HOJE NO
"SOL"
Construção dá sinais de alívio
A reabilitação urbana está a puxar pelo setor, que começa a sair da crise. Apesar dos sinais positivos, as associações afastam aumentos de 70 a 100 euros pedidos pelos sindicatos.
0 setor da construção começa a dar sinais de recuperação,
impulsionado, em grande parte, pelo mercado da reabilitação urbana, que
só em maio cresceu 22%. As associações contactadas pelo SOL começam a
suspirar de alívio depois de um longo período de recessão e acreditam
que a atividade deverá consolidar-se nos próximos meses.
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«A atividade da construção e a reabilitação têm uma componente
cíclica e, nesse sentido, depois de um longo período de recessão, era
expectável a inversão da conjuntura e o início de uma fase de
recuperação sustentada que se deverá consolidar nos próximos meses»,
revela o presidente da Associação de Empresas de Construção e Obras
Públicas e Serviços (AECOPS).
Esta subida resulta não só do acréscimo da procura de casas
reabilitadas, mas também do aumento do investimento neste segmento de
atividade. «O aumento da procura decorre, por um lado, da ligeira
melhoria da conjuntura económica nacional, com a subida do rendimento, a
redução do desemprego e a expansão do crédito à habitação com taxas de
juro e spreads reduzidos», diz o responsável, justificando esta
tendência também com o aumento da procura externa e do número crescente
de estrangeiros que procuram adquirir casa em Portugal. «É um movimento
que acompanha o forte crescimento do turismo, que, por sua vez, também
torna atraente o investimento em casas reabilitadas para aluguer
temporário», salienta Ricardo Gomes.
Uma opinião partilhada pelo presidente da AICCOPN que, no entanto,
lembra que esta dinâmica é mais expressiva em determinadas zonas das
grandes cidades, em especial de Lisboa e do Porto. Reis Campos acredita
que ainda há muito espaço para crescer nestas duas cidades, uma vez que a
reabilitação urbana ainda é um fenómeno localizado. «A reabilitação
ainda está longe de atingir a escala e, sobretudo, a abrangência
territorial necessárias. Trata-se de um mercado que, de acordo com as
nossas estimativas, ascende a 24 mil milhões de euros», diz o
responsável e, por isso, mesmo defende que as necessidades ainda são
muitas.
Ainda assim, Reis Campos lembra que este setor representa cerca de
10% do mercado da construção e para que haja uma recuperação em pleno é
necessário que haja um maior investimento público neste mercado. «O
investimento em construção é uma componente estruturante da economia
portuguesa e, a exemplo do que se passa na generalidade das economias,
corresponde a mais de metade a 50,5% do investimento total nacional.
Cabe aqui o investimento público em infraestruturas, o investimento
empresarial em áreas tão diversas como o turismo e a indústria, e o
investimento em habitação», acrescenta.
Mais otimista está Ricardo Gomes, ao defender que a reabilitação
urbana irá funcionar como principal motor da construção e suporte de uma
recuperação sustentada do conjunto do setor. «O crescimento da
reabilitação é, regra geral, auto-sustentado, ou seja, quantos mais
edifícios reabilitados e espaços envolventes revitalizados, maior a
valorização dos investimentos e das casas e, por consequência, maior a
procura de habitação e o investimento», salienta ao SOL.
Recuperar terreno perdido
A crise da construção portuguesa foi a maior e mais prolongada da
zona euro, com uma redução de cerca de 50% na produção e no emprego nos
últimos quinze anos. No entanto, para as associações do setor esses
argumentos ainda não são suficientes para responder às exigências dos
sindicatos do setor que têm pedido aumentos salariais de 70 a 100 euros.
Apesar de admitir que a crise da construção penalizou fortemente os
trabalhadores e as empresas – com destruição de emprego e de empresas, a
par da redução do rendimento e dos salários – Ricardo Gomes defende que
não sejam tomadas medidas que comprometam a saída da crise.
«Agora que o setor dá os primeiros sinais de recuperação, é
indispensável criar as condições para a sua recuperação sustentada,
evitando uma subida acentuada dos custos, dos preços e o surgimento de
bolhas imobiliárias que comprometam a saída da crise. Neste contexto, o
aumento dos salários deve acompanhar o crescimento da produtividade, sob
pena de vir a comprometer a recuperação económica do setor e do próprio
emprego», diz o responsável.
Já Reis Campos lembra que o emprego no setor tem vindo a crescer de
forma contínua nos últimos oito trimestre, tendo já gerado 42 mil postos
de trabalho. «Já transmitimos ao Sindicato que qualquer aumento
salarial deveria ser perspetivado no âmbito de uma revisão global das
condições previstas na contratação coletiva de trabalho», acrescentando
ainda que «é um exercício que estamos dispostos a fazer, sem perder de
vista que discutir aumentos nominais de salários sem acautelar aumentos
proporcionais de competitividade é colocar as empresas e o emprego em
risco».
As duas associações admitem ainda que muitos dos trabalhadores que
foram para fora devido à crise do setor em Portugal já estão de
regresso, principalmente depois das dificuldades vividas em alguns
países, como Angola. No entanto, garantem que a presença externa
continua e está a alargar-se para áreas com elevado potencial, como é o
caso da América Latina e de países como o Peru, a Colômbia e o Chile,
que estão a apresentar uma dinâmica bastante favorável.
* Os trabalhadores portugueses regressados de Angola não vieram dum país, mas dum covil de malfeitores. Ficamos satisfeitos com a recuperação lenta mas gradual do sector.
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