
diz.
O significado para as empresas
Sobre a importância deste tipo de trabalho para as empresas e o
que pode acrescentar à operação e à percepção do mercado, o especialista
da Uberbrands diz que “a maior parte dos gestores não tem isto presente
mas, no mundo VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) em que
vivemos, só um trabalho contínuo e em tempo-real de ‘Competitive
Intelligence’, que começa exactamente na monitorização do ambiente
competitivo lhes permitirá inovar antes dos seus concorrentes e
aproveitar oportunidades que ainda ninguém identificou”. Estas
capacidades torna-se numa vantagem competitiva a longo-prazo e
dificilmente será copiada. A reputação de inovador está intimamente
ligada a ser o primeiro a inovar. “Vejam o caso da Apple e como a
empresas consegue inovar um várias indústrias ao longo do tempo (PCs,
música, leitores de MP3, telemóveis, E-Commerce, Big Data, etc)”.
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Com esta capacidade de ‘Competitive Intelligence’ e a inerente
capacidade de identificar tendências, que podem ser oportunidades ou
ameaças, vem a sustentabilidade dos negócios a longo-prazo, assim como a
construção de vantagens competitivas que são difíceis de igualar ou
anular pelos concorrentes. Luis Madureira dá exemplo da Kodak, que
inclusive inventou a fotografia digital mas que não conseguiu
capitalizar quer na identificação da tendência, quer na modelização da
sua invenção. “A inovação deu-se quando a fotografia digital foi
introduzida no mercado com impacto financeiro, ou seja, lucro”,
acrescenta.
“No momento de transformação que vivemos, com elevada influência
da tecnologia e da mudança do comportamento humano, cada vez mais olhar
as tendências ajuda a reduzir a margem de erro das decisões. Uma vez que
as tendências se focam no futuro e nas mudanças, elas dão cenários para
que as empresas possam melhor conhecer o que vem pela frente. É hoje
uma ferramenta bastante útil na definição das políticas estratégicas de
uma empresa, na forma de construir relacionamentos com os mercados e no
final de melhorar a performance no mercado”, conclui Luis Rasquilha,
professor e Consultor de Futuro, Tendências e Inovação.
* A nossa definição de "caça à tendência":
Ora vamos lá a ver o que agora te aborrece para te impingirmos coisas que só te vão aborrecer daqui a seis meses. Puro consumismo!
..
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