25/06/2017

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HOJE NO 
"SOL"

Construção dá sinais de alívio

A reabilitação urbana está a puxar pelo setor, que começa a sair da crise. Apesar dos sinais positivos, as associações afastam aumentos de 70 a 100 euros pedidos pelos sindicatos.

0 setor da construção começa a dar sinais de recuperação, impulsionado, em grande parte, pelo mercado da reabilitação urbana, que só em maio cresceu 22%. As associações contactadas pelo SOL começam a suspirar de alívio depois de um longo período de recessão e acreditam que a atividade deverá consolidar-se nos próximos meses.
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«A atividade da construção e a reabilitação têm uma componente cíclica e, nesse sentido, depois de um longo período de recessão, era expectável a inversão da conjuntura e o início de uma fase de recuperação sustentada que se deverá consolidar nos próximos meses», revela o presidente da Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas e Serviços (AECOPS).

Esta subida resulta não só do acréscimo da procura de casas reabilitadas, mas também do aumento do investimento neste segmento de atividade. «O aumento da procura decorre, por um lado, da ligeira melhoria da conjuntura económica nacional, com a subida do rendimento, a redução do desemprego e a expansão do crédito à habitação com taxas de juro e spreads reduzidos», diz o responsável, justificando esta tendência também com o aumento da procura externa e do número crescente de estrangeiros que procuram adquirir casa em Portugal. «É um movimento que acompanha o forte crescimento do turismo, que, por sua vez, também torna atraente o investimento em casas reabilitadas para aluguer temporário», salienta Ricardo Gomes.

Uma opinião partilhada pelo presidente da AICCOPN que, no entanto, lembra que esta dinâmica é mais expressiva em determinadas zonas das grandes cidades, em especial de Lisboa e do Porto. Reis Campos acredita que ainda há muito espaço para crescer nestas duas cidades, uma vez que a reabilitação urbana ainda é um fenómeno localizado. «A reabilitação ainda está longe de atingir a escala e, sobretudo, a abrangência territorial necessárias. Trata-se de um mercado que, de acordo com as nossas estimativas, ascende a 24 mil milhões de euros», diz o responsável e, por isso, mesmo defende que as necessidades ainda são muitas.

Ainda assim, Reis Campos lembra que este setor representa cerca de 10% do mercado da construção e para que haja uma recuperação em pleno é necessário que haja um maior investimento público neste mercado. «O investimento em construção é uma componente estruturante da economia portuguesa e, a exemplo do que se passa na generalidade das economias, corresponde a mais de metade a 50,5% do investimento total nacional. Cabe aqui o investimento público em infraestruturas, o investimento empresarial em áreas tão diversas como o turismo e a indústria, e o investimento em habitação», acrescenta.

Mais otimista está Ricardo Gomes, ao defender que a reabilitação urbana irá funcionar como principal motor da construção e suporte de uma recuperação sustentada do conjunto do setor. «O crescimento da reabilitação é, regra geral, auto-sustentado, ou seja, quantos mais edifícios reabilitados e espaços envolventes revitalizados, maior a valorização dos investimentos e das casas e, por consequência, maior a procura de habitação e o investimento», salienta ao SOL.
Recuperar terreno perdido

A crise da construção portuguesa foi a maior e mais prolongada da zona euro, com uma redução de cerca de 50% na produção e no emprego nos últimos quinze anos. No entanto, para as associações do setor esses argumentos ainda não são suficientes para responder às exigências dos sindicatos do setor que têm pedido aumentos salariais de 70 a 100 euros.

Apesar de admitir que a crise da construção penalizou fortemente os trabalhadores e as empresas – com destruição de emprego e de empresas, a par da redução do rendimento e dos salários – Ricardo Gomes defende que não sejam tomadas medidas que comprometam a saída da crise.

«Agora que o setor dá os primeiros sinais de recuperação, é indispensável criar as condições para a sua recuperação sustentada, evitando uma subida acentuada dos custos, dos preços e o surgimento de bolhas imobiliárias que comprometam a saída da crise. Neste contexto, o aumento dos salários deve acompanhar o crescimento da produtividade, sob pena de vir a comprometer a recuperação económica do setor e do próprio emprego», diz o responsável.

Já Reis Campos lembra que o emprego no setor tem vindo a crescer de forma contínua nos últimos oito trimestre, tendo já gerado 42 mil postos de trabalho. «Já transmitimos ao Sindicato que qualquer aumento salarial deveria ser perspetivado no âmbito de uma revisão global das condições previstas na contratação coletiva de trabalho», acrescentando ainda que «é um exercício que estamos dispostos a fazer, sem perder de vista que discutir aumentos nominais de salários sem acautelar aumentos proporcionais de competitividade é colocar as empresas e o emprego em risco».

As duas associações admitem ainda que muitos dos trabalhadores que foram para fora devido à crise do setor em Portugal já estão de regresso, principalmente depois das dificuldades vividas em alguns países, como Angola. No entanto, garantem que a presença externa continua e está a alargar-se para áreas com elevado potencial, como é o caso da América Latina e de países como o Peru, a Colômbia e o Chile, que estão a apresentar uma dinâmica bastante favorável.

* Os trabalhadores portugueses regressados de Angola não vieram dum país, mas dum covil de malfeitores. Ficamos satisfeitos com a recuperação lenta mas gradual do sector.

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